Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O mundo mágico dos influenciadores digitais

Enquanto personagens-propaganda, artistas se vinculam ao destino das marcas? Em minha visão, sim. Ainda lembro das mentiras que um notório ator e uma badalada apresentadora me contaram ao certificar a qualidade das carnes vendidas pelo conglomerado de empresas dos irmãos Batista, figuras centrais na Operação Lava-Jato. No fim, não havia qualidade alguma, mas sim muita corrupção e malandragem.

O Importante, tanto para o ator quanto para a apresentadora, era o dinheiro. Se o produto causaria uma infecção nas pessoas que o ingerissem? Bastaria sair da reta, exatamente como os dois fizeram. Eu sempre tive pensamento crítico nesse quesito e nunca me levei pelas aparências de um rostinho famoso para comprar este ou aquele item. Qualidade é verificável por meio de referências técnicas e, menos precisamente, pelos nossos sentidos.

Artistas sempre foram utilizados para fazer propaganda a diferentes marcas. Isso se popularizou com o surgimento das mídias de massa e se tornou ainda mais massivo com o advento das redes sociais. Acreditar no artista é opcional, todavia. Ele ou ela não lhe conhece. Não sabe quem você é. Não está preocupado com sua saúde ou bem-estar. Quer, sim, o bem-estar da empresa a que empresta sua imagem.

Há dez anos nem se imaginava que surgiriam os “influenciadores digitais”, pessoas que, em virtude do número de seguidores, atraem interesse de anunciantes. Hoje eles dominam as redes sociais com suas fotos luxuosas, profissionalizadas, e que remetem, normalmente, a situações e locais regados a muito dinheiro. Situações e locais que 99,9% de seus seguidores idolatram, mas jamais irão dispor. É a realidade.

Qualidade é ofuscada pelo dinheiro

Há especialistas em saúde mental que alertam: use direito, com equilíbrio, ou saia das redes sociais. O mundinho de aparências, da felicidade inabalável, não é verdadeiro. Ainda assim, a maioria dos usuários apoia e chancela as publicações alheias, ainda que muitas delas sejam enganadoras. O mundo real é entediante. Para superar isso, basta criar um espelho digital da Branca de Neve que lhe diga, todos os dias, quão belo ou bela você é.

Se o creme que as blogueiras anunciam vai desintegrar a sua cara, pouco importa. Para elas, basta uma rápida gestão de crise. Para você, uma vida inteira com um rosto cadavérico. Aos marombados de academia, que ostentam seus enormes músculos, suplementos são artigos bastante oferecido em redes sociais, ainda que poucos influenciadores alertem sobre os riscos de usar produtos dessa natureza.

Eu posso acreditar que existam influenciadores honestos — e seletivos. O objetivo primário destes seria aumentar a autoestima alheia com produtos de real credibilidade. Só não acredito que a maioria dos influenciadores atenda a este princípio. Num mercado altamente competitivo, quem é “bobo” de negar R$ 2 mil reais por único post no Instagram? R$ 500 por um stories de cinco segundos falando sobre essa ou aquela bolsa? O dinheiro sempre ofusca a visão das pessoas.

Eu sou um contumaz crítico das redes sociais. Não preciso da validação alheia para apoiar as coisas que faço em meu dia a dia. Também não aprecio a pirâmide de “ostentação, mentira e consumo” que elas nos trazem. Mas eu sou minoria nesse mundo de aparências. Optei por tentar viver a realidade do jeito como ela é. Se estou certo ou errado? O futuro dirá. Só posso afirmar que estou adorando fazer isso.

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Gabriel Bocorny Guidotti é escritor.