Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Crítica interna

11/10/06

Três informações importantes nas manchetes dos principais jornais: a primeira pesquisa pós-debate de domingo (Folha), embate eleitoral (‘Globo’ e ‘Estado’) e novidades sobre o dossiê dos Vedoin (‘Correio Braziliense’).

Folha – ‘Lula amplia vantagem sobre Alckmin’.

‘Estado’ – ‘PT intensifica tática do medo e Alckmin reage’.

‘Globo’ – ‘Corte de gastos abre nova frente na guerra presidencial’.

‘Correio Braziliense’ – ‘CPI: Berzoini mandou comprar o dossiê’. Manchete parecida com a do ‘Estado de Minas’, ‘Berzoini autorizou dossiê’.

Nos jornais econômicos: ‘Nakano abre polêmica sobre câmbio’ (‘Valor’) e ‘O futuro da economia gera duelo eleitoral’.

Eleições 2006

O jornal tinha condições de fugir do debate rasteiro das trocas de ofensas e dar um tratamento de nível para a discussão sobre cortes de despesas no Orçamento do próximo governo. O material que editou, no entanto, estava incompleto e ficou espalhado.

A palestra de Yoshiaki Nakano na UFRJ e as entrevistas que deu ontem, origem da discussão sobre cortes de gastos no governo Alckmin, foram ignoradas na Edição Nacional. Na Edição SP, aparecem apenas para explicar a reação de Alckmin aos ataques do PT – ‘Alckmin desautoriza assessor e nega cortes no Orçamento’ (pág. A8). O economista e ex-secretário de Fazenda de SP, um dos responsáveis pelo programa econômico de Alckmin, também defendeu mudança no câmbio, como está no ‘Valor’ e em outros jornais, mas não na Folha.

Todo este material combinava com o material exclusivo da Folha com o ministro do Planejamento de Lula, Paulo Bernardo – ‘Ministro do PT quer aumentar os cortes dos gastos sociais’ (pág. A19).

E o jornal ainda tinha, em ‘Dinheiro’, dois outros textos que complementariam a discussão: uma pequena repercussão às declarações de Nakano, ‘Economista critica propostas de Nakano’, na coluna ‘Mercado Aberto’ (pág. B2), e o artigo de Vinicius Torres Freire, ‘Alckmin: mais gestão, mais gastos’ (pág. B4).

A Primeira Página poderia ter amarrado melhor todo o material sobre Orçamento e gastos e deveria ter dado espaço, na chamada para os planos do ministro Paulo Bernardo, para as propostas de Nakano e as reações que provocaram.

Mais importante do que o noticiário carregado de metáforas de guerra é o detalhamento das propostas feito pelos economistas envolvidos nas duas campanhas e as análises das suas conseqüências nos próximos quatro anos.

O jornal perdeu uma grande oportunidade de dar um tratamento diferenciado e equilibrado a um dos pontos mais importantes do embate eleitoral.

Aliás, as declarações de vice-presidente do PSDB, Alberto Goldman, sobre a Petrobras – ‘Goldman diz que Petrobras privada lucraria mais’ – deveriam estar junto com o material sobre programas de governo e não na página A10 (na Edição Nacional), como box do noticiário sobre dossiê. Não dá para entender o critério jornalístico da edição. A entrevista com Goldman sumiu na Edição SP.

A Folha está passando ao largo de um novo escândalo eleitoral no Rio. O Ministério Público acusa onze candidatos de comprar votos. Entre os acusados está um dos mais votados para deputado federal, Geraldo Pudim, candidato do ex-governador Anthony Garotinho.

Dossiê

Outro problema na Edição Nacional: a notícia do dia sobre a CPI dos sanguessugas (‘CPI é marcada por discussão e tem votação adiada outra vez’) está no pé da página A12, enquanto o noticiário do dossiê – que tem tudo a ver com os sanguessugas – está na página A10.

A notícia mais importante sobre o dossiê está no ‘Correio Braziliense’ e no ‘Estado de Minas’ – segundo um deputado da CPI dos Sanguessugas ouviu do delegado que cuida do caso, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, não apenas sabia da trama para comprar o dossiê como teria dado sinal verde para levantar o dinheiro necessário.

A ver.

Coréia do Norte

O infográfico ‘Interesse em jogo’ não informa, na Edição Nacional (pág. A13), quantos soldados os Estados Unidos têm na Coréia do Sul.

