Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

‘Concentração dos meios de comunicação é ruim’

Um dos palestrantes na Semana de Comunicação do Forte do Leme, entre os dias 20 e 22 de outubro, no Rio de Janeiro, o jornalista Carlos Eduardo Lins e Silva, ombudsman da Folha de S.Paulo, concedeu esta entrevista. Sua palestra, ‘Democracia e os meios tradicionais de comunicação’, discorreu sobre os mais diversos temas do jornalismo, desde sua origem no Brasil ao fenômeno da internet e às mudanças relacionadas a esse setor na América do Sul e nos Estados Unidos. Na entrevista, que por falta de tempo teve de ser finalizada via internet, ele comenta sobre a função do ombudsman na imprensa, as qualidades e problemas da mídia e sua opinião a respeito dos cursos de Jornalismo.


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Embora você tenha apontado na palestra erros e vícios que os meios tradicionais podem cometer, você ponderou que eles têm um papel fundamental a exercer. Me ocorreu uma dúvida em relação ao tema da palestra, que é a relação da democracia com a concentração dos meios de comunicação tradicionais no decorrer das últimas décadas. Eu gostaria que você fizesse uma análise sobre isso.


Carlos Eduardo Lins e Silva – A concentração dos meios é ruim. Esse é um dos motivos por que eu disse aqui que não quero emitir um juízo de valor sobre a nova legislação argentina porque eu sei que uma das coisas que ela faz é impedir que haja uma excessiva concentração de meios nas mãos de um só grupo. Acho que isso é uma coisa negativa para a democracia e que o Estado tem o dever de regular para que não haja uma concentração excessiva: não acho que seja bom isso.


‘Cobertura política se reduz a acompanhar escândalos’


Você pode falar sobre a natureza do ombudsman e mais especificamente sobre o papel que ele desempenha na mídia brasileira?


C.E.L.S. – O ombudsman é uma das iniciativas de auto-regulação que eu acho que são importantes dos meios de comunicações tradicionais disporem. Eu acho que uma das maneiras dos veículos de comunicação resolverem, ou tentarem resolver, esses vícios e problemas a que eu me referi é se auto-regulando. O ombudsman é a maneira mais simples e mais barata de fazer essa auto-regulação. No Brasil, são poucos ombudsmans, no mundo inteiro são poucos; acho que deveria haver muitos mais. É uma espécie de consciência crítica do jornal, é uma espécie de vigilância interna que se exerce no jornal ou no veículo de comunicação.


Quais são esses vícios e problemas a que você se referiu na palestra?


C.E.L.S. – Acho que os problemas principais do jornalismo são a superficialidade com que tratam dos assuntos e a pressa com que querem sair com as informações, mesmo quando elas ainda não estão absolutamente checadas. A ânsia em dar ‘o furo’ muitas vezes faz com que os veículos incorram em erros, que podem ter conseqüências gravíssimas.


Como você avalia a cobertura política da mídia nacional?


C.E.L.S. – Eu me atenho especificamente à Folha porque sou pago por ela para criticá-la, não para tratar de outros veículos. Acho que a Folha ajudaria muito a sociedade, seus leitores e a si própria se dedicasse mais energia, vontade editorial, recursos e pessoal na cobertura crítica das atividades legislativas do Congresso, Assembléias e Câmaras Municipais do que vem dedicando. Em geral, a cobertura política muitas vezes se reduz a acompanhamento exaustivo de escândalos, que devem merecer a atenção do jornal, mas não monopolizá-la.


‘Imprensa tem sido corajosa e independente’


Você defende que o diploma não é compulsoriamente um atestado de um bom jornalista. Eu gostaria de saber, em virtude da sua experiência como professor durante quase três décadas, qual a sua opinião sobre a formação nos cursos de Jornalismo hoje?


C.E.L.S. – Como estou afastado das escolas de Jornalismo há algum tempo, não posso ser muito específico. Mas pelos relatos que ouço e meus contatos esporádicos com algumas delas, minha impressão é que continuam quase tão fracas – na média – quanto eram quando eu lecionava.


Qual a sua análise sobre a homogeinização das informações, no sentido de alguns veículos se pautarem uns aos outros?


C.E.L.S. – Acho que como princípio nenhum veículo deveria divulgar informações que ele próprio não tenha apurado ou confirmado autonomamente, exceto quando a fonte é claramente identificada (como publicações estrangeiras ou agências de notícias). Retirar pautas de outros veículos é legítimo. Assumir informação obtida por outros como se fosse verdade incontestável é que é errado, em minha opinião.


No aspecto positivo, quais são as características louváveis da imprensa brasileira?


C.E.L.S. – Com freqüência, ela tem sido corajosa e independente.

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Estudante de Jornalismo da Facha, Rio de Janeiro, RJ