Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Morte de Eloá domina programação de domingo

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 20 de outubro de 2008


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Domingão


‘Depois de Sonia Abrão, Fausto Silva. O ‘Domingo do Faustão’ entrou ontem, no final do futebol, com a ‘tragédia de Santo André’. E falou longamente com o coronel José Vicente da Silva, que já havia participado do ‘Jornal Nacional’. Ele foi secretário de Segurança de FHC, o que a Globo evitou registrar. Garante o coronel tucano que se trata de ‘uma tropa extremamente experiente’, que já salvou 42 pessoas, e ‘culpado foi quem atirou’. Aliás, ‘os erros [da tropa] não foram decisivos para a morte’ de Eloá. No fim, o ‘Domingão’ deu o telefone e sugeriu ao telespectador que ‘Converse com o Cel. José Vicente’. O ‘Fantástico’ , depois, salvou em parte a cobertura até então grotesca, ouvindo um brasileiro ‘instrutor da Swat’ que apontou erros sobre erros e se declarou, por fim, ‘envergonhado’ como brasileiro.


ESPETACULAR


Também o ‘Domingo Espetacular’ entrou logo após o futebol da Globo. E com gravação ‘exclusiva’, dizendo que imediatamente ‘antes da explosão há um ruído’. Um perito avaliou que poderia ser um tiro; outro, que poderia ser o detonador da bomba usada pela polícia. Mas antes, no sábado, o ‘Jornal da Band’, também com ‘peritos que ouviram Nayara’ e o seqüestrador, afirmou em manchete ‘exclusiva’ que ‘não houve disparos antes da invasão da polícia’. E ontem, no ‘Fantástico’ , outro ‘perito’ confirmou não identificar tiro nenhum antes da invasão. Em suma, teria sido mais um ‘erro’.


ANTES? DEPOIS?


Abrindo o ‘JN’ (acima), sexta, ‘Ouvem-se tiros e a polícia invade’. Mas na reportagem, logo depois, ‘Policiais explodem a porta. Em seguida, tiros’. E no ‘Fantástico’, ‘tiros’ também só ‘depois da explosão’


ELEITORAL NÃO, PASSIONAL


Os meandros pelos quais se estende a cobertura, para responsabilizar ou resguardar a polícia a dias da eleição, não chamam a atenção no exterior. Nas agências, a notícia é que a jovem Eloá foi morta pelo ‘ex-namorado, no caso que chocou o Brasil’. De eleição, nada.


POLÍCIA VS. POLÍCIA


No exterior, o que ‘chocou’ foi que aqui ‘Polícia combate polícia’, na BBC , ou ‘Polícia entra em choque com colegas grevistas’, no ‘Guardian’ . O enunciado se reproduziu até na China, com ‘Polícia militar do Brasil entra em choque com manifestantes da polícia civil’, da Xinhua . Mais uma vez, nada do subtexto eleitoral. A cobertura priorizou explicar que ‘estados brasileiros têm dois grupos de oficiais da lei, um uniformizado, para a ordem pública, outro em roupa comum, de investigação. E em algumas cidades ainda há ainda guardas’.


CONSELHOS


‘Financial Times’ e outros seguem acompanhando o impacto da crise por aqui, agora em função das apostas de empresas ‘mal aconselhadas’ em derivativos. E ontem o ‘Los Angeles Times’ deu longa reportagem sobre como chegou à América Latina o ‘aperto da crise econômica global’, dizendo que Brasil, Argentina e outros países, ‘antes confiantes que a demanda em alta garantia preços elevados para produtos como soja, carne, minerais, estão sentindo os efeitos da falta de crédito’.


LONGE DO FMI


No topo da busca de Brasil pelo Google News, a AP dizia ontem que a América Latina não quer saber do FMI, nesta crise, enquanto Ucrânia etc. apelam ao Fundo para não ter que recorrer à Rússia.


E DOS EUA


Também da AP, o ‘San Francisco Chronicle’ e outros publicaram que os países da América Latina ‘se afastam dos EUA’ devido à crise em Wall Street _e de ações como a volta da 4ª Frota.’


 


 


ELEIÇÃO
Fernando De Barros e Silva


Paradoxos de Marta


‘SÃO PAULO – Marta quis mobilizar o preconceito de uma sociedade conservadora contra seu adversário -logo ela, que tanto repete ser vítima do preconceito dos conservadores. A manobra foi baixa e deu errado. O saldo está aí: além da eleição, que deve perder no domingo, a petista comprometeu sua biografia. A derrota passa. A mácula fica.


Diferentemente do ‘relaxa e goza’, um deslize verbal desastroso, aqui se tratou de uma ação deliberada. A aposta no obscurantismo; a conversa da candidata de que ignorava o teor da peça; o endosso, ainda assim, à opção pela baixeza; a tentativa final de responsabilizar a mídia pelas ‘insinuações maldosas’ -nada serve como atenuante para a delinqüência premeditada.


Não obstante tudo isso, também é inegável a carga pesada de truculência sexista que há anos se volta contra a candidata, sem que muita gente se incomode, pelo contrário.


Tome-se a ‘Dona Marta’, expressão já trivializada, de evidente apelo regressivo. Ela evoca a ‘dona-de-casa’ ou a ‘dona Maria’ -fórmulas correntes de que o machismo se vale para desqualificar a figura feminina e negar à mulher independência de ação e de espírito.


Rica e bem-nascida, e ainda por cima loira de olhos azuis, madame Smith de Vasconcelos se atreve a defender os gays e a periferia. Como pode? ‘Dona Marta’ é o recado mais ameno que a mentalidade patriarcal dá a essa senhora abusada e insolente, como que para devolvê-la aos códigos de origem.


Marta gosta de abusar dos paradoxos. Se diz vítima das invasões bárbaras da mídia em sua vida pessoal, mas, prefeita, não hesitou em fazer de seu casamento um circo espalhafatoso para consumo das revistas de celebridades.


Ela quer brincar de Castelo de Caras nos dias pares e invocar escrúpulos contra os métodos da indústria do entretenimento nos dias ímpares. Quer combater preconceitos, mas empunha as armas do inimigo. A mulher emancipada ainda é uma dondoca da elite brasileira.’


 


 


BUSH
Fernando Rodrigues


‘W.’


‘NOVA YORK – O público aplaudiu quando acabou o filme ‘W.’ no final da tarde de sábado num cinema da rua 32. As salas estiveram lotadas por toda a cidade.


O filme de Oliver Stone sobre trajetória de George W. Bush estreou no fim de semana. Assemelha-se a outras incursões do diretor pela vida de ex-presidentes dos EUA -’JFK’ (91) e ‘Nixon’ (95). Há muita licença poética, um pouco de teoria da conspiração e escassa sustentação dos fatos. É entretenimento, não historiografia.


A diferença agora é o biografado ainda ocupar a Casa Branca. A mão de Stone esteve mais leve. Fez algum efeito. Bush termina inspirando mais pena do que ódio.


