Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

O PRESIDENTE E A MÍDIA
Gilberto Dimenstein

Os furos de Lula

‘NA QUINTA-FEIRA passada, Lula pediu aos repórteres que não interpretassem a notícia, apenas relatassem os fatos. Atacou os formadores de opinião -uma categoria que, segundo ele, perde importância. ‘O povo não quer mais intermediário’. Já havia defendido, em entrevista à Folha, que o papel do jornalista não é fiscalizar e denunciar, só deve informar.

Fico imaginando qual seria a reação dos petistas se tais frases fossem proferidas por algum presidente durante o regime militar, quando se fiscalizava o que ocorria nas cadeias e se denunciava a tortura. Ou todas as denúncias de corrupção que tanto beneficiaram, no passado, o prestígio do PT no geral e o de Lula, em particular.

Há sinais inquietantes por trás desse incômodo do presidente com a imprensa. Há um clima que podemos chamar de Estado Pós-Novo -uma dificuldade de lidar com os sistemas de intermediação do poder e um culto do poder estatal.

Como Lula é um dos mais importantes formadores de opinião -entre os mais pobres, é o mais importante-, temos um problema grave de educação para a cidadania.

Não há no Brasil, nem remotamente, um ambiente de Estado Novo, criado por Getulio Vargas. Mas o fato é que, na sua irritação crescente com a diversidade e sistemas que brecam o poder, destila-se um olhar de reservas aos mecanismos de controle do Estado -sem os quais não há democracia.

Na Venezuela, na quinta passada, Lula explicou por que o agridem: os poderosos não gostam de seus programas sociais, que priorizam os pobres. É a figura pós-nova do ‘pai dos pobres’, de Vargas. Nessa lógica, ele não para de atacar o Tribunal de Contas da União, acusado de atrasar as obras e, portanto, impedir o crescimento do país. Note-se que, aqui, a única função do TCU é fiscalizar.

Desdenhou as advertências do Supremo Tribunal Federal sobre as viagens presidenciais, que, em essência, são eleitorais -a função do STF é zelar pelo respeito às leis.

Montou-se um monumental esquema de cooptação no país. O governo virou um cabide de emprego para sindicalistas e dirigentes de movimentos sociais, que passaram a ganhar polpudos salários. Muitos deles ganharam ainda mais vagas nos bilionários fundos de pensão.

Para satisfazer as bases partidárias e sindicais, inflou-se a folha de pagamento do governo. Os resultados desse inchaço apareceram, na semana passada, com a divulgação dos buracos nas contas públicas.

Um assunto que só interessa a meia dúzia de pessoas e não tem o menor apelo eleitoral. Quase ninguém ouve o argumento racional de que esses e outros gastos dificultam o aumento dos investimentos -esses, sim, capazes de assegurar o crescimento. Os críticos são, afinal, ‘insensíveis’ aos pobres.

Para reduzir o poder dos ‘formadores de opinião’, gastaram-se milhões num projeto (TV Brasil), cuja audiência é traço. Os inquietos artistas ganham o ‘vale-cultura’, a crônica anunciada de mais um desperdício de recursos públicos.

O mensalão foi apenas uma tentativa de cooptação que deu errado, um acidente de trabalho. Coerente, portanto, que o Palácio do Planalto indique para o Supremo Tribunal Federal não um jurista, mas um advogado do PT.

Tudo isso é aceito quase placidamente porque, além da cooptação, Lula tem uma extraordinária popularidade e prestígio internacional -há um pressuposto de que a verdade tem a ver com o número de pessoas que seguem uma personalidade ou ideia. No caso brasileiro, há um fascínio servil com o que vem de fora. É, aliás, uma visão de Lula, para quem a eleição de alguém já significa um perdão -é assim que ele apresentou, no palanque, Fernando Collor. Coloca-se na posição de Jesus, obrigado a fazer acordo com Judas.

Não acho, obviamente, que as liberdades estejam ameaçadas. Dá até para dizer que, em sua gestão, houve um notável avanço da educação -tanto quanto o que se verificou no tempo do professor Fernando Henrique Cardoso.

Deve-se à gestão Lula a obrigatoriedade de ensino, aprovada no Senado, na semana passada, dos quatro aos 17 anos. Aumentaram-se os recursos para o ensino médio e infantil. Investiu-se na ampliação da jornada escolar. A força dada ao Enem, em seu mandato, é um importante estímulo para que as escolas valorizem a reflexão. Fala-se agora que, com mais dinheiro no Orçamento do MEC, decidido também na semana passada, no Congresso, haverá bilhões apenas para formar professor.

