Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Soraya Aggege, Ricardo Galhardo e Fernanda Medeiros

‘Petistas e malufistas nem se deram ao trabalho de disfarçar o acordo que resultou numa dobradinha entre Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PP) contra o tucano José Serra no debate da TV Globo, anteontem. A aproximação ficou evidente, e Maluf continuou defendendo Marta mesmo depois do fim do debate.

O ex– prefeito concordou com Marta quando ela chamou Serra de ignorante.

– Falei para o Chico Pinheiro (mediador) que ele errou, porque aquele foi o melhor momento para o Ibope, e ele mandou parar. Marta tinha toda a razão quando chamou Serra de ignorante. Ele foi ignorante mesmo. Mas Serra não poderia ter chamado Marta de arrogante. O máximo que se diz para uma mulher é: você não foi elegante– disse Maluf, depois do debate.

Marta também elogiou Paulo Maluf:

– Não achei que me apoiou. Ele fez as propostas dele. Aliás, ele tinha propostas. Os outros não, passaram o tempo todo, a campanha toda, sem propostas, só batendo em mim.

Maluf: ‘Vou para o segundo turno’

Terminado o embate, Maluf deu um longo abraço no senador Aloizio Mercadante (PT– SP) e cochichou algo em seu ouvido. Informado de que a cena fora fotografada, o petista aprovou:

– Pode mandar publicar– disse. Sobre o conteúdo da conversa ao pé do ouvido, o senador afirmou que Maluf sempre age de forma inesperada.

Maluf negou a dobradinha:

– Eu não tenho o rabo preso com o PT nem com o PSDB. Eu vou para o segundo turno, disputar com a Marta porque, pelas minhas pesquisas, ela está na frente do Serra, que está despencando, enquanto eu cresço.

Ele acusou os tucanos de usarem a tática:

– Eles não têm autoridade moral para falar disso, já que dobraram com o Ciro Moura (PTC) e com o ‘Peroba Neles’ (Osmar Lins, do PMN) – disse.

Mercadante disse que não é bom explicitar apoios antes de os votos serem contados.

– O segundo turno é para ampliar as alianças. Temos que aguardar, respeitar os outros candidatos. Todos têm o direito de achar que vão para o segundo turno e é preciso respeitar isso. Depois que as urnas forem apuradas, vamos buscar personalidades, partidos, as lideranças – disse o senador.

A candidata Luiza Erundina (PSB) falou em ‘relacionamento paz e amor’.

– Nunca vi tanta paz e amor entre a Marta e o Maluf. E nunca vi uma virada tão radical de uma candidatura a favor de outra candidatura como essa – disse Erundina.

Serra também fez dobradinhas

Do lado tucano também houve dobradinhas. Além do acordo com Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT), que poupou Serra durante todo o programa, o candidato Ciro Moura (PTC) conseguiu na Justiça o direito de participar do debate e irritou os petistas, que o consideram ‘língua de aluguel’ dos tucanos.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, esbravejou:

– Serra, Paulinho e Ciro passaram o tempo todo servindo de escada um ao outro.

Marta também se irritou:

– Ciro Moura passou a eleição inteira batendo em mim.

Moura admitiu que foi tesoureiro do PRN do ex– presidente Fernando Collor e que é um político de direita. Para ele, o PT é um inimigo porque é de esquerda. Já o PSDB é mais semelhante ao seu ideário:

– Não somos iguais, somos semelhantes. Iguais não são semelhantes.

Serra afirmou que não comentaria a dobradinha PT– PP.

– Sou o maior interessado em provar que um ficou defendo o outro (Marta e Maluf).

E negou acordo com Moura.

– Não houve acordo prévio e nem teria como. Só soube quando cheguei aqui que ele conseguiu uma liminar para participar do programa.

Terminado o debate, Maluf disse ao senador Eduardo Suplicy que fora vizinho de sua mãe e poderia ser seu cunhado, se tivesse namorado e casado com uma de suas irmãs.

O roqueiro Supla socorreu o pai:

– Maluf, é um prazer conhecer o senhor. Acho que se o senhor perder a eleição, não deveria abandonar a vida pública. Acho que o senhor deveria ser comediante. Isso é um elogio.’



O Globo

‘Audiência sobe’, copyright O Globo, 02/10/04

‘A audiência da Rede Globo aumentou de 25,7% dos televisores ligados nas últimas quatro quintas– feiras para 31,3% na noite do debate entre os principais candidatos a prefeito de São Paulo, conforme dados do Ibope. Das 22h13m à 0h01m, tempo em que o debate foi realizado, 57,7% dos televisores da capital paulista estavam ligados, número um pouco superior aos 56,5% em média das últimas quatro semanas.’