A abordagem cuidadosa só não elimina cenas constrangedoras. Entre a decisão de um bombardeio e outro, o homem mais poderoso do mundo fica sozinho assistindo a futebol americano na TV, comendo salgadinhos com seu cachorro. Deprimido ao saber da inexistência de armas de destruição de massa no Iraque, conversa com sua mulher no quarto. Laura Bush tenta animá-lo e promete… comprar ingressos para o musical ‘Cats’, a peça de teatro favorita de W.


Tony Blair, o ex-primeiro-ministro britânico, surge como um apatetado na tela. Condoleezza Rice é só uma dedicada bajuladora. Infantil, Bush anuncia orgulhoso ter parado de comer sobremesa. Quer expressar solidariedade aos soldados em guerra. Cristão renascido, comanda um momento de silêncio ao final de suas reuniões ministeriais. Cabeças abaixadas, todos colocam as mãos sobre a mesa. Rezam. A cena se repete depois de decidirem bombardear o Iraque.


Apesar de sua moderação, ‘W.’ é uma pedrada. Lançado em 2.030 salas de cinema, decerto não ajuda o republicano John McCain. Já para o democrata Barack Obama, a 15 dias da eleição presidencial, o filme chega no momento ideal.’


 


 


IGNOBEL
Ruy Castro


O tatu ataca


‘RIO DE JANEIRO – À falta do Nobel, o IgNobel. Dois cientistas brasileiros foram contemplados com o prêmio conferido anualmente pela revista americana ‘Annals of Improbable Research’, que contempla ‘trabalhos científicos que primeiro fazem rir e, depois, pensar’. O IgNobel é distribuído na mesma época que o Nobel, mas sem tanto alarde. Só lhe farão justiça se alguém ganhar os dois no mesmo ano.


Mas, enfim, Astolfo Mello Araújo e José Carlos Marcelino, da USP, levaram o IgNobel de Biologia por sua tese sobre como ‘o curso da história ou, pelo menos, o conteúdo das escavações em um sítio arqueológico pode ser remexido pelas ações de um tatu vivo’. Não ria. O assunto é mais sério do que parece.


Um tatu pode fazer misérias debaixo da terra, como deslocar um caco de vaso etrusco enterrado há 3.000 anos, a 12 metros de profundidade, e situá-lo ao lado de um urinol florentino do século 15 e de um LP de Rita Pavone de 1964 -e trazer tudo isso à flor da terra ao mesmo tempo, enlouquecendo os arqueólogos. Tatus, como se sabe, são bichos sem muito rigor histórico e, para eles, tanto faz que as camadas da terra virem uma farofa sem pé nem cabeça.


Astolfo e José Carlos chegaram à sua conclusão simulando um sítio arqueológico no zôo de São Paulo, usando tatus ali residentes. De repente, nem eles se entendiam: por mais absurdo, um par de suspensórios de Menotti Del Picchia, de 1919, coabitava no mesmo buraco com um pé de chuteira do palmeirense Waldemar Carabina, de 1957, e com a agenda telefônica de Bruna Surfistinha, de 2004, como se fosse tudo de uma época só.


É também a sensação que tenho ao ler festejados livros de memórias, publicados entre nós recentemente. Um tatu passou por aquelas páginas e misturou anos, décadas, até séculos.’


 


 


SEQÜESTRO EM SANTO ANDRÉ
Painel do Leitor


Seqüestro


‘‘O desfecho do resgate das adolescentes Eloá e Nayara tinha tudo para dar errado. De um lado, valorosos e experientes policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) tentando a rendição do delinqüente. De outro lado, emissoras de televisão -desesperadas em disputar a audiência- mostrando cada passo da polícia, inclusive a posição de cada atirador de elite e as possíveis formas de invasão do apartamento, com comentários de ‘especialistas em segurança’.


Tudo isso desconsiderando o fato de que no apartamento havia energia e um televisor ligado. Quanta irresponsabilidade!’


ADILSON CARVALHO DE ALMEIDA (São Paulo, SP)’


 


 


ELEIÇÕES NOS EUA
Daniel Bergamasco


Palin dança em show humorístico e encontra sósia


‘Já que não pode vencê-los, Sarah Palin se juntou no sábado aos humoristas do ‘Saturday Night Live’ para rir de si mesma, como já haviam feito os candidatos a presidente Barack Obama e John McCain.


A participação da vice na chapa presidencial republicana rendeu ao tradicional humorístico americana sua maior audiência desde 1994, projetada em 14 milhões de pessoas, o dobro da média neste ano.


‘Palin foi um sucesso estrondoso. Atingimos 10% das casas e 24% das TVs ligadas, é algo gigante para os EUA [onde grande parte da população tem TV a cabo]’, disse à Folha Tom Bierbaum, porta-voz da NBC, que exibe o programa.


Palin teve poucas falas, mas riu de sua versão em sátira feita pela atriz Tina Fey, que simulou o que seria a primeira coletiva de imprensa da candidata. Vendo Fey pela TV, Palin reclamava ao veterano produtor do show, Lorne Michaels, e perguntava porque ela não poderia imitar a humorista.


Nos telejornais das emissoras concorrentes, que reproduziram a participação, Palin foi elogiada por embarcar na piada e até elogiar o talento de Tina Fey em entrevistas.


Já a humorista, defensora engajada do Partido Democrata, disse: ‘Se alguém puder me ajudar a encerrar a imitação dessa senhora em 5 de novembro [dia seguinte à eleição], seria bom para mim.’’


 


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Hackers anônimos invadem a conta bancária de Sarkozy


‘Um grupo de escroques ainda não identificado invadiu pela internet uma conta bancária do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e fez o saque de pequenas quantias, acreditando que sua ação não seria notada.


A informação, publicada ontem em Paris pelo ‘Journal de Dimanche’, não esclarece o nome do banco ou o local da agência. Diz apenas que Sarkozy identificou a fraude em setembro e registrou boletim de ocorrência.


O promotor Philippe Courroye, do subúrbio parisiense de Nanterre, pediu que a brigada de combate ao crime organizado destacasse especialistas para investigar.


O vice-ministro para o Consumo, Luc Chatel, confirmou ontem o episódio em entrevista à Radio J. Disse ser de sua alçada a inviolabilidade das compras e operações bancárias feitas pela internet e que os saques da conta do presidente ‘são para nós um tema de reflexão’.


Segundo o ‘Journal de Dimanche’, a dificuldade de identificar os criminosos demonstra que não se trata de um grupo de amadores.


O jornal ‘Le Figaro’ revela que, segundo o Observatório Nacional da Delinqüência, os saques fraudulentos em contas bancárias aumentaram 9% em relação a 2007.


Passeata de professores


Cerca de 80 mil professores, segundo os organizadores da manifestação, ou 32 mil, de acordo com a polícia, saíram ontem às ruas em Paris para protestar contra o plano do governo de supressão de postos públicos.