Mas os ataques de Lula fazem muita gente acreditar que se pode fazer uma democracia forte sem a intermediação do poder -e o que garante a democracia é o controle.

PS – Apesar dos ataques de Ciro Gomes a São Paulo, Lula insiste que o ex-governador do Ceará seja candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Não há um único indivíduo sério capaz de acreditar que Ciro tenha qualquer laço afetivo com São Paulo -e nada tem a ver com o fato de ele ter sua vida política do Nordeste. É só um projeto de interventor do Estado Pós-Novo.’

 

PESQUISA
Folha de S. Paulo

Leitor elogia noticiário da Folha sobre eleição

‘A pouco menos de um ano das eleições, o leitor da Folha aprova a cobertura que o jornal vem fazendo sobre o assunto. Pesquisa realizada pelo instituto Datafolha mostra que 61% dos leitores estão acompanhando reportagens e/ou artigos sobre a sucessão presidencial. Destes, 86% dizem que a cobertura do jornal até agora foi ótima ou boa, contra 2% que a consideram ruim ou péssima. Para 12%, ela tem sido regular.

A pesquisa foi feita por telefone, entre os dias 19 e 20 de outubro, com 350 leitores do jornal que moram na Grande São Paulo (capital e região metropolitana). A margem de erro é de cinco pontos percentuais. O leitor avalia que o jornal destina um espaço adequado à cobertura eleitoral: 83% entre os que estão acompanhando o assunto consideram que a cobertura está na ‘medida certa’.

O espaço destinado ao tema é considerado menor do que o necessário por 9% dos leitores, e excessivo por 8%. Questionados a respeito de sua intenção de voto para presidente da República, sem que lhes seja apresentada qualquer relação de nomes, 20% respondem espontaneamente que pretendem votar em José Serra (PSDB), atual governador de São Paulo.

Marina Silva, senadora pelo PV do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula, aparece com 6%. Está tecnicamente empatada com a pré-candidata do PT, ministra Dilma Rousseff, com 3%. Os resultados entre os leitores diferem dos obtidos em São Paulo na pesquisa Datafolha realizada em agosto, tendo como base toda a população.

Serra, naquela pesquisa, era citado espontaneamente por 8%. Para 75% dos leitores do jornal que acompanham o noticiário eleitoral, a cobertura não está favorecendo nenhum pré candidato. Dilma Rousseff está sendo favorecida na opinião de 8% dos leitores, enquanto 3% consideram que Serra é favorecido pela cobertura do jornal. Para 85% dos leitores, a cobertura não prejudica nenhuma das candidaturas.

Governo Lula

A cobertura em relação ao governo Lula é considerada ‘crítica na medida certa’ por 68% dos entrevistados e ‘menos crítica que o necessário’ por 17% deles. Para 48% dos leitores, a gestão de Lula é ótima ou boa. Entre a população paulistana, essa era a avaliação de 60% das pessoas em agosto, segundo o Datafolha.

A maioria dos leitores (66%) também considera que a cobertura sobre o governo José Serra em São Paulo é ‘crítica na medida certa’. Outros 21% consideram a cobertura ‘menos crítica que o necessário’.

Na pesquisa espontânea sobre a eleição para governador paulista, o secretário de Desenvolvimento do Estado, Geraldo Alckmin, aparece com 18% das preferências entre os leitores da Folha, enquanto Serra vem bem atrás, com 2%.’

 

PROPAGANDA
Italo Nogueira

Cabral aumenta em 37% recursos para publicidade

‘O governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), ampliou em R$ 25 milhões a verba para propaganda, aumentando em 37,3% o montante de recursos autorizados para o setor.

A Secretaria de Agricultura foi a que mais perdeu recursos (R$ 6,8 milhões). A publicação de decreto no ‘Diário Oficial’, no entanto, não explica a origem de R$ 16 milhões remanejados para a propaganda.

Segundo o texto publicado, o limite para gastos em ‘serviço de comunicação e divulgação’ da Subsecretaria de Comunicação Social foi ampliado de R$ 66,9 milhões para R$ 91,7 milhões, o maior já registrado na gestão Cabral. Até ontem, o governo havia gasto com publicidade R$ 61,9 milhões.

Caso mantenha essa tendência até o final do ano, desembolsará no setor mais de R$ 80 milhões, padrão que se mantém desde o início do governo.

Ao assumir seu mandato, para se contrapor à ex-governadora Rosinha Matheus (PMDB), Cabral havia dito que só gastaria dinheiro com publicidade de prestação de serviço.

