Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O jornalismo transmídia em versão original

O acompanhamento das transmissões da cerimônia do Oscar 2013 pelas redes sociais foi quase tão glamoroso quanto o evento em si. Certamente, foi bem mais divertido. Nos Estados Unidos, foram 8,9 milhões de tweets durante o evento. Muito se tem falado sobre jornalismo transmídia, enquanto novo desafio na arte de contar histórias reais. Seria uma adequação da tática de utilizar estrategicamente várias plataformas para narrar uma notícia de forma complementar, com engajamento dos chamados “prosumidores” (aqueles que não apenas consomem, mas também produzem informação).

Entre os teóricos, não existe ainda consenso sobre as possibilidades deste tipo de narrativa jornalística, já comuns nas franquias de Hollywood, como Harry Potter, The Matrix ou Star Wars. Os livros clássicos sobre o tema – Cultura da Convergência, de Henry Jenkins, por exemplo – também estão centrados nas obras ficcionais, mas, recentemente, o professor espanhol Carlos Scolari lançou Narrativas Transmídias: quando todos os meios contam, no qual dedica um capítulo ao jornalismo transmídia.

O próprio Jenkins, nas suas conversações online, considera o jornalismo transmídia como aquele caracterizado pelo aproveitamento da inteligência coletiva dos leitores. O fotojornalista Kevin Moloney, na sua tese de doutorado, adaptou as características da narrativa transmídia de Jenkins ao universo das notícias.

Características da cobertura

Assim, estaríamos lidando com uma notícia expansível, com características virais, espalhada espontaneamente pelos usuários em suas redes sociais, ampliando o alcance para além do veículo que a gerou. Esta notícia estaria também marcada pela possibilidade de exploração, por meio da qual é possível aprofundar-se no conteúdo, buscando complementá-lo nas redes sociais ou em outras plataformas como celular ou tablet.

A continuidade ou serialidade seria uma marca da suíte natural. Ainda que o fato em si se encerre, outras abordagens serão exploradas e o assunto continuará a gerar interesse nos dias que se seguem. Diversidade de pontos e vista e imersão também marcam a transmidialidade, significando a possibilidade de ouvir não apenas a opinião de experts, mas também de pessoas com idades e formações as mais diversas. Além disso, esta notícia levaria à ação, por exemplo, por meio da remixagem, reedição e recompartilhamento da informação original.

E não foram justamente estas as características da cobertura do Oscar na noite do dia 24 de fevereiro? A transmissão da cerimônia em vídeo, pela tela da TV, do computador, tablet ou celular, veio acompanhada por uma enxurrada de comentários, remixagens, compartilhamentos, gargalhadas virtuais, vídeos alternativos, coletâneas comentadas de fotos, links.

Jornalismo coletivo

A TV mostrou-se definitivamente social a ponto de alguém no Facebook comentar: como era possível a cobertura do Oscar sem as redes sociais?Um mix de vozes e telas marcou a noite até daqueles que não pretendiam acompanhar a cerimônia. E pautou também o dia seguinte das redações, com reportagens sobre a repercussão na web.

Agora mesmo, quando acesso no Twitter a hashtag #oscar2013, as atualizações continuam, alimentadas pelo buzz e compartilhamento natural. Está certo que nem todos os comentários fazem jus à inteligência coletiva à qual se referia Jenkins. Mas não deixam de ser a expressão de um jornalismo diferente, coletivo, plural e inesperado. O tal do jornalismo transmídia em sua versão mais original.

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[Lorena Tárcia é jornalista, professora e doutoranda em comunicação, Belo Horizonte, MG]