A proposta de orçamento que o governo enviou à Assembléia Nacional prevê a eliminação em 2009 de 13.500 cargos no ensino fundamental ou médio.


O governo argumenta que o decréscimo demográfico diminuiu o número de matrículas nas escolas, tornando ociosa uma parcela cada vez maior de docentes.


O presidente Nicolas Sarkozy prometeu enxugar a máquina do Estado para diminuir a dívida pública e tornar o funcionalismo mais eficiente. O ensino e as Forças Armadas, as máquinas oficiais com mais servidores, serão os mais atingidos.


Com agências internacionais’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo prepara ‘Big Brother’ para o Nordeste


‘A Globo já está preparada para produzir blocos especiais da próxima edição de ‘Big Brother Brasil’ para o Nordeste e Estados com fuso horário diferente do de Brasília, como Mato Grosso e Amazonas.


Esses blocos só serão realizados caso as emissoras sejam obrigadas a cumprir integralmente a classificação indicativa nos Estados em que não há horário de verão.


Esse conteúdo extra iria ao ar, a princípio, apenas nas terças, dia de eliminações. Se tiver que cumprir a classificação à risca, a Globo só poderá exibir ‘BBB 9’ após as 22h locais, porque o programa é considerado pelo Ministério da Justiça como impróprio para menores de 16 anos. Assim, ‘BBB’ só começaria no Nordeste quando já estivesse acabando no Sudeste.


A Globo avalia que não faz sentido apresentar o ‘BBB’ das terças pré-gravado, porque o telespectador mais exigente acompanhará pela internet e descobrirá o eliminado do dia.


A solução, então, será produzir mais um bloco, após o término do programa no Sudeste, com entrevistas e imagens ao vivo do confinamento. Isso aumentará o trabalho e os custos.


Na terça passada, o ministro Tarso Genro (Justiça) autorizou as TVs a desconsiderarem o horário de verão para efeitos de classificação indicativa. Mas avisou que poderá revogar a medida se o Ministério Público Federal for contra. O MPF deve se manifestar nesta semana.


MISSÃO IMPOSSÍVEL 1


A Record está tendo dificuldades para escalar a protagonista da série ‘A Lei e o Crime’, prevista para 5 de janeiro. Uma reunião na última quinta não conseguiu resolver o problema.


MISSÃO IMPOSSÍVEL 2


Autor do programa, Marcilio Moraes afirma que ‘a dificuldade é geral’ porque, além de Globo e Record, SBT e Band estão produzindo novelas. ‘E a personagem é difícil: uma mulher elegante, rica, com origem nobre, que é delegada e está na faixa dos 30 anos’, diz.


NEGÓCIO NOVO


‘Negócio da China’, novela das seis da Globo que na semana passada bateu recordes negativos de audiência, é a primeira produzida totalmente sob a tutela do novo diretor artístico, Manoel Martins.


NEGRO DRAMA


O grupo de rap Racionais MC’s, tão avesso à grande mídia, é a estrela de uma nova campanha da Nike que tem o futebol de rua como tema.


OLHA EU


Um dos apresentadores do ‘Olha Você’, Alexandre Bacci anda descontente com o programa. Ele não se conforma que a direção da atração escale Claudete Troiano para ler notícias. Gostaria de ser a versão do SBT para Britto Jr. (Record).


PALANQUE


Entra no ar hoje em São Paulo, no canal 61 (aberto, mas só digital), aquela que será a futura Rede Legislativa. O canal começa com programação da TV Câmara e TV Assembléia (de SP). Em breve, terá também conteúdo da TV da Câmara Municipal e da TV Senado.’


 


 


Folha de S. Paulo


Baltasar Garzón vai ao ‘Roda Viva’


‘A TV Cultura leva ao ar hoje, às 22h10, uma entrevista inédita com o juiz espanhol Baltasar Garzón, conhecido por ter determinado, em 1998, a prisão do ditador chileno Augusto Pinochet, acusado de ordenar execuções e torturas contra adversários políticos. Desde 1988, Baltasar Garzón é um dos seis juízes da Audiência Nacional da Espanha que investigam crimes internacionais, inclusive os ocorridos fora do território espanhol. Ele atua no combate ao narcotráfico, terrorismo, lavagem de dinheiro e delinqüência econômica organizada.


Na sua mais recente decisão, Garzón determinou, no final de agosto, abrir uma investigação sobre as vítimas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e do franquismo (1939-1978) e solicitou informações de ministérios, Igreja Católica e governos municipais do país. Nunca havia sido aberto um processo de tais dimensões na democracia espanhola.


Garzón será entrevistado pela editora do caderno Mundo da Folha, Claudia Antunes; por Walter Maierovitch, presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone; por Carlos Marchi, repórter e analista de política do jornal ‘O Estado de S. Paulo’; e pela jornalista Jan Rocha, ex-correspondente da BBC e do jornal inglês ‘The Guardian’, no Brasil.


RODA VIVA


Quando: hoje, às 22h10


Onde: TV Cultura


Classificação indicativa: não informada’


 


 


LITERATURA
Eduardo Simões


Pamuk investiga mistérios da Turquia


‘Convidado de honra da 60ª Feira de Frankfurt, que terminou ontem, o escritor turco Orhan Pamuk, premiado com o Nobel em 2006, viu com otimismo a participação da Turquia como país homenageado do evento neste ano.


Logo no discurso na abertura da feira, no entanto, não perdeu a chance de criticar, diante do presidente da Turquia, a ainda precária liberdade de expressão de compatriotas que, como ele, já foram acusados de insultar a identidade turca.


Em entrevista à Folha anteontem, Pamuk disse que ‘as coisas estão melhorando’, mas que não se pode parar de criticar quando se tem oportunidade: ‘O que importa é quantos escritores ainda estão presos ou sendo processados’.


Em novembro, sai no Brasil ‘O Livro Negro’, romance de 1990 que Pamuk considera o mais importante em sua bibliografia porque apresenta ‘o estilo’ que viria a ser marca de sua obra. O escritor, que esteve no Brasil na Flip 2005, volta no fim do ano para fazer palestras. Leia trechos da entrevista.


FOLHA – Como avalia a participação da Turquia em Frankfurt? Sinal de mais liberdade de expressão?


PAMUK – Uns dez ou 15 autores turcos foram publicados por boas editoras na Alemanha, o que é importante. O resto é o trabalho da indústria do turismo do país, o que não me interessa. Talvez as coisas estejam melhorando. Mas há ainda muitos autores presos ou indo a tribunais. Até mesmo em ditaduras as pessoas dizem que as coisas estão melhorando o tempo todo, e isso não significa nada. O que importa é quantos escritores estão presos ou sendo processados. As coisas estão melhorando, mas não quer dizer que devemos parar de criticar se temos a oportunidade.


FOLHA – ‘O Livro Negro’, de 1990, será lançado em novembro no Brasil. Qual a importância dele?