As campanhas divulgadas atualmente focam na divulgação das UPP (Unidades de Polícia Pacificadoras) -postos policiais em favelas onde o tráfico foi desarmado-, e na veiculação de melhorias supostamente obtidas pelo governo.

Há também anúncios que divulgam a matrícula escolar na internet e as UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento), postos criados para desafogar as emergências dos hospitais.

O governo do Rio usou, em média em cada um dos seus dois anos de governo, R$ 81,7 milhões, segundo levantamento do gabinete do deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB). Nos anos, o gasto foi mais do que quatro vezes o aprovado na Alerj.

Para o deputado oposicionista, o governo amplia o orçamento em propaganda deste ano para permitir gasto do mesmo patamar ano que vem. Em ano eleitoral, os governos podem investir apenas a média dos três anos anteriores.

‘Ele vão remanejar de outras áreas para gastar mais ano que vem’, disse o tucano.

O governo do Estado afirmou que a licitação feita previa o gasto de R$ 100 milhões. ‘O Orçamento é que previa valor menor que o valor que se pretendia gastar. Por isso se fez necessária a suplementação.’

O governo disse que houve erro na publicação do decreto e que o remanejamento será explicado. A nota diz que a maior prejudicada foi a Agricultura porque ‘era a secretaria com mais recursos disponíveis’.

Nas eleições municipais, Cabral foi acusado de ampliar a propaganda das UPAs para beneficiar o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). O então candidato usava as unidades como plataforma de campanha. O Tribunal Regional Eleitoral vetou as peças.

Paes lançou licitação para contratação de agência de propaganda com custo previsto de R$ 120 milhões em dois anos. Segundo a prefeitura, o gasto foi ampliado para promoção da cidade em razão da conquista da sede da Olimpíada de 2016. As campanhas serão também de prestação de contas e divulgação de políticas públicas.

O deputado Corrêa da Rocha criticou também a falta de explicação sobre a origem de R$ 16 milhões. ‘Tudo que fica obscuro parece que a intenção é esconder a origem do reposicionamento orçamentário.’’

 

IRÃ
Samy Adghirni

Autoridades fecham cerco à imprensa

‘O cenário da mídia no Irã passou a ser totalmente controlado por setores ligados ao governo depois que os principais jornais oposicionistas foram fechados sob pretexto de fomentarem a desordem social pós-eleitoral.

O primeiro alvo da repressão à imprensa foi o diário ‘Kalameh Sabz’, propriedade do reformista Mir Hossein Mousavi, censurado logo após o início dos protestos contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad. Uma operação da polícia prendeu os 25 jornalistas da equipe- liberados semanas depois.

Também foram banidos o ‘Ettemad Melli’, do reformista Mehdi Karoubi, o ‘Farhang Ashdi’, ‘Arman’ e o ‘Tahlil Rooz’.

Para se informar, os iranianos dispõem hoje de dezenas de diários, revistas e agências de notícias, mas que se contentam em reproduzir a visão oficial.

Veículos de imprensa estrangeira não circulam no Irã, onde também não há canais de TV e rádio privados.

Vários sites e blogs criticam o governo, mas sob uma ótica parcial, neste caso pró-oposição.

Sofisticados mecanismos de controle impedem o acesso a sites como YouTube, Voz da América e BBC em persa.’

 

COBERTURA
Luiz Fernando Vianna

A guerra das palavras

‘Ler e ouvir diariamente, por dever de ofício, dezenas de notícias policiais é desagradável não só pelas crianças feridas e pelo número absurdo de mortos -foram assassinadas no Estado do Rio, entre janeiro e setembro deste ano, 4.460 pessoas. Dói também a torpeza do estilo.

A banalização dos conflitos levou a imprensa a aplicar frases feitas que lhe são passadas pelas fontes da polícia, as únicas disponíveis ou procuradas. Sem minimizar as dificuldades das forças de segurança, seguem algumas tentativas de tradução:

‘Os policiais faziam um patrulhamento de rotina na favela X’ – Não há patrulhamento de rotina em favelas onde há traficantes armados. Por segurança, só entram em grandes grupos. Ou então, para fazer negócio com os traficantes, como cobrar o arreglo -procedimento conhecido como ‘mineirar’.

‘Os policiais foram recebidos a tiros pelos traficantes’ – Se estão entrando para combatê-los, não estranha que sejam recebidos assim. É a infeliz lógica de guerra. Com frequência, como diz outra expressão clichê, ‘entram atirando’. Crianças e idosos costumam ser surpreendidos nesses casos pelas chamadas balas perdidas.