Giampaolo Braga

‘Bate-boca e descontrole emocional em debate prejudicam candidatos’, copyright O Globo, 02/10/04

‘Longe de ser um vale– tudo na busca por votos, o debate eleitoral também tem suas regras de etiqueta. No decálogo do debatedor, estão conselhos como ter cuidado com ataques e não se desentender com o moderador. No debate de quinta– feira entre os candidatos a prefeito do Rio, porém, nem todos conseguiram se manter na linha.

A lista com dicas para os candidatos foi elaborada pelo cientista político Francisco Ferraz. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ferraz edita o site ‘Política para Políticos’, um portal de consultoria para quem disputa um cargo eletivo. Ferraz afirma que há regras que valem para qualquer caso.

– Mais do que analisar propostas, o eleitor quer no debate comparar candidatos – explica. – Ele presta atenção na postura, na atitude e na personalidade de cada um.

Eleitor não perdoa quem perde o controle

Para Ferraz, um bate– boca como o ocorrido entre Cesar Maia (PFL) e Luiz Paulo Conde (PMDB) tira pontos dos candidatos:

– Eleitor não perdoa candidato que perde o controle. A imagem que fica é de alguém despreparado. O raciocínio é que, se o candidato não agüenta o estresse do debate, não vai suportar o da administração.

Discutir com o mediador, como fez Jandira Feghali, também não é boa idéia, diz Ferraz:

– O mediador é visto como alguém isento. Quem discute com ele fica com a imagem de inconveniente.’



Daniela Name

‘Balas, reza, pés nervosos, teve de tudo no Rio’, copyright O Globo, 02/10/04

‘Há um debate entre os candidatos a prefeito no Rio que a televisão não mostrou anteontem à noite. Ele aconteceu nos bastidores do estúdio comandando pela apresentadora Leilane Neubarth e teve grandes momentos envolvendo os cinco personagens principais: Cesar Maia (PFL), Marcelo Crivella (PL), Luiz Paulo Conde (PMDB), Jandira Feghali (PCdoB) e Jorge Bittar (PT).

COSME E DAMIÃO: Conde chegou distribuindo balas para seus adversários. Todos receberam educadamente, mas Cesar e Jandira resolveram brincar, dizendo que estavam com medo de o presente ter alguma substância perigosa. Conde não se fez de rogado: ‘Eu como primeiro, ora’. E comeu. Jandira então perguntou: ‘E se a nossa bala for diferente?’. Mas tudo ainda num clima bastante ameno…

AMIGO– URSO: Sorridente, Cesar deu um abraço apertadíssimo em Crivella. Também apertou a mão de Conde com entusiasmo, muito antes de protagonizar com o antigo aliado os momentos mais tensos do debate.

A PREPARAÇÃO: Quando Leilane avisou: ‘Faltam 11 minutos para entrarmos no ar’… a tensão tomou conta de todos os candidatos. Cesar fez alongamentos. Balançou as mãos, para relaxar os punhos e os dedos, e começou a esticar os braços ao lado do corpo. Crivella começou a rezar. Jandira sentou– se e ficou quieta. Bittar abaixou a cabeça, até que teve de começar a prestar atenção em Conde.

TAGARELA: Sim, porque, diferentemente dos outros, Conde falava o tempo inteiro para relaxar. Bittar estava a seu lado e foi eleito como interlocutor. Educado, o petista deu papo. Mas Conde chegou a contar piadas e a arrancar uma gargalhada de Cesar e – grande feito – um meio– sorriso de Crivella.

PASTINHAS: Cada candidato quis passar a impressão que tinha um ‘arquivo– bomba’, que podia explodir a qualquer momento no ar. Todos tinham pastinhas, à exceção de Crivella, que levou papéis avulsos. Cesar botava os óculos para consultar seu dossiê. Jandira abriu várias vezes uma pasta preta. E Bittar, desengonçado, deu um chutão na pilha de pastas vermelhas no chão, atrás da bancada.

BATUCADA E ESTÁTUA: Crivella foi escolhido por Cesar nas duas primeiras vezes em que o prefeito teve o papel de ‘perguntador’. Em ambas, recebeu a escolha do adversário batendo, nervoso, com o polegar na bancada. Quando não estava perguntando ou respondendo, o candidato do PL ficou imóvel, com os pés aboletados no banco, bem acima do chão.