PAMUK – Ele é muito importante para mim. No momento, estou planejando o segundo volume da minha autobiografia [o primeiro, ‘Istambul’, foi lançado em 2007 no Brasil]. Ele vai mostrar como eu me transformei de uma pessoa normal em um romancista. Será uma mistura de relato da minha vida pessoal, como foi ‘Istambul’, e um livro sobre a arte do romance. Este volume terminará com a publicação de ‘O Livro Negro’, em março de 1990, quando eu, após 17 anos de luta para publicar meus livros e sem ser editado na Turquia, finalmente encontro minha voz e estilo original e lanço meu melhor romance. Talvez não seja o mais popular, mas é o mais querido para mim. Na essência, o que eu faço em literatura nasce aí.


FOLHA – A crítica disse que ‘O Livro Negro’ é um romance policial que tem Istambul como um personagem central, que é um exercício de narrativa pós-moderna. Qual avaliação é verdadeira?


PAMUK – Ambas. É a história de um advogado em busca de sua mulher, que desaparece em Istambul. Está implícito que ela talvez esteja com um primo, um famoso colunista turco. Em alguns capítulos, lemos as suas colunas, que parecem ter pistas de onde estão. O advogado se torna uma espécie de detetive amador à procura de sua mulher por toda a cidade. Parece um romance policial, mas não se trata de ‘quem matou quem’. Mas sim de procurar pistas num mar infinito de possibilidades que é a própria cidade, com suas várias camadas de história, cultura popular, mistérios, segredos, grupos religiosos, submundos. E a narrativa também traz camadas e camadas de histórias…


FOLHA – Num artigo publicado em 2006 pelo ‘Herald Tribune’, o sr. critica a idéia de que um intelectual de um país pobre e não-ocidental deveria se ocupar dos problemas locais em vez de arte e literatura. O sr. também já declarou que não quer ser uma mera ‘ponte’ entre Ocidente e Oriente. Afinal, qual seu papel político como escritor?


PAMUK – No artigo eu citava Jean-Paul Sartre, que disse que, se fosse um intelectual de Biafra, seria um professor, não um escritor. Eu discordo dele. Mas sou essencialmente um escritor de obras literárias. Claro que a Turquia é um país com problemas. No entanto, esqueça isso de Ocidente e Oriente. É como perguntar a Clarice Lispector o que ela achava do norte e do sul. Ela pode até ter usado a ficção como desculpa para falar de tais questões. Mas não trabalho com clichês. Sou um escritor que fala do passado, dos mistérios da Turquia. Minha intenção não é representar o país, a não ser que esteja falando de mim. É como acredito que minha literatura deva ser. A expressão dos sentimentos fortes que trago em mim.’


 


 


FOTOGRAFIA
Denise Menchen


Autores abrem acervo pessoal de fotos


‘As fotos pessoais do jornalista e escritor Ruy Castro, 60, ficam em pastas espalhadas pela casa. As do jornalista político Villas-Bôas Corrêa, 84, em uma grande mala apoiada sobre o armário. Já as do poeta Ferreira Gullar, 78, estão armazenadas em álbuns que o poeta revisita de tempos em tempos. A partir de hoje, uma seleção dessas fotos estará disponível também nas prateleiras das livrarias.


Selecionados para encerrar a coleção ‘Álbum de Retratos’, os três abriram seu acervo pessoal de imagens e desfiaram histórias do passado a ouvintes atentos, que depois redigiram os textos que emolduram as fotografias, algumas já desgastadas pelo tempo.


O material foi organizado em três pequenos livros, que compõem a caixa ‘Palavra’. O lançamento será no Instituto Cultural Austregésilo de Athayde (rua Cosme Velho, 599, tel. 0/ xx/21/2556-0339), no Rio de Janeiro, às 20h de hoje. As caixas anteriores tinham como tema ‘Som’ (com fotobiografias de Jards Macalé, Dona Ivone Lara e Turibio Santos), ‘Imagem’ (Cacá Diegues, Lan e Walter Firmo) e ‘Corpo’ (Bete Mendes, Ruth de Souza e Zezé Motta).


‘Foi praticamente um saque. A turma levou o que quis’, diz, bem-humorado, Villas-Bôas Corrêa. A turma, no caso, são os editores e seus filhos Marcelo e Marcos Sá Corrêa.


A dupla assumiu a missão de legendar um álbum que reúne, a poucas páginas de distância, fotos de caçadas e cavalgadas no interior de Minas Gerais e de encontros com políticos, como os ex-presidentes Juscelino Kubitschek e José Sarney.


‘O livro torna a pessoa mais tridimensional. Meu pai já tem um livro de memórias que trata quase estritamente de assuntos públicos. A fotobiografia mostra também a vida doméstica, as manias e até as gaiatices’, diz Marcos Sá Corrêa.


No caso de Ferreira Gullar, colunista da Folha, funciona ainda como um convite a explorar sua obra. Além das fotografias guardadas nos álbuns do maranhense, o livro traz a força das imagens criadas por sua poesia. Trechos de obras marcantes de Gullar ladeiam as recordações da família, dos amigos, do exílio e dos locais onde trabalhou.


‘Eu quis fazer justaposições que provocassem sínteses e induzissem o leitor a procurar a obra dele. Me pareceu que havia um diálogo poético entre as imagens e os textos’, diz o também poeta Geraldo Carneiro, autor do volume.


Passeio amoroso


Já a escritora Heloísa Seixas optou por fazer um ‘passeio amoroso’ pela vida do marido, Ruy Castro, também colunista da Folha. Com farto material fotográfico nas mãos, revelou um pouco do bom humor e das paixões de Ruy, que, aos 11 anos, já aparece trabalhando como jornalista no interior de Minas Gerais.


Momentos marcantes da vida do autor, como a luta contra o câncer de garganta no momento em que escrevia a biografia de Carmen Miranda, também ganharam destaque.


Castro só foi apresentado ao texto ao término da primeira versão. ‘A primeira coisa que ele fez foi torcer o nariz e dizer que não achava o personagem interessante’, conta Heloísa.


À reportagem, porém, admitiu ter ficado satisfeito. ‘Quando eu gosto de certas coisas, eu gosto demais. É o Rio, o futebol, a música popular, sorvete, gatos, mulheres, trabalho, jornal, revista, coisa velha… Acho que o livro passa isso’, disse Ruy Castro. ‘Eu não mudaria nada.’


ÁLBUM DE RETRATOS


Autores: Geraldo Carneiro (Ferreira Gullar), Heloísa Seixas (Ruy Castro), Marcelo Sá Corrêa e Marcos Sá Corrêa (Villas-Bôas Corrêa)


Editoras: Folha Seca/Memória Visual


Quanto: R$ 22 (cada livro) ou R$ 60 (caixa com os três)’


 


 


PAUL KRUGMAN
Álvaro Pereira Júnior


Um blogueiro ganha o Nobel


‘O MAIS BACANA no Prêmio Nobel de Economia de 2008, concedido na semana passada ao americano Paul Krugman, não é a brilhante carreira acadêmica dele, nem a elegância das teorias que desenvolveu, nem as dezenas de livros que escreveu ou editou, nem os artigos que publica duas vezes por semana no ‘New York Times’. Para mim, o mais legal é que Krugman é também… blogueiro.