‘X bandidos morreram na operação’ – Pretos, pobres e mal vestidos são, a priori, bandidos, mesmo que não se saibam os nomes e se têm fichas policiais. Se familiares e moradores ‘fecham a avenida X para protestar com paus e pedras contra a polícia’, desconfia-se que algum inocente tenha morrido.

‘Deu entrada no hospital X, mas não resistiu aos ferimentos’ – Foi morto no confronto, mas não convém deixar o corpo para eventuais perícias -ainda que improváveis- ou queixas de parentes.

‘Será aberta uma sindicância para apurar as responsabilidades dos policiais’ – Nada acontecerá.’

 

ESPORTE
Eduardo Ohata e Mariana Bastos

Interatividade é meta do COI para 2016

‘A milhares de quilômetros do palco dos Jogos Olímpicos e ao lado de outros fanáticos, ter a experiência de fazer parte da ação. Interatividade que permita testar as suas habilidades atléticas contra ases do esporte. Ter um menu com dezenas de eventos para personalizar a programação -no celular.

Esse é o croqui imaginado por Comitê Olímpico Internacional, executivos de TV e especialistas em marketing esportivo, para, talvez, Londres-2012 e, muito provavelmente, para os Jogos do Rio, em 2016.

Em Pequim, o portal de internet Terra contou com 15 canais ‘olímpicos’, algo que à época era sem precedente.

‘O COI colocará, já nos Jogos de Londres, um mínimo de 60 sinais à disposição dos clientes. Alguns eventos, como o atletismo, por exemplo, terão mais de um sinal’, diz Félix Alvarez, vice de operações da IMG, empresa de marketing do COI.

‘Cada um dos licenciados poderá criar sua própria grade com o conteúdo que desejarem. Tudo [os canais de transmissão] ficará à disposição do detentor dos direitos. Se vai passar ou não, dependerá dele.’

Entre os 60 canais, o COI, que só tem a ganhar com uma maior exposição dos Jogos, disponibilizará cinco genéricos, com conteúdo já editado, para diferentes interesses. Um deles será o ‘Olympic News’, um programa de ‘update’ com os acontecimentos mais relevantes dos últimos 30 minutos.

‘Em Londres, os celulares devem receber somente clipes e notícias. Já no Rio, acho que será possível assistir a competições ao vivo pela telefonia móvel [banda larga]’, diz Alvarez.

Executivos de marketing e de TV desfilam um rosário de inovações tecnológicas que podem muito bem estar presentes na época da Olimpíada do Rio.

‘Imagine, em 2016, áudio com 16 canais e 3D, que, se antes ‘saltava’ da tela, hoje é trabalhado ‘para dentro’, com a profundidade. Se tiver isso, o equipamento puxa você para o evento’, diz Pedro Garcia, diretor de negócios da Globosat.

‘A grande novidade será a interatividade. Poder fazer seu próprio replay e trabalhar a imagem. Em Pequim, foi a primeira vez que, durante as transmissões, os atletas competiam contra uma ‘linha do recorde’. Esses pequenos detalhes vão formando um quadro futurista’, segue ele.

Nos locais de competição, Alvarez acredita que será possível, por meio de minimonitores portáteis de TV disponibilizados nos estádios, ver eventos que ocorram simultaneamente em outras instalações.

‘É o conceito de TV pessoal. Você está no estádio de atletismo e, se quiser, pode assistir algo que ocorre em outro local.’

Para 2016, o executivo sonha em contar com tecnologias já existentes. Afinal, conforme filosofa, ‘a única limitação é a tecnologia, não a imaginação’. Cita tecnologia 3D, já vista no cinema e na TV, e videogames interativos, como o Wii.

No último fim de semana, mexicanos acompanharam, empolgados, nas telas de cinema, e em 3D, o clássico local entre América e Guadalajara.

‘Para 2016, quem sabe não chegue uma 3D mais sofisticada? E a experiência de correr ao lado de um recordista a prova dos 100 m [do atletismo] em um game?’, questiona Alvarez.

‘Há filmes que previram a realidade, e outros que não. Quem imaginaria que a internet evoluiria tanto em tão pouco tempo? Em 2016 podemos ver ‘Minority Report’, com o touch screen, por exemplo’, filosofa Garcia, em alusão à tecnologia vista no filme futurista de Steven Spielberg.’

 

***

Roma-1960 inaugurou era midiática

‘Roma-1960 inaugurou a era midiática na história dos Jogos -foi a primeira edição exibida ao vivo pela TV. A Olimpíada italiana foi vista em tempo real por 18 países europeus. As imagens chegavam com atraso de algumas horas a Japão, Canadá e EUA.