Problema também no texto ‘Plano atômico não tem volta, diz líder do Irã’ (pág. A13) no trecho em que informa que a Coréia do Norte compunha o ‘eixo do mal’ de Bush ‘ao lado de Irã e Irã’.

‘Cotidiano’

A notícia mais importante da Prefeitura de São Paulo para os paulistanos está no ‘Estado’: ‘Kassab vai aumentar IPTU’. Segundo o jornal, a prefeitura vai elevar o valor venal dos imóveis para 70% do preço de mercado e, calcula, o IPTU poderá triplicar, por exemplo, na Vila Madalena.

‘Ilustrada’

Tom Zé, 70 anos, está nas capas de todos os cadernos culturais.

Na Folha, foi muito boa a idéia da entrevista, ‘Tom Zé, 70’, com perguntas dos parceiros. O espaço apertado da capa e da página E3, no entanto, tolheram a edição.

O PubliFolha já lançou ou está lançando um livro sobre o compositor, como parece indicar o anúncio da página E4? O interesse da Folha não impede a homenagem, mas deveria ter ficado claro na reportagem/entrevista.

O jornal poderia ter sido mais comedido nas fotos com flores – capa e E3 (Tom Zé) e E4 (o ator Bruce Gomlevsky). E ainda tem o Tom Zé no tal anúncio da E4.

Aviso

Amanhã, feriado, não haverá a Crítica Interna.



10/10/06

O teste nuclear da Coréia do Norte e o rescaldo do debate eleitoral de domingo dividem os altos das Primeiras Páginas dos principais jornais. As formulações dos títulos vão na mesma direção e nada acrescentam ao noticiário das rádios, TVs e web de ontem.

Teste nuclear

Folha – ‘ONU condena Coréia do Norte e estuda sanções’.

‘Estado’ – ‘ONU discute sanções à Coréia do Norte’.

‘Globo’ – ‘Teste deixa Coréia do Norte isolada’.

Debate

Folha – ‘Agressividade de Alckmin no debate surpreendeu Lula’.

‘Estado’ – ‘Surpreendido no debate, Lula acusa o golpe e ataca’.

‘Globo’ – ‘Surpreendido, Lula diz que reagirá a ataques de Alckmin’.

Segundo o ‘Valor’, a Comissão de Valores Mobiliários e a Securities and Exchange Comission investigam o uso de informações privilegiadas nas negociações para a frustrada compra da Perdigão pela Sadia. A manchete: ‘Autoridades investigam ´insider` em oferta da Sadia’. Não vi na Folha.

Dossiê

Depois de Elio Gaspari no domingo, hoje foi a vez de Gustavo Ioschpe (pág. A6) pedir desculpas por ter acusado Freud Godoy de estar envolvido na trama do dossiê dos Vedoin. É o segundo colunista da Folha que pede desculpas públicas. O jornal não deveria também se manifestar sobre o assunto?

Segundo o ‘Estado’, ‘Defesa muda versão de Gedimar para o caso – Alegação agora é que ex-agente da PF foi coagido a citar nome de Freud’. A ver.

‘Painel do Leitor’

Que o jornal entenda que seja importante publicar a carta de um leitor com críticas ao deputado eleito Clodovil Hernandes, acho justificável. Hernandes tem cargo público a partir de agora e está sujeito às críticas dos leitores. O ‘PL’ é exatamente para isso, para os comentários dos leitores. Mas o título da carta – ‘Clodô vil’ –, responsabilidade do jornal, não deveria ser uma agressão ao criticado. Fica entendido que também a Folha o considera vil. É isso?

Debate

A Folha e seus principais concorrentes exploraram bem, nas edições de hoje, os erros e omissões dos dois candidatos durante o debate eleitoral de domingo. Os levantamentos feitos pelos jornais mostram como os dois candidatos cometeram erros e como trataram mal vários temas relevantes. Estes questionamentos e as informações que geram acabam sendo mais importantes do que a narrativa do debate. Nem sempre o (e)leitor percebe na hora as bravatas e erros dos candidatos.

Entre os temas eleitos pela Folha para explorar na edição de hoje, faltou um importante, o das críticas de Lula ao presidente Bush. Segundo o ‘Globo’, diplomatas dos Estados Unidos criticaram o presidente brasileiro por chamar de ‘bravata’ e ‘barbárie’ a guerra contra o Iraque. A Folha também deveria ter buscado uma repercussão.

Teste nuclear

A Folha se recuperou hoje na cobertura do teste nuclear da Coréia do Norte, assunto subestimado na Primeira Página de ontem.