E blogueiro dos bons, do tipo que posta direto, inclusive no dia em que venceu o Nobel. Logo cedo, ele deixou uma simpática mensagem: ‘Uma coisa engraçada aconteceu comigo hoje de manhã’. Daí vinha um link. Clicando, você caía no anúncio oficial de que Krugman era o novo Nobel de Economia.


Não sou do tipo que acha a internet a salvação do Universo, procuro ser crítico em relação a isso. Mas não dá para negar, nesse caso, a importância de uma ferramenta como um blog ao aproximar um pensador do nível de Krugman de absolutamente qualquer pessoa do mundo que fale inglês e tenha acesso à web.


Se você não tem formação em ciência ou economia, imagino que simplesmente ignore as premiações do Nobel. Não é para menos: em geral quem ganha são uns coroas que estudam temas doidos e falam de um jeito muito distante dos mortais.


Até sabemos que eles fizeram coisas importantes, temos noção de que o Nobel é o máximo. Mas ficamos do lado de cá , o dos ‘normais’, enquanto os premiados vivem em seu Olimpo particular.


Mas Krugman, o Nobel blogueiro, quebra esse padrão. Escreve bem, escreve claro e escreve sempre. Em posts recentes, autobiográficos, relembra que já tinha 25 anos e não sabia que carreira sair. Depois, quando já tinha virado professor, não conseguia destaque e teve negados vários pedidos de verba para pesquisa. É excelente e está aqui: krugman.blogs.nytimes.com.’


 


 


 


************


O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 20 de outubro de 2008


 


ELEIÇÃO
O Estado de S. Paulo


Audiência média foi de 14 pontos, informa rede


‘A Rede Record registrou ontem 14 pontos de média no horário em que foi transmitido o debate entre os candidatos Gilberto Kassab (DEM) e Marta Suplicy (PT) – o que, segundo a emissora, a pôs na vice-liderança. O pico chegou a 20 pontos.


Os dados, preliminares, são medidos pelo Ibope na Grande São Paulo. Cada ponto de audiência representa 56 mil domicílios na região. A média na Record para o horário é de 12 pontos, segundo o Ibope.


No debate que promoveu no dia 28 de setembro, também domingo, ainda no primeiro turno, a Rede Record obteve média de 12 pontos.’


 


 


ITÁLIA
Renata Miranda


A filha rebelde do premiê Berlusconi


‘A oposição na Itália parece ter encontrado uma nova heroína. Com cabelos loiros e longos, rosto de boneca e um sobrenome famoso, Barbara Berlusconi caiu nas graças da esquerda italiana com suas declarações sobre a ética na política. ‘A questão do conflito de interesses precisa de regulamentação e regras para impor uma conduta correta devem ser implementadas e observadas’, disse Barbara, de 24 anos, durante um debate sobre ética nos sistemas econômicos.


O fato de as declarações virem da filha de um homem acusado de abuso de poder e investigado por corrupção é, no mínimo, curioso – especialmente após Berlusconi conseguir a aprovação de uma lei que o torna imune à Justiça.


As alfinetadas públicas de Barbara têm se tornado corriqueiras. Aos 21 anos ela afirmou que proibiria seus filhos de assistirem a programas de TV transmitidos pelo conglomerado midiático de seu pai.


Para o jornal de esquerda Liberazione as manifestações da jovem mostram que agora ‘governo e oposição estão contidos na mesma família’. ‘Sou filha de Berlusconi, mas isso não me impede de ter idéias próprias’, afirmou Barbara ao jornal britânico The Times. Ela garante que suas opiniões não causam mal-estar na família. Barbara é filha do segundo casamento de Berlusconi e parece seguir os passos da mãe, a ex-atriz Veronica Lario, nas posições liberais. Veronica – que vive numa mansão longe de Berlusconi – já criticou a guerra no Iraque, apoiada pelo marido, e uma vez indicou que não teria votado no Força Itália.


Para especialistas, porém, as declarações de Barbara não passam de um jogo político entre ela e seu pai. ‘Barbara não está agindo fora do controle de Berlusconi’, afirmou ao Estado, por telefone, o pesquisador Francesco Grillo, do centro de estudos Vision, em Roma. O professor de Relações Internacionais James Walston, da Universidade Americana de Roma, avalia que as declarações de Barbara têm pouco efeito. ‘O próprio fato de a oposição estar demonstrando apoio a ela explicita a falta de opositores no país.’’


 


 


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Agências sentem reflexos da crise


‘Os reflexos da crise financeira já são sentidos no meio publicitário. Ainda não se sabe a extensão do estrago, mas as demissões já deram as caras. Fora isso, como explica o sócio da consultoria McKinsey & Company, Fabian Barros, especializado em análise de mídia, em tempo de queda do crescimento do PIB, como o que já se prevê para o ano que vem, o gasto das empresas com propaganda historicamente se retrai em, no mínimo, 5% em relação ao ano anterior. ‘Com o PIB crescendo menos, o sinal de alerta é disparado entre os anunciantes e o corte dos investimentos em publicidade fica inevitável’, diz Barros.


Para quem já conviveu com momentos críticos da economia, o cenário que se desenha não chega a surpreender. ‘Quem sofre em empresas de prestação de serviços são os funcionários, porque a folha de pagamento é o que mais pesa’, lamenta Roberto Duailibi, sócio da agência DPZ. ‘Com a redução de pessoal, a agência sobrevive mal, mas pode até obter lucro e se manter. Passado o pico de ajustes do mercado, o setor tende a se reconfigurar.’


A maneira como se redesenha é sempre uma incógnita. ‘Nas crises de 1999 e de 2002, várias agências que estavam iniciando atividades desapareceram, e outras menores foram compradas por maiores’, lembra Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom, dono da agência Fischer América. ‘Todas as crises são aterrorizantes, mas são também uma forma de a economia se fortalecer.’


Por isso mesmo, para Fischer, ‘o maior estrago desses últimos períodos de retração talvez tenha sido a falta de renovação das lideranças do setor. Sinto como se tivéssemos pulado uma geração’. Ainda hoje, os profissionais de maior visibilidade da publicidade brasileira são os que passaram da casa dos 50, como Nizan Guanaes e Washington Olivetto.


Do lado prático, Duailibi conta que, como reação ao clima de contenção que já se acena, começou o movimento de ofertas da carteira de clientes entre agências. ‘Aqui recebemos pelo menos quatro interessadas em acordo comercias’, diz.


Mesmo que todos reconheçam que o negócio da publicidade é, por excelência, o negócio de otimizar oportunidades, que se multiplicam na crises, não dá para tapar o sol com a peneira. A redução de quadros se espraia. Agências como DM9DDB, McCann-Erickson e Eugênio já oficializaram cortes.