Um fato inusitado liga Roma a Pequim-2008. A rede NBC só levou ao ar a cerimônia de abertura 12 horas após o término do evento. Foi a primeira vez, desde 1960, que os americanos tiveram que ver a Olimpíada, ou alguns eventos dela, por VTs.

Em Roma, o Comitê Olímpico Internacional obteve suas primeiras receitas com transmissão de TV. Os direitos foram vendidos por US$ 1 milhão, quantia irrisória se comparada às cifras que as emissoras pagam hoje para transmitir os Jogos.

Somente as TVs brasileiras desembolsaram, juntas, US$ 210 milhões pelos direitos dos Jogos- -2016, no Rio de Janeiro.

Hoje, a TV é, provavelmente, a força motriz do Movimento Olímpico. As vendas dos direitos de transmissão dos Jogos correspondem a 53% das receitas do COI.’

 

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Acesso definirá viabilidade de inovações

‘Duas vertentes definirão a que produtos o público terá acesso para acompanhar, ou ‘participar’, dos Jogos: a econômica e a tecnológica.

‘O HD existe há um bom tempo, mas só agora ficou viável financeiramente [sua popularização]. Talvez algumas coisas sejam possíveis tecnologicamente, mas não sua operacionalidade. Hoje não faz sentido, comercialmente, disponibilizar todos os 60 canais ao telespectador’, diz Pedro Garcia, diretor de negócios da Globosat.

‘A tecnologia 3D será uma realidade ou não [para o público]? Começou em animações e, na Sportel [feira internacional de TV e esportes], já havia 3D em HD. Porém isso será acessível [para o grande público]?’

Sob outras óticas a confluência de tecnologias, já existentes e as que estão por vir, geram polêmicas, como na questão dos direitos, segundo alertam especialistas que militam na área.

‘Há uma zona cinzenta enorme sobre essa questão, justamente porque os meios começaram a se fundir’, afirma José Papa, diretor de novos negócios da ESPN Brasil. ‘Há algumas questões que, às vezes, nem o vendedor dos direitos, que poderia realizar a arbitragem, sabe definir.’

Segundo o executivo, com o rápido avanço da tecnologia, a questão dos direitos regionais pode gerar problemas antes inexistentes.

‘Temos registrados os IPs de fora do Brasil, e não permitimos que [internautas do exterior] acessem vídeos de nosso site. Só que tem gente que fica estudando para burlar isso’, comenta Papa.

Em Pequim-2008, a rede de TV NBC, a que pagou a maior quantia no mundo pelos direitos dos Jogos, passou com atraso alguns eventos para adequá-los ao horário nobre. Houve quem recorresse, nos EUA, à transmissão de emissoras europeias pela internet.’

 

Folha de S. Paulo

Seleção vai a Doha para festejos da TV Al Jazeera

‘A seleção brasileira é figura fácil no Oriente Médio -só nesta década já fez amistosos na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes e no Kuait.

Agora, o time de Dunga se prepara para jogar no Qatar (dia 14, contra a Inglaterra), e em Omã (três dias depois, diante da seleção local).

O inusitado é quem vai bancar o clássico contra os ingleses. O confronto faz parte dos festejos pelo 10º aniversário da rede de televisão Al Jazeera, que tem sua sede em Doha e ficou famosa por sua cobertura nos conflitos bélicos da região.

E a emissora divulgou informações sobre a partida que não devem agradar nem à CBF nem a Dunga, o técnico brasileiro.

Em entrevista coletiva na última segunda-feira para anunciar detalhes sobre a venda de ingressos, Nasser al-Khulaifi, diretor do canal esportivo da Al Jazeera, disse que, pelo contrato assinado entre as partes, tanto brasileiros quanto ingleses devem levar para o amistoso todos os seus grandes jogadores -só casos de contusões serão aceitos como exceções.

Causa desconforto na confederação brasileira esse tipo de declaração, já que a entidade prefere não ligar à lista de convocados a contratos de amistosos. Mas não é só: a Al Jazeera também promete dar pouca privacidade ao time de Dunga, o que deve irritar, e muito, o treinador da equipe nacional.

Na mesma entrevista, Nasser al-Khulaifi declarou que todos os treinamentos da seleção em Doha serão transmitidos ao vivo, e que estúdios serão montados no hotel onde as duas seleções vão se hospedar.

A partida contra a seleção de Omã será disputada na data nacional do país.’