O jornal volta a usar, na abertura da reportagem principal (‘Bush ameaça Pyongyang com sanções’, pág. A14), o termo ‘comunidade internacional’, sujeito indefinido. Quem condenou foram vários governos e o Conselho de Segurança da ONU.

A reportagem sobre a reação do Irã no caso do teste da Coréia do Norte (‘Com bomba norte-coreana, Irã deve aproveitar desvio de foco’, pág. A16) não informa a posição oficial do governo iraniano.

Há um erro na resposta de Jim Walsh na entrevista ‘Chance de guerra divide especialistas’ (pág. A16): ‘… os vizinhos e parceiros [dos Estados Unidos] na região, como Coréia do Norte e China, não querem um conflito militar na península da Coréia’. Ele devia estar se referindo à Coréia do



09/10/06

O ‘Estado’ fez a coisa certa e conseguiu espaço, no alto da Primeira Página da sua última edição, para o teste nuclear da Coréia do Norte, sem dúvida o assunto internacional mais importante e que terá desdobramentos nos próximos dias. Sua manchete: ‘Coréia do Norte explode a bomba’.

A Folha deu a notícia, mas não quis mexer no desenho da página e a jogou para o pé, ‘Coréia do Norte diz ter explodido artefato nuclear’. O próprio título indica que o jornal não estava muito convencido da veracidade da informação e ainda aguardava provas.

O ‘Globo’ simplesmente ignorou o anúncio do teste.

Em relação ao debate entre os dois candidatos a presidente da República, todos foram na mesma linha:

Folha – ‘Lula e Alckmin partem para o ataque no primeiro debate’.

‘Estado’ – ‘Em debate duro, Alckmin e Lula trocam acusações’; na primeira versão, o jornal circulou com ‘Lula e Alckmin se acusam e perguntas ficam sem resposta’.

‘Globo’ – ‘Ataques de Alckmin a Lula, e de Lula a FH, marcam debate’.

Debate

A Folha reservou quatro páginas na Edição SP para o debate de ontem à noite. Fez bem, merecia. Fez bem também ao estender o fechamento da Edição Nacional para as 22h, enviando para os leitores de fora de São Paulo pelo menos a primeira parte do debate.

A edição garantiu igual tratamento para os dois candidatos, outro ponto para o jornal. Há equilíbrio nos títulos, nas fotos, nos destaques das frases, nas notas, nos textos de apoio, no comentário de Marcelo Coelho.

Quem ganhou e quem perdeu o debate? Era cedo ontem para avaliar e cravar. Imagino que as análises e pesquisas estarão na edição de amanhã.

Eleições 2006

Não consegui entender as razões de duas mudanças na Edição SP em relação à Edição Nacional.

A primeira, o desaparecimento, na Edição SP, de uma das raríssimas reportagens que tratam dos programas dos candidatos – ‘Programas parecidos de PT e PSDB excluem promessas concretas’, pág. A7 da Ed. Nacional.

A segunda, uma página inteira incluída na Edição SP com uma memória do caso do dossiê dos Vedoin – ‘PSDB quer manter foco no caso do dossiê’, pág. A10. A página não tem ‘gancho jornalístico’ nem novidade, uma vez que a estratégia do PSDB já era conhecidíssima e vem sendo explicitada nos últimos dias, inclusive no debate de ontem à noite e nas páginas da cobertura do debate na Folha de hoje. Aliás, a página fica mais estranha por não conter a única reportagem do dia com informação nova sobre o casso dossiê, uma nota editada no pé da página A11, ‘PF pedirá à Justiça quebra de sigilo de cerca de 500 telefones’.

Esporte

Não encontrei, na cobertura do resultado da Fórmula 1 na Folha, os critérios de desempate caso, por exemplo, Schumacher e Fernando Alonso terminem o GP Brasil com o mesmo número de pontos. O jornal deve supor que todo mundo que lê a cobertura seja iniciado em Fórmula 1 e prescinda deste tipo de informação.

Mais!

Um erro grave prejudicou muito a compreensão do artigo ‘O mito do atraso’, de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, na página 3 do ‘Mais!’ de ontem. Foi cortado o que deveria ser a terceira coluna do infográfico (‘Reprodução acadêmica’) e ficou praticamente impossível acompanhar, sem os dados omitidos, o desenrolar do artigo. É o tipo da correção que não basta o registro na seção ‘Erramos’.’