Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Penguin Random House compra editora Santillana

A Penguin Random House – maior grupo editorial do mundo controlado pela britânica Pearson e pela alemã Berteslmann – adquiriu o negócio de literatura (obras gerais) da Santillana no Brasil, Espanha, Portugal e outros países de língua espanhola. No país, a transação envolveu ainda a compra da totalidade da editora Objetiva, que teve 75% do seu capital vendido à Santillana em 2005.

O valor do negócio – que não envolve a área de educação – não foi divulgado. Mas segundo fontes do setor, a aquisição é estimada em torno de € 90 milhões. Essa era a quantia negociada até o ano passado. Os selos editoriais da Santillana são cobiçados há pelo menos dois anos. Antes de associar à Penguin no fim de 2012, a Random House já feito propostas ao grupo espanhol, mas as conversas foram interrompidas devido à fusão com a editora da Pearson.

A Santillana também não revela dados detalhados das vendas de seus livros. A receita desse negócio é computada junto com o faturamento da área de educação, que foi de € 738 milhões no ano passado. Mas sabe-se que a maior parte deste montante vem do segmento de educação. No Brasil, o mercado mais relevante para a Santillana na área de ensino, a receita foi de € 232 milhões, sendo que os selos editorias representaram cerca de 10%.

A operação brasileira da Penguin Random House será comandada por Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras. No ano passado, a Pearson adquiriu 45% da Companhia das Letras, tornando-se a controladora da editora. Os outros 55% estão divididos entre Schwarcz e sua esposa Lilia Moritz (que juntos detém dois terços dessa fatia), e Fernando Moreira Salles, da família fundadora do Unibanco.

Crise financeira

Questionado se a Penguim tem interesse em aumentar a participação na Companhia das Letras, Schwarcz disse que não há nada formalizado nesse sentido. “Acho que tudo depende do relacionamento, que hoje é bom. Mas tanto a Penguim pode aumentar a participação na Companhia das Letras, como esta também pode recomprar os 45% vendidos”, explicou o editor.

Fundador da Objetiva, Roberto Feith, continua à frente de sua editora. “Meu futuro dentro da companhia será o mesmo de hoje. Acredito que o ganho para a Objetiva se dará por meio da experiência da Penguim Random”, disse Feith.

No mundo, a Penguin Random House detém cerca de 30% do mercado de livros por meio dos seus 250 selos editoriais e 1,5 mil títulos. O faturamento do grupo editoria é de aproximadamente € 1,5 bilhão. A Santillana, por sua vez, é líder nos países de língua espanhola, com destaque para o selo Alfaguara que tem entre seus títulos as obras de Mario Vargas Llosa.

No Brasil, o novo grupo editorial chega com um amplo portfólio de selos como Companhia das Letras, Alfaguara, Objetiva, Fontanar, entre outros. Feith destacou o mercado editorial brasileiro. “O Brasil está, felizmente, na contramão do que ocorre no mundo. As grande redes de livrarias estão crescendo. Não é uma opinião, mas um fato. Estamos vendo o fechamento de várias livrarias no mundo, mas aqui o mercado está em expansão”, disse o fundador da editora Objetiva.

“Ficamos muito felizes que a primeira aquisição internacional de Penguin Random House seja o prestigioso grupo de selos de interesse geral de Santillana. A operação atende aos nossos dois principais objetivos estratégicos: fortalecer nosso compromisso com a publicação de livros em língua espanhola, incrementando nosso potencial comercial e literário em um dos mercados linguísticos mais dinâmicos do mundo, e estabelecer uma forte presença no Brasil”, informou Markus Dohle, diretor geral da Penguin Random House, por meio de comunicado, feito ontem em Madri, na Espanha.

Os selos infanto-juvenis da Santillana, como Salamandra e iD, não foram vendidos. Isso porque o grupo espanhol tem como estratégia continuar trabalhando com esse público em idade escolar. Dentro de sua reestruturação, que vem sendo promovida há alguns anos, o grupo Prisa está focando o setor de educação que já representa a segunda maior operação, perdendo apenas para o negócio de TV. O grupo espanhol é dono de várias emissoras na Espanha.

Nos últimos anos, o grupo Prisa vem passando por uma grave crise financeira. Em 2013, teve prejuízo de quase €650 milhões, aumento de 154% em relação ao ano anterior.

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Beth Koike e Diogo Martins, do Valor Econômico