Martin Sorrell, presidente do grupo WPP, um dos maiores conglomerados de propaganda e serviços de marketing do mundo, reconheceu, em recente visita ao Brasil, que há pânico no ar, mas ele espera que o ‘mundo real’ reaja e mostre que o cenário ‘não é tão dramático’. Entre as razões para esse moderado otimismo estão os inevitáveis investimentos que serão feitos nos preparativos para os acontecimentos que mobilizam grandes platéias já a partir do ano que vem, como a Copa do Mundo de Futebol na África do Sul, os Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver, a Feira Mundial de Xangai e os Jogos Asiáticos, todos em 2010.


Para o Brasil, Sorrell sinaliza perspectiva melhor, por causa da aposta de que os grandes anunciantes estão fazendo para os mercados emergentes, que devem sofrer menos com a crise global. ‘Acredito que, dentro de cinco anos, o grupo WPP será mais latino, africano e asiático do que é hoje’, disse.


Na mesma linha de que não adiante chorar sobre o leite derramado, Fábio Fernandes, presidente da agência F/Nazca Saatchi & Saatchi, tem empunhado nos últimos dias a bandeira do otimismo para o mercado nacional. Até por isso mesmo, enfrentou críticas de Nizan Guanaes, que tem uma visão mais pessimista do momento econômico atual.


‘Temos sim de nos preparar para a crise, mas também pensar que ela vai acabar’, diz Fernandes. ‘O nosso dever é nos planejarmos mais para atender melhor às ansiedades de consumidores aflitos e assustados com o que se está veiculando na mídia. Nosso negócio é a criatividade. Se o momento é de depuração do setor, defendo que vai sair valorizado quem planejar melhor as ações de marketing dos seus clientes, quem comprar mídia com mais eficiência nesse momento’, diz. Segundo Fernandes, na F/Nazca a ordem não é cortar, mas trabalhar mais.’


 


 


Stuart Elliott, The New York Times


‘A vida dói. Risadas ajudam’


‘Por mais de um ano, bancos, companhias de seguros e corretoras têm feito campanhas que abordam as condições econômicas tumultuadas. Agora, eles têm companhia.


Fornecedores de produtos sem relação com o mundo das finanças estão entrando em cena, substituindo anúncios que procuram tirar vantagem da atenção que o público está prestando à crise de crédito.


‘A vida dói. Risadas ajudam’ é o tema de uma campanha da HBO Video, parte da divisão HBO do grupo Time Warner, que vende DVDs de seriados de comédias. A campanha cita várias situações que requerem senso de humor.


A campanha nas revistas de utensílios de cozinha para a rede de varejo Crate & Barrel tem abordagem similar: ‘À prova de forno. À prova de máquina de lavar. À prova de crise’. Porque as panelas são feitos de aço inoxidável e esmaltados, eles são ‘um investimento duradouro’, promete o anúncio.


A rede de lojas de roupas Brooks Brothers também publicou anúncios que reimprimem uma propaganda de 1942 sobre os ternos da loja. ‘Comprar na Brooks Brothers é um investimento’, dizia o anúncio antigo, enfatizando que as roupas mais econômicas ‘são aquelas feitas para durar’. ‘Assim como nosso anúncio dizia na década de 1940, durante os tempos de incerteza, Brooks Brothers ainda são um investimento em que você pode confiar’, emenda o anúncio atual da rede.


Os marqueteiros que estão do lado de fora da indústria financeira têm dirigido campanhas que são inspiradas na economia claudicante. Os anúncios apresentam os produtos como compras inteligentes, pois sugerem que fazem o dinheiro valer. Mas não fazem menção direta a porquê os consumidores devem estar segurando os trocados. Os novos anúncios da crise invocam manchetes de jornais em uma tática conhecida no mundo do marketing como ‘interesse emprestado’ – que espera atrair a atenção do consumidor a partir de assuntos de interesse nacional.’


 


 


SEVERIANO RIBEIRO
Jotabê Medeiros


O rei dos cinemas


‘É uma história de um século de cinema e que passa por quatro gerações. É também uma história de como o Brasil se acostumou a ir ao cinema. E é ainda uma história de como o cinema se acomodou ao Brasil, espalhando-se por todo o território nacional.


O lançamento do livro O Rei do Cinema – A Extraordinária História de Luiz Severiano Ribeiro, O Homem Que Multiplicava e Dividia (Editora Record, 206 págs., R$ 37), de Toninho Vaz, conta a história de um clã das salas de cinema no Brasil, uma dinastia que se inicia com o médico cearense Luiz Severiano Ribeiro, de Baturité, e prossegue com seus sucessores: o filho Severiano Ribeiro, obcecado criador de salas; o filho deste, Ribeiro Júnior, produtor das chanchadas da Atlântida; chegando até o atual Luiz Severiano Ribeiro Neto, administrador de uma cadeia de 208 cinemas em várias cidades brasileiras.


O segundo Severiano, o ‘Lampião’ (ou Imperador), voraz construtor de cinemas, reaplicava tudo o que ganhava. Assim, conta Vaz, antes dos 40 anos ele já era um ‘tycoon tupiniquim’, dono da maior cadeia de salas do País. Sua história é um épico rodeada de outros grandes épicos e salões requintados, adornados por mármore de Carrara, como o Cine Moderno de Fortaleza, palacete art-nouveau aberto em 1921 com a exibição de Carmem, de Ernst Lubitsch.


‘Tinha a característica de possuir uma cadeia de cinemas e não gostar de assistir a filmes. Mesmo sendo herdeiro de uma família rica, de aristocratas do café, ele começou a vida vendendo gelo em Fortaleza’, conta Vaz. Era implacável na defesa do seu ‘território’ cinematográfico. ‘Difundia-se a lenda de que qualquer tentativa de abrir outros cinemas estaria destinada ao fracasso, uma vez que Severiano Ribeiro detinha o monopólio da distribuição.’


É pouco provável que o leitor, qualquer que seja sua idade, já não tenha se sentado em uma poltrona de um cinema Severiano, o segundo maior grupo exibidor do País (o primeiro é a rede Cinemark). Em 2006, segundo dados da companhia, o grupo alcançava 15 milhões de espectadores por ano – público que consumia 2,3 milhões de sacos de pipoca e 1,8 milhão de litros de refrigerantes.


Luiz Severiano Ribeiro Júnior, filho e seguidor de Lampião, foi o principal nome da Atlântida Cinematográfica. Financiou algumas das grandes chanchadas da Atlântida, sucessos de público que até hoje dificilmente são igualados, como O Homem do Sputnik, de 1959, comédia dirigida por Carlos Manga, visto por 15 milhões de brasileiros (numa época em que a população do País era de 60 milhões de pessoas).


‘Lembro que acreditaram em mim e me deram a primeira direção no início dos meus 20 anos’, conta Carlos Manga. ‘Começaram quando o cinema era uma novidade, e ainda mudo.’


