Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A educação pública merece elogio

Apesar do cacófato no título, a matéria ‘Quando a pública ganha da particular‘, da revista Época (nº 530, 14/7/2008), assinada por Isabel Clemente, Ana Aranha e Nelito Fernandes, busca trazer-nos uma nova música, fugindo à fácil e desafinada comparação (para nossa vergonha) entre a escola brasileira e experiências educacionais tão distantes como a finlandesa ou a coreana do sul.

Trata-se de descobrir, aqui mesmo, em território nacional, escolas municipais e estaduais com desempenho igual ou superior a instituições particulares. São poucas: 308 num universo de 38 mil. Mas esses parcos 8% podem ensinar caminhos acessíveis, tendo em vista as características brasileiras, nossos limites e capacidades, nosso momento histórico, nossa realidade.

Uma primeira lição: a gestão democrática. A escola pública é espaço propício para esse exercício. Os pais, os professores e os funcionários, em parceria com a direção. O diretor ou a diretora não perde sua autoridade. Decisões tomadas em conjunto (sem esquecer a opinião dos alunos) tornam-se compromisso de todos com todos. O poder partilhado gera a partilha da responsabilidade. Uma escola assim conduzida educa para algo mais valioso do que para a competitividade.

Os melhores esforços do MEC

Outra lição: a escola pública a serviço do cidadão. E deve fazê-lo com a máxima competência. Tomar consciência, portanto, de que a educação de qualidade não é privilégio para quem possa pagar boas escolas particulares. Certa resignação nossa perante banheiros sujos (porque seriam públicos), profissionais relapsos (porque seriam funcionários públicos) e falta de recursos (porque a estrutura seria pública) pertence a uma mentalidade superável. Que melhor lugar senão a escola pública para operar tal superação, para demonstrar que, justamente por algo ser público, deve ser bom?

Terceira lição, que a reportagem acertou em mencionar, diferencial que torna a escola pública particularmente educativa: a convivência entre pessoas de diferentes classes sociais. O que exige o desenvolvimento da tolerância e oferece uma visão mais realista da vida. A escola particular tende a filtrar financeiramente o seu ‘público-alvo’, retirando das crianças a chance de uma experiência mais plural.

Por fim, a qualidade do aprendizado. Em tese, num ambiente em que a escola pública encontra sua identidade e missão, as práticas pedagógicas ganham eficácia.

Esta matéria de Época, apoiando-se no Ideb (Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica) como fio condutor, é, indiretamente, uma forma de apoiar os melhores esforços do MEC na gestão Lula.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br