 

TELEVISÃO
Audrey Furlaneto e Rodrigo Russo

Nem tão fantástico

‘Há 36 anos como principal atração de domingo da Globo, o ‘Fantástico’ registrou as piores médias de audiência de sua história neste ano. No último domingo, chegou a 17,6 pontos de média na Grande São Paulo, abaixo de outro momento crítico, quando fez 17,8 na estreia do reality show ‘Casa dos Artistas’, do SBT, em 2001. Também é de 2009, no início de outubro, sua terceira pior marca, de 18,1 pontos de média.

A queda no Ibope do programa da Globo acontece em momento em que os concorrentes pulverizaram a audiência entre 20h e meia-noite de domingo. A Record tem média de 13,1 pontos, o que lhe dá o segundo lugar com o ‘Programa do Gugu’, que estreou em 30 de agosto. Já o SBT, que ocupa parte do horário com o ‘Programa Silvio Santos’, tem 9,8 pontos. A Rede TV!, com o ‘Pânico na TV!’ das 21h às 23h30, faz 8,6 pontos (veja quadro nesta página).

A baixa no Ibope significa que o formato de programas como o ‘Fantástico’ esteja em crise? Ou que a concorrência ficou realmente fortalecida? Eugênio Bucci, professor de jornalismo da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes), levanta a hipótese de que o formato do programa, uma revista semanal eletrônica, generalista, possa estar esgotado.

‘Há 30 anos, a TV tinha menos opções, menos canais e menos competição. Ali, essa fórmula de revista não era banal, mas sim interessante’, diz Bucci. Com a segmentação, ele acredita que os programas têm de ter nível de especialização.

Para ele, pode ser difícil para o público identificar ‘a cara do ‘Fantástico’ hoje’, enquanto sabe com mais facilidade o que esperar dos concorrentes.

Essa avaliação é similar à de Muniz Sodré, especialista em comunicação e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio). Para Sodré, a queda de audiência do ‘Fantástico’ se deve à ‘saturação da forma’. ‘O ‘Fantástico’ fez bem seu papel durante muitos anos, mas tem um momento em que todo formato se satura, como se tivesse dado tudo o que tinha que dar.’

Mudança de público

Segundo Sodré, com a internet e a ‘possibilidade de cada um participar da elaboração da informação’, altera-se pouco a pouco a relação segundo a qual um centro irradia notícias e informações e outro só recebe.

‘A participação na construção da notícia, pelo comentário nos blogs, por exemplo, obriga uma mídia centralizada, como a TV, a redefinir seus públicos’, afirma. ‘O público amplo de massa dos anos 1970 se constitui em comunidades a partir dos anos 1980. A grande mídia não parece ter notado isso.’

Sodré continua: ‘Não acho que essa pulverização [de audiência] seja eterna, mas agora, em função da internet, estamos vivendo isso’.

Marcio Oliveira, vice-presidente da agência de publicidade Lew, Lara, ameniza a situação do programa em relação ao mercado publicitário: ‘A pior audiência do ‘Fantástico’ ainda é muito grande’, diz. Para ele, o mercado ainda não vê como problema a queda da última semana, mas Oliveira entende como crucial o comportamento da audiência durante a exibição das novas temporadas dos realities ‘A Fazenda’, da Record, e do ‘BBB’, da própria Globo.

‘No domingo à noite, as pessoas estão querendo relaxar, não esquentar a cabeça, o que foge do conteúdo sério apresentado pelo programa’, opina. Para ele, o ‘Pânico na TV’ ganha força com esse movimento.

Ser ‘uma pedra no sapato’ da Globo é motivo de orgulho para Alan Rapp, diretor do ‘Pânico’, humorístico que nas últimas seis semanas alcançou por alguns minutos (24 no máximo) o primeiro lugar na audiência.

‘Há um ano, a gente achava quase impossível ficar em primeiro lugar no horário do ‘Fantástico’, diz Rapp. Homero Salles, diretor do ‘Programa do Gugu’, da Record, vê na distribuição do público a explicação para a perda de liderança do concorrente.

‘Não acho que devemos considerar apenas a queda do ‘Fantástico’. Eu assisto, e acho que está normal. Não tem problema com o programa. Podem estar procurando chifre em cabeça de cavalo’, diz.

‘Entrou um ‘player’ novo, que é o Silvio Santos. Veio um reforço para a Record [Gugu] e o ‘Pânico’ está atravessando fase muito boa. Seria simplista dizer que o ‘Fantástico’ caiu.

Sem querer puxar para o lado do meu programa, creio que os números baixos do ‘Fantástico’ se devem à ascensão da concorrência. Não é queda de qualidade nem crise de identidade.’ O desempenho no Ibope levou o dominical da Globo a formar mutirão de emergência: convocou repórteres e profissionais de jornalismo para produzir conteúdo com assuntos policiais.

