Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por que jornalistas e sindicato andam distantes?

O que acontece na relação dos jornalistas de São Paulo com o seu sindicato? Por que tantos jornalistas se mantêm distantes, em uma situação em que o mercado de trabalho exige uma intervenção cada vez mais firme na defesa dos profissionais e da profissão, principalmente após a decisão do Supremo Tribunal Federal de atacar na base a regulação da profissão? O que pode ser feito para mudar essa situação? Essas são algumas das perguntas a que pretendo responder na tese de doutoramento que apresentarei à Pós-Graduação da Escola de Comunicações e Artes da USP em abril próximo, mês em que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo completará 75 anos.

Além da pesquisa histórica sobre o Sindicato e os jornalistas, vou analisar pesquisas já feitas por outros jornalistas, historiados e sociólogos. Mas o principal material a ser analisado será colhido por meio do questionárioque está desde o dia 15 de dezembro na página do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA.

Embora as respostas devam vir dos próprios jornalistas que preencherem o questionário, há algumas pistas a serem consideradas desde já. Em primeiro lugar, o Sindicato permanece como uma referência importante principalmente para os jornalistas mais velhos, como revela a pesquisa recente da colega Cláudia Nonato Lima, apresentada também na ECA, no ano passado (“Comunicação e Mundo do Trabalho do Jornalista: o perfil dos jornalistas de São Paulo a partir da reconfiguração dos processos produtivos da informação”). Uma das coisas que ela constatou é que os jornalistas mais novos não se sentem atraídos pelo Sindicato.

Segmentos de atuação

A decisão do Supremo contra a exigência do diploma do curso de Jornalismo também contribuiu para diminuir o nível de sindicalização. Pelo menos é o que se depreende do fato de que durante os primeiros dez anos do novo século o número de sindicalizados girou em torno de 4,5 mil, sendo cerca de 3,7 mil sócios ativos pagantes e 850 sócios aposentados. Número que caiu para 4 mil sindicalizados desde 2010. O percentual de associados seria algo em torno de 13%, se estimarmos o número de jornalistas ativos no estado de São Paulo em algo como 30 mil profissionais. É um percentual menor do que os 17,6% que o IBGE aferiu para o conjunto dos trabalhadores brasileiros em 2007, por exemplo.

Para mim, que fui presidente do Sindicato entre 2000 e 2006, a situação era e continua sendo inaceitável. Ainda mais se levarmos em conta que, por não termos um conselho profissional, o Sindicato atua nas frentes trabalhista e da regulamentação da profissão. Ou seja, é o único instrumento de autodefesa que pode efetivamente representar os interesses do conjunto dos jornalistas,nas diferentes áreas e segmentos profissionais em que atua. O único instrumento de luta que os jornalistas têm para enfrentar, coletivamente, as situações adversas que vivem.

Um aspecto que certamente vou tratar na tese está relacionado à enorme diversidade em termos de áreas de atuação da nossa profissão. Quem se dispuser a responder o questionário vai notar que este contém, além de uma única pergunta aberta – e que trata da questão central da tese, ou seja, a distância entre jornalistas e Sindicato –, várias outras voltadas para a qualificação dos respondentes. O objetivo é levantar dados para um perfil o mais próximo possível da realidade do que são esses segmentos de atuação dos jornalistas e qual o tamanho de contingentes como o de frilas, PJs, estudantes de Jornalismo que enfrentam a dura realidade das jornadas de trabalho estendidas, assim como quantos estão no mercado hoje e têm o registro graças à decisão do STF.

O desafio de entender

Há muitos aspectos que estou trabalhando no momento e que não é o caso de trazer aqui. O que pretendo com este artigo, na verdade, é motivar o maior número de colegas a preencher o questionário na página do CJE. Basta clicar aquiou colocar no seu navegador o endereço www.eca.usp.br/cje/pesquisajornalista. Não vai tomar mais do que 10 minutos. Ao mesmo tempo, você estará contribuindo para que nós, jornalistas, nos conheçamos melhor.

Mas, atenção: a pesquisa é apenas para os jornalistas que atuam em algum dos 645 municípios do estado de São Paulo. Se você está em outras regiões do Brasil, vamos aguardar que novos colegas se dediquem a enfrentar o desafio de entender o que acontece no relacionamento entre jornalistas e seus respectivos sindicatos.

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[Fred Ghedini é jornalista]