Toninho Vaz, que também escreveu Paulo Leminski – O Bandido que Sabia Latim, compara Luiz Severiano Ribeiro, o Lampião, ao paraibano Assis Chateaubriand, que foi dono da maior cadeia de comunicação do Brasil. ‘Ambos tinham um trauma comum: eram alvos de críticas que, na maioria das vezes, tinham suas origens numa nebulosa avaliação da lisura ética dos grandes impérios enquanto formadores de cartéis’, considera o escritor.


Além de lançar a biografia dos Severianos, a Editora Record também editou um álbum ricamente ilustrado que traz em fotos e depoimentos a história desse império exibidor que chegou ao Rio de Janeiro em 1925 – um ano depois, já arrendava o Cine Atlântico, e onde instauraria aquilo que hoje é conhecido como Cinelândia.


A família Severiano sempre teve aversão à exposição pública – alergia causada pelas críticas que receberam. O escritor Sérgio Porto chegou a escrever uma crônica onde acusava a família de querer transformar o cinema numa indústria, meta hoje perseguida pelo Ministério da Cultura. ‘Os críticos, nos jornais importantes, atacavam pelos dois flancos, acusando o velho Ribeiro de sustentar um cartel e o filho Júnior de fazer filmes de baixa qualidade, tentando imitar o padrão de Hollywood’.’


 


 


FEIRA DO LIVRO
Ubiratan Brasil


O futuro do livro, na palma da mão


‘Dentro de dez anos, muito provavelmente não acontecerão cenas desconfortáveis como a que marcou o primeiro dia do estande do Brasil na Feira de Frankfurt: prateleiras completamente vazias, com as quase duas toneladas de livros retidas na alfândega de Madri. Ao menos, é o que prevê a maioria dos editores presentes a Frankfurt, no maior evento literário do mundo que encerrou ontem sua 60ª edição – uma pesquisa realizada pelos organizadores com mais de mil representantes do mercado editorial de todos os continentes aponta 2018 o ano em que os livros eletrônicos, os chamados e-books, superarão em volume de negócios os existentes hoje, em papel.


‘A chegada do livro digitalizado é inevitável’, comentou Juergen Boos, diretor da feira, lembrando que, já neste ano, 361 exibidores (ou 5% de um total de 7.373) incluíram e-books em seu mostruário. Se o número ainda parece ínfimo, revela um grande crescimento em relação ao ano passado, quando aproximadamente 2% já tinha aderido à nova tecnologia. ‘É importante notar que 42% dos produtos que estavam em exibição aqui eram livros, enquanto 30% eram digitais’, observou.


O assunto prometia ser o prato principal da feira desde seu início, quando Paulo Coelho, convidado a participar da abertura oficial, fez menção ao fato em seu discurso. ‘Os livros digitais reclamam seu espaço e tudo indica que chegará o momento em que o digital superará o papel’, disse o escritor. ‘O tempo que falta até isso acontecer é o que resta a autores e editores se adaptarem até sermos alcançados pela rede mundial.’


A contagem regressiva, de fato, começou. ‘Não sei se precisaremos esperar uma década’, acredita Paulo Rocco, presidente do selo editorial que leva seu nome. ‘Acho que em cinco anos o e-book já terá ocupado um espaço considerável.’ Segundo ele, a corrida, no entanto, movimenta hoje mais a indústria que vai desenvolver as ferramentas para carregar o texto dos livros que propriamente o mercado editorial. ‘Estamos esperando pelas novidades para então fornecermos as obras.’


Exemplos já não faltam – um novo estande, Books & Bytes, surgiu na feira deste ano, em que algumas empresas apresentaram seus modelos. Com o Kindle, aparelho de compra e leitura de e-books da Amazon.com. Ou o produto criado pela Sony, que orgulha-se de abrigar 160 livros em uma pequena pasta e que já está à venda na França, por 300 euros. Na Alemanha, o aparelho deve chegar em março, pois o mercado ainda está preocupado com a acomodação que deverá fazer com a nova tecnologia.


O cuidado com os direitos autorais, por exemplo, e seu principal rival, a pirataria digital. ‘É importante, pois com esses mecanismos será possível comprar desde a obra completa como apenas uma parte, algo como apenas um parágrafo’, imagina Rocco. ‘Quando o leitor pagar, digamos, R$ 2 por um trecho, será preciso ter um controle dessa quantia.’


O assunto motivou um debate durante a feira, que reuniu profissionais já ocupados com tais temas. Como Eric Merkel-Sobotta, da Springer, uma das maiores editoras de livros científicos do planeta e que já oferece cerca de 3.400 novos e-books por ano, além de disponibilizar cerca de 25 mil títulos na internet. ‘A regulamentação atual já representa um bom começo, mas teremos, é evidente, de cuidar dos detalhes’, comentou. ‘O livro como existe hoje tem a grande capacidade de ser um bem público, pois pode passar por várias pessoas. O mesmo acontecerá com o e-book: ao baixar um texto, por exemplo, o leitor terá a opção de tê-lo apenas em seu aparelho ou, a partir de outra quantia, disponibilizá-lo para, digamos, outras seis pessoas.’


As obras de referência, desde científicos até os de uso geral (como de turismo, culinária etc.), deverão ser os primeiros a ganhar impulso digital. ‘São textos que necessitam de constantes atualizações’, explica Ronald Schild, da MVB, empresa responsável pelo serviço de marketing do comércio livreiro alemão. Ele gerencia um ambicioso projeto, o Libreka, criado em 2005 com a finalidade de criar uma biblioteca digital, ou seja, oferecer ao leitor tanto obras clássicas, como Goethe, quanto as mais populares, como aventuras de Perry Rhodan – mas todos em língua alemã.


Hoje, estão já disponíveis para consulta cerca de 2.300 livros, a maioria ligada à área das ciências sociais, do direito e da economia (601 obras), todos com versão digital à venda. ‘A expansão dessa tecnologia vai provocar mudanças importantes também nos livreiros’, acredita Schild. ‘Será uma ótima oportunidade para as pequenas empresas, que hoje não dispõem de espaço para abrigar muitos livros, oferecerem um catálogo de fazer inveja a qualquer megastore.’


Para isso, acredita ele, terá mais sucesso quem criar uma rede de compradores fiéis. ‘Será preciso intensificar o sistema de relacionamento personalizado em que o leitor é informado dos lançamentos que lhe interessam.’


Editores não acreditam, porém, no fim definitivo do livro em papel. ‘Esse continuará insubstituível para parcela dos leitores que jamais vão se desfazer, por exemplo, de seu dicionário favorito’, acredita Luciana Villas-Boas, da Editora Record. ‘Também os livros infantis sobreviverão, pois, para criança, o contato tátil é essencial’, completa Paulo Rocco. Ambos, porém, acompanham atentos à mudança inevitável.