BERLINDA: Houve um momento em que parecia que todos os candidatos queriam botar Cesar no centro da berlinda. Os assessores acompanhavam o movimento. Quando Conde endureceu, pouco antes de perder o controle, o deputado Carlos Minc (PT) comentou: ‘O Conde está bem’.

VENENO: Cesar falava do Favela Bairro e Jandira balançava a cabeça, ironicamente. Quando o prefeito pediu direito de resposta para explicar por que tinha nomeado o empresário Ronaldo Cezar Coelho para a Saúde, Bittar perdeu o controle pela primeira vez: ‘Mas ele não respondeu à pergunta e nem explicou nada no direito de resposta!’, disse o petista, abrindo os braços para Leilane.

LALAU: O momento– mímica da noite foi de Conde. Depois de bater boca com Cesar no segundo bloco, o peemedebista chamou Cesar de mau caráter, fez sinal de desonesto com as duas mãos e ainda meteu a mão no bolso, como se estivesse pegando dinheiro.

CLAQUE: A assessoria de Conde reagiu imediatamente, abanando os braços para pedir calma. Num momento seguinte, orientou o candidato a abrir mão de um direito de resposta por considerar que ele não estava suficientemente calmo. As outras ‘torcidas’ também foram interativas. A de Cesar, que contava com o filho do candidato, Rodrigo Maia, o vice da chapa, Otávio Leite, e o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha, caiu na gargalhada quando o prefeito disse que Bittar estava ‘nervosinho’, mas devia lembrar que o PFL estava apoiando os candidatos petistas na corrida pela prefeitura em Nova Iguaçu e Niterói.

PETISTAS: A menção ao PT gerou tensão na claque de Bittar. Mas o candidato reagiu bem e os petistas suspiraram aliviados. Mais tarde, o prefeito perguntou a Bittar por que ele não tinha falado dos servidores públicos na sua campanha. Foi a hora de o vereador Edson Santos levantar e apontar para Leilane, dando cola para Bittar de que ele tinha explorado o assunto em sua entrevista para a apresentadora no ‘RJ– TV’.

TIQUE NERVOSO: Apesar da aparência de controle total, Cesar bateu o pé repetidamente no chão quando foi bombardeado sobre a Saúde. E ficou cabisbaixo quando Jandira e Crivella fizeram uma dobradinha sobre as mazelas da população de rua.

MARIDÃO E MAKE UP: O marido de Jandira, Severino, foi o único cônjuge a subir no palco do estúdio nos intervalos. Entrou mais vezes do que o publicitário da candidata. Os outros receberam seus publicitários e assessores. E Bittar foi o que mais recebeu a ajuda do maquiador da Globo, para dar reforço no pó– de– arroz.

CHEGA– PRA– LÁ: A platéia ovacionou Jandira quando ela reclamou que o excesso de direitos de respostas dados a Cesar e Conde estava causando um debate paralelo. A seguir, a candidata deu uma bordoada em Leilane porque a apresentadora disse que ela tinha feito ‘uma dissertação antes da pergunta’: ‘Sua opinião sobre a minha pergunta não interessa, Leilane’.

DESABAFO: No fim do debate, Leilane passou pela equipe de Jandira, que tinha ido acompanhar a candidata na entrega da peruca dada de presente para Cesar. Depois, confessou: ‘Estou mais cansada hoje do que quando fui cobrir o Rally Paris– Dakar’.’



Folha de S. Paulo

‘Horário eleitoral gratuito em rádio e TV começa até o dia 18’, copyright Folha de S. Paulo, 05/10/04

‘A Justiça Eleitoral encerrou ontem, por volta das 14h, a apuração dos votos na cidade de São Paulo, e tem até o dia 16 deste mês para divulgar o resultado. 48 horas após a divulgação, começa o horário eleitoral gratuito em rádio e televisão – que só termina no dia 29, a dois dias do pleito.

Assim, o horário político para o segundo turno começará, no mais tardar, no dia 18 de outubro, mas pode começar antes – basta que o responsável pela eleição na capital, o juiz eleitoral José Joaquim dos Santos, da 1ª zona, divulgue os resultados.

Além dessa, há outras previsões legais que definem, até o dia 31 deste mês, um calendário eleitoral semelhante ao do primeiro turno.

Estão previstas, por exemplo, datas a partir das quais os candidatos e os eleitores não podem ser presos, ou que fica proibida a realização de comícios e carreatas.

No dia 31, das 8h às 17h, será realizado o segundo turno. O eleitor que não tiver votado anteontem poderá votar normalmente.’