Em novos quadros do programa, como ‘Liga das Mulheres’, ‘Cinco Meninas e um Vestido’ e ‘Reunião de Condomínio’, há a tendência de apostar na proximidade com a vida do telespectador. Nos últimos oito domingos, cinco quadros entraram na atração.

A proposta inicial dos criadores do ‘Fantástico’ -José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e Walter Clark, responsáveis pelo ‘padrão Globo de qualidade’- era mesclar jornalismo e entretenimento. ‘Fazíamos musicais bonitos, ousados.

O programa tinha bastante liberdade cultural’, lembra o cineasta Domingos Oliveira, que dirigiu quadros de sucesso do ‘Fantástico’ nos anos 1970.

Colaborou THIAGO NEY , da Reportagem Local’

 

Tony Goes

Atração era cosmopolita entre concorrentes provincianos

‘O ‘Fantástico’ era indispensável. Numa época em que não havia TV a cabo e muito menos internet, o programa tinha tudo: notícias, música, humor, esporte e mais um monte de coisas difíceis de classificar. Era um rolé pelo mundo no domingo à noite, um fecho de ouro para o fim de semana. Lá em casa assistíamos todos juntos, num ritual espontâneo, igual ao de milhões de famílias.

Achávamos maravilhosa a coreografia da abertura, aquelas pessoas fantasiadas fazendo uma espécie de dança da fertilidade. Além de glamouroso, o ‘Fantástico’ talvez tenha sido o primeiro programa não provinciano da televisão brasileira. Tinha uma visão cosmopolita, enquanto seus concorrentes na época, como Silvio Santos, falavam apenas de suas paróquias.

Era uma delícia conhecer a clínica da dra. Aslan, vibrar com os gols da rodada e ver um clipe de Elis Regina, tudo na mesma noite. Aliás, a palavra ‘clipe’ ainda nem existia, mas o ‘Fantástico’ foi o pioneiro do gênero no Brasil. Até então, os cantores brasileiros se apresentavam na TV sempre num palco, de microfone na mão mesmo quando faziam playback. O ‘Fantástico’ os libertou. Era assombroso o quanto a Globo investia nessas superproduções, ainda mais porque eram exibidas uma única vez. A emissora parecia ter orgulho de gastar tanto e assim impor seu famoso padrão de qualidade.

O tempo foi passando, o mundo foi mudando e o programa também. Sumiu a zebrinha, ícone dos primeiros tempos, que anunciava os resultados da então importante Loteria Esportiva. Hoje, ela parece ainda mais tosca: nem animação 2D era. Também sumiu a música. O programa, que antes tinha espaço até para ‘alternativos’ como Tom Zé, passou a exibir apenas trechos de trabalhos dos medalhões. Hoje, a música só dá as caras quando morre algum cantor.

E sumiu também a abertura. O programa atual começa de sopetão, sem o famoso tema. Mesmo assim, basta surgir a vinheta do intervalo para detonar na minha cabeça a letra cafona e otimista, escrita pelo Boni: ‘Olhe bem, preste atenção’.

Não dá para cobrar do ‘Fantástico’ a mesma hegemonia de antes. A vida se fragmentou, as opções se multiplicaram. Hoje, nossa atenção se divide em mil coisas. Com o ‘Fantástico’ aconteceu o contrário. O caleidoscópio de antigamente hoje tem menos cores e por isso é mais difícil de ser visto.

TONY GOES , 49, é diretor de criação da Publicis Brasil’

 

Para Globo, queda no Ibope não é inédita

‘Leia abaixo a resposta da Central Globo de Comunicação sobre a concorrência nos domingos à noite, os baixos índices de audiência registrados pelo ‘Fantástico’ nas últimas semanas e outras fases de pouco ibope do programa.

‘Essa não é a primeira vez nem será a última que o ‘Fantástico’ enfrenta períodos de concorrência maior e, consequentemente, de audiência menor. Se olharmos as audiências dos últimos anos, veremos que as médias obtidas pelo ‘Fantástico’ em São Paulo nas últimas semanas não são inéditas (no último domingo, a média em São Paulo foi de 18 contra 16 do segundo lugar; no Rio, foi de 21 contra 14).

Em 2000, em São Paulo, também tivemos uma média de 18 pontos. Momentos difíceis não são novidade na vida do programa. Só como exemplo, Flávio Cavalcanti, em maio de 1978, voltando para a antiga TV Tupi, venceu o ‘Fantástico’ em seu primeiro domingo e afetou negativamente a média do programa por um bom período.