Vitrine Alemã


A editora argentina Adriana Hidalgo aumentou sua coleção de escritores brasileiros (já publica Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu) com a tradução de duas obras de Guimarães Rosa, Sagarana e Grande Sertão: Veredas. Grande feito, uma vez que os herdeiros do escritor são extremamente zelosos com sua obra.


O prêmio Nobel de literatura em 2006, o turco Orhan Pamuk ostentou um inédito bom humor para divulgar seu novo livro, Museum of Innocence (Museu de Inocência), uma história de amor entre o filho de uma família rica de Istambul e sua parente distante e pobre. Pamuk revelou uma visão particular da paixão – para ele, o amor verdadeiro assemelha-se mais a um acidente de trânsito que às versões adocicadas que se vêem na ficção romântica.


Já o alemão Günter Grass, também ganhador de um Nobel (1985), festejou seus 85 anos na sexta-feira, conversando com leitores na Feira de Frankfurt. Veio também promover Die Box (A Caixa), continuação de suas memórias que deverão ser editadas no Brasil pela Record. Convidado a opinar sobre a crise financeira mundial, o autor de O Tambor entortou o bigode: ‘Os banqueiros que criaram o problema é que devem pagar a conta e não nós, cidadãos comuns.’


Sir Henry não abana facilmente o rabo, mas foi paciente ao autografar seu livro Aqui Escreve Mops. Trata-se de um cachorro que ?promoveu? uma sessão de ?autógrafos? em que uma impressão em tinta da sua pata era deixada em cada livro.


Três projetos ambiciosos (dois dos Emirados Árabes e um do Egito) pretendem apressar a tradução de obras ocidentais para o árabe. Uma delas, Tarjem, dos Emirados, já traduz um livro por dia, além de ter firmado contrato com 26 editoras.


País homenageado em 2009, China anunciou que vai convidar editores de Taiwan, Macau e Hong Kong. Nada foi dito, porém, sobre o Tibete.’


 


 


***


Crise financeira repercute entre editoras do mundo inteiro


‘A crise que há semanas assola o mercado financeiro mundial provocou arranhões no grande comércio literário que é a Feira de Frankfurt. Nos primeiros dias do evento, editores espanhóis confirmaram já notar uma ligeira queda nas vendas de livros de pequenas tiragens, ainda que os best-sellers continuassem exibindo boa saúde.


Também os negócios, prato principal que atraiu neste ano 7.373 exibidores entre editores e livreiros, oscilaram, ainda que não com a mesma violência que marcou as bolsas de todo o mundo. ‘Percebi que os agentes literários norte-americanos estavam muito cuidadosos em seus negócios, buscando apenas contratos confiáveis’, conta Angel Bojadsen, da Estação Liberdade. ‘Normalmente, eles são mais atuantes e agressivos.’


Os editores de países emergentes, aliás, irritaram-se com o que pareceu ser um repasse de conta, ou seja, inflação exagerada na venda de direitos. ‘Chegaram a me oferecer um bom livro sobre genocídios contemporâneos, mas o preço pedido (quase 50 mil dólares) é muito alto para uma obra que não terá tanta repercussão no Brasil’, conta Luciana Villas-Boas, da Record


Ela notou ainda o aumento exagerado na organização de leilões, ou seja, um estímulo para que editoras do mesmo país se engalfinhassem até que a vencedora fosse obrigada a pagar um valor muito superior ao que normalmente seria desembolsado. Disputas como essa, segundo ela, antes só aconteciam quando surgia o candidato a ser o blockbuster do momento.


Crente de que o temporal só assola o quintal alheio, o diretor da Feira de Frankfurt, Juergen Boos, disse que o mercado livreiro tem as próprias regras e não se contamina tão facilmente com a crise financeira. ‘Os livros são muito resistentes aos ciclos econômicos negativos’, anunciou. Ainda que não tão otimista, Paulo Rocco acredita que, no Brasil, o efeito não será grande. ‘Aqui, a literatura infelizmente é consumida pela elite, que sabe absorver o golpe.’’


 


 


TELEVISÃO
Alline Dauroiz


Embrapa vira novela


‘Caminho das Índias, novela de Glória Perez, só estréia em janeiro, mas a Globo já encomendou ao autor Benedito Ruy Barbosa o folhetim das 9 que a substituirá. ‘Será uma trama contemporânea, rural e urbana’, explica o autor.


Entre os temas abordados, Barbosa quer dar ênfase ao trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. ‘Quero falar do trabalho do Brasil na produção agrícola, dos pesquisadores que trabalham para melhorar nossas sementes e rebanhos. Ninguém lembra da existência desses heróis anônimos.’


Há seis meses, o autor pesquisa sobre o assunto e diz querer visitar o sul de Minas, o interior paulista e Goiás. ‘As locações devem ficar no Rio e entre Minas e Goiás.’


PANTANAL


Sobre a ação que move contra o SBT para suspender a reprise de Pantanal, Barbosa conta que o juiz decidiu não tirar a novela do ar, pois poderia se caracterizar como ato de censura. ‘Ele determinou que eu entrasse com novo processo pedindo indenização e pagamento de meus direitos autorais.’’


 


 


COLUNA
O Estado de S. Paulo


Direto da Fonte agora vai ficar 24 horas no ar


‘A partir de hoje, a coluna Direto da Fonte, coordenada pela jornalista Sonia Racy, publicada na página 2 do Caderno 2 e que cresce aos domingos para duas páginas no Cultura, fica 24 horas no ar. Coincidindo com seu aniversário de 1 ano no Caderno 2, ocorrido no sábado, a coluna ganha espaço exclusivo no portal do Estadão. É o www.estadao.com.br/diretodafonte.


‘Percebemos diariamente que muitas notas da versão impressa podem ser ampliadas e complementadas, então o site vai possibilitar que isso ocorra, além de permitir maior agilidade e a velocidade do tempo real da internet’, diz Sonia Racy, que comandou a coluna Direto da Fonte no caderno Economia por 16 anos. ‘As possibilidades da rede são imensas e isso de forma alguma esvazia de informações a coluna impressa.’


Para comemorar o aniversário e a chegada do site, haverá um coquetel para convidados na Livraria da Vila do Shopping Cidade Jardim, a partir das 19 horas de hoje. O espaço na internet, que ficará sob a coordenação da jornalista Doris Bicudo, vai publicar a cobertura mais ampla dos eventos. ‘Será uma versão mais light, com muitas fotos e que vai tratar de lazer e variedades’, diz Sonia Racy.


Quando foi inaugurada no Caderno 2, em 18 de outubro do ano passado, a Direto da Fonte foi ‘vitaminada’. Não falaria só de economia, falaria de tudo o que é notícia. Sonia Racy dá um exemplo prático. ‘Certa vez conversava com a assessoria da Aeronáutica e me perguntaram o que seria notícia para a coluna’, diz. ‘Respondi que tudo seria: do design do uniforme até informações sobre a segurança aeroespacial.’’


 


 


 


************