Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Entre os dois lados da fronteira

A cobertura jornalística do conflito entre Israel e Líbano é positiva. Foi desta forma que, em entrevista dada na sede da Oboré, em São Paulo, os jornalistas Marcelo Beraba, presidente da Abraji e ombudsman da Folha de S. Paulo, e Ricardo Galhardo, correspondente de O Globo no sul do Líbano, definiram o trabalho da imprensa brasileira e internacional.

Para Marcelo Beraba, a guerra no Iraque, iniciada em 2003 pelos Estados Unidos, serviu para que a imprensa americana adotasse equilíbrio em sua cobertura no Líbano. Como disse o jornalista, ‘esta busca pela variedade de informações se deve à insustentabilidade dos principais argumentos que nortearam a invasão americana, além da crescente oposição da sociedade à invasão dos EUA’.

No conflito entre Israel e Líbano, a imprensa buscou novas fontes de informação. ‘Os jornalistas que cobriram a guerra, tanto no Brasil quanto no exterior, tiveram acesso ao trabalho de agências européias, além de veículos de comunicação árabes, como é o caso da al-Jazira’, disse Beraba. Além disso, boa parte dos jornais mandou repórteres aos dois lados da fronteira.

Ricardo Galhardo também acredita que a cobertura do conflito tenha sido mais equilibrada. Para ele, o ataque do exército de Israel foi tão grande que seria impossível acobertá-lo. Além disso, a imprensa brasileira também tinha muito mais abertura para as fontes primárias do que no caso do Iraque, já que os veículos brasileiros têm importância para as autoridades do Líbano.

Terrorismo

Houve casos de veículos, como o da rede de televisão americana Fox, que basearam sua cobertura totalmente na causa israelense. No dia 30 de agosto, a guerra entre Israel e Líbano foi marcada por um bombardeio em Caná, no sul do Líbano, resultando na morte de 60 civis, entre eles, 35 crianças. Como relata Galhardo, a rede de televisão preferiu se basear em comunicado israelense falando sobre as possíveis causas do incidente. ‘A Fox ficava mostrando o dia inteiro um vídeo divulgado por Israel, luzes saindo de um caminhão próximo ao prédio atingido, que seria um lançador de mísseis. Depois, O próprio Estado de Israel admitiu que suas conclusões eram equivocadas’, disse.

Os entrevistados também comentaram o termo terrorismo, usado pelos jornais brasileiros na cobertura dos conflitos armados. Beraba afirmou que a Folha considera ataque terrorista qualquer ação contra populações civis. ‘Partindo desta idéia, tanto israelenses quanto palestinos estariam cometendo atos terroristas’. Mas a Folha nunca fez matéria em que afirmasse que o Estado de Israel também pratica o terrorismo’, acrescentou.

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Estudante de Jornalismo, aluno do 5º Curso de Informação de Jornalismo e Conflitos Armados na Oboré, São Paulo