Para se ter uma ideia, o ‘Fantástico’ chegou a perder de 18 a 11. E isso na década de 70, que os especialistas dizem ter sido a nossa época de ouro. Em 1991, o ‘Fantástico’ viu novamente sua média se reduzir graças ao ‘Topa Tudo por Dinheiro’, do Silvio Santos, que chegou a ganhar três vezes, de cerca de 33 a 28.

Em 2001, o ‘Fantástico’ perdeu também para ‘Casa dos Artistas’, um clone do ‘BBB’. Em todos esses períodos, o ‘Fantástico’ soube como enfrentar o desafio e seguir na liderança, apostando sempre na qualidade, com uma receita que dosa entretenimento, comportamento, humor, ciência e grandes reportagens, grandes furos.

É esse compromisso que faz o ‘Fantástico’ ser visto como relevante pelo público e seguir líder: nele, o público se diverte, se emociona, se informa. A persistência desse compromisso é que faz o ‘Fantástico’ superar momentos mais difíceis: o público sempre reconhece onde está a qualidade. Tem sido sempre assim.

Ocorre que o ‘Fantástico’ é líder de uma forma tão convincente que, de tempos em tempos, a coisa acontece assim: passa por algum aperto, a imprensa diz que o fato é inédito, que o programa está ameaçado; aí, nossos talentos vencem os apertos e, com o tempo, a imprensa se esquece deles.

Quando surgem novos apertos, tudo recomeça: a imprensa diz que tudo é inédito, o ‘Fantástico’ vence os apertos e a coisa é esquecida até o aperto seguinte. O segredo da longevidade do ‘Fantástico’ é exatamente esta fórmula única, com um cardápio variado, que lança formatos que, mais tarde, são copiados pela concorrência.

É por isso que o ‘Fantástico’ é líder há 36 anos. E jamais deixamos de ser: neste momento, a média do ‘Fantástico’ é de 25 pontos, com 43% de participação, na audiência no Ibope PNT [Painel Nacional de Televisão, média nacional] (até 18/10) e 23 pontos, com 38%, em São Paulo (até 25/10).’’

 

Bia Abramo

Receita para salvar o ‘Fantástico’

‘AOS 36 ANOS , o programa dominical anda mal das pernas. Números de audiência apontam que o ‘Fantástico’ perdeu um em cada três espectadores nos últimos dez anos. Semana passada, um susto: o Ibope teria registrado a pior audiência desde 1973 e a concorrência, pela primeira vez, empatado nos 16 pontos. Os dados consolidados desmentiram o empate (Gugu ficou com 15 e a atração da Globo chegou aos 18 pontos), mas foi por pouco.

Mesmo não tendo ‘perdido’ para a Record, a emissora anunciou que vai reformar o programa. ‘Mais uma vez?’, se pergunta o incrédulo espectador. Sim, porque nos últimos anos parece que é só isso que a Globo vem fazendo, ao trocar apresentadores, reforçar a cobertura de celebridades e enxertar quadros a torto e a direito. O problema é que nada disso parece funcionar.

É óbvio que, ao contrário do que diz o título, esta coluna não tem a receita para salvar coisa nenhuma, muito menos um programa de TV. Mas, aproveitando o ensejo, mete um pouco a colher nessa discussão e faz umas duas ou três sugestões modestas.

1) Reduzir a duração pela metade: duas horas é muito tempo nos dias de hoje. Hollywood, por exemplo, já sabe disso; faz filmes de 80, 90 minutos e gasta milhões de dólares para fazer esse tempo parecer ainda mais curto. O programa deveria durar, no máximo, o tempo entre telefonar, esperar e consumir a pizza de domingo, ou seja, algo em torno de uma hora.

2) Proibir os apresentadores de sorrir: se você está em casa no domingo à noite, é porque ou bem o final de semana foi um fracasso, ou você está duro demais para ir ao cinema, ou está tão cansado que só aguenta ligar a TV. Em qualquer das hipóteses, você não está feliz -por que então forçar a barra?

3) Mudar de nome: o nome promete mais do que qualquer programa de TV, hoje em dia, pode cumprir. O que, nesse mar de informações e imagens, pode mesmo ser classificado como ‘fantástico’? Pouca coisa -e, provavelmente, você já viu antes na internet.

4) Desistir, enfim, de se levar a sério: historicamente, o programa tinha a pretensão de revelar mistérios, desta e de outra vida, de ser o arauto dos progressos da ciência e da humanidade, além de divertir, informar, entreter… Não é, digamos, um pouco demais?’

 

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