Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A importação indevida

Hugo Chávez está radicalizando, este é o mote que percorre os editoriais dos nossos jornais, as análises dos comentaristas políticos e a blogosfera palpiteira. É fato: o caudilho venezuelano apostou no confronto e agora está colhendo a safra de ressentimentos que plantou ao longo de quase uma década.


Autoritário, desperdiçou alianças, fechou as portas para a formação de blocos democráticos, perdeu fiéis companheiros, cada vez mais solitário. Sua obsessiva cruzada antimídia trabalha contra os seus próprios interesses porque, ao apertar as roscas da repressão, torna quase impossível lembrar que a conspiração para derrubá-lo em 2002 nasceu num poderoso grupo midiático hoje convertido em aliado de seu governo (ver ‘Chávez e a mídia, raízes do conflito‘).


Cedo ou tarde


Este quadro delirante, porém, não deve servir de pretexto para que a corporação midiática brasileira transfira para cá as tensões do país vizinho. Cada caso é um caso: o furor ‘bolivariano’ contra a imprensa não é uniforme. O casal Kirchner conviveu muito bem – bem demais – com a mesma estrutura midiática que resolveu pulverizar quando percebeu o seu desgaste político.


Forçar semelhanças na base de etiquetas generalistas é um recurso antijornalístico, culturalmente reacionário, porque converte o cidadão num escravo das simplificações.


Da mesma forma, a vitória de Sebastián Piñera no Chile não significa o nascimento de uma ‘nova direita’ no continente. O poderoso empresário dificilmente derrubará a sólida estrutura estabelecida ao longo das duas décadas de social-democracia. Nem está interessado nisso.


Chávez não está conseguindo acabar com os últimos resquícios de liberdade de expressão em seu país, o chavismo está desabando como acontece mais cedo ou mais tarde com todos os regimes discricionários Mas estes são dados circunscritos à Venezuela e não podem ser extrapolados nem exportados para outros ambientes. Pode parecer provocação.


Obama


Também é visivelmente artificial a impressão construída na mídia brasileira de que a administração Barack Obama está sendo um fracasso. O presidente americano está na Casa Branca há cerca de 370 dias, tem no mínimo outros 1460 para completar as mudanças que iniciou.


Na terça-feira (26/1), Obama teve a coragem de afirmar numa entrevista à rede ABC que prefere ser um presidente muito bom de apenas um mandato do que ser um medíocre de dois mandatos. Sua cruzada contra o capitalismo selvagem praticado pelos conglomerados financeiros já o coloca no grupo dos chefes de Estado excepcionais.