Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Comunique-se

VENEZUELA
Marcelo Tavela

O que os jornalistas pensam de Chávez?, 19/01/07

‘Líderes dos países membros do Mercosul – e de outras nações da América do Sul – estiveram no Rio de Janeiro para participar da XXXII Cúpula de Chefes de Estado do bloco econômico, dias 18 e 19/01. E, atrás deles, jornalistas do Brasil e do mundo ansiosos pelo o que será acertado na reunião. Mas também dando atenção especial a um dos participantes do encontro: Hugo Rafael Chávez Frías.

O presidente venezuelano é hoje um dos principais personagens da política sul-americana, com decisões e influência que transbordam as fronteiras do país. Chávez dá prioridade estratégica à mídia, seja por formar redes de comunicação na Venezuela e fora dela, seja por sua postura com os jornalistas.

Carisma

‘É evidente que ele adora dar entrevista’, afirma Wilson Tosta, repórter do Estado de S. Paulo que seguiu Chávez desde sua chegada ao aeroporto na manhã de quinta-feira (18/01). ‘E sabe trabalhar a mídia. Tem noções de marketing. Falou com todo mundo que estava na porta do hotel. Quando ia entrando, alguém gritou ‘soy de Chile’. Ele deu meia-volta especialmente para falar com o sujeito. É um cara carismático’, continua.

Rafael Coimbra, da GloboNews, já esteve com Chávez em quatro oportunidades, e conta que em todas as vezes o presidente venezuelano foi muito solícito. ‘Ele responde tudo, sem ser reticente. É bem articulado e sabe para onde conduzir a entrevista. Mas nunca no sentido de manipular’, conta.

‘Nesta relação, ninguém é santo: nem Chávez nem imprensa são ingênuos’, aponta Carlos Tautz, jornalista brasileiro do canal latino-americano Telesur, sediado em Caracas. ‘A mídia usa até critérios cinematográficos, inclusive dramaticidade, para falar de Chávez. E ele lida bem com a fome da imprensa, sabe quando mandar uma frase de efeito, tipo ‘socialismo ou morte’, explica, citando o pronunciamento de Chávez em sua posse.

‘Ele tem muito carisma’, afirma Ricardo Villa Verde, do jornal O Dia, que esteve pela primeira vez com Chávez durante a Cúpula. ‘Não sei como é lá dentro, mas aqui ele é bem acessível’.

Lá dentro

As recentes decisões de Chávez de nacionalizar a maior empresa de telecomunicações da Venezuela e de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RCTV), que faz oposição ao seu governo, foram criticadas por entidades como os Repórteres sem Fronteiras e a Organização dos Estados Americanos (OEA). ‘Considero lamentável esse tipo de censura’, diz Rafael Coimbra.

A repórter venezuelana Lourdes Zuazo, da Telesur, conta que a história é diferente. ‘Antes de mais nada, tem que ficar claro que não é um cancelamento, mas uma não-renovação. Alguns canais de oposição na Venezuela apoiaram o golpe de estado em 2002 [em que Chávez ficou 48 horas afastado do poder], e não agem de acordo com o estipulado no contrato de concessão’, explica.

Tautz corrobora: ‘A edição manipulada da Globo no debate entre Lula e Collor em 1989 é brincadeira de criança perto do que é a TV na Venezuela. Pregam abertamente o golpe e não têm nenhum respeito pelo governo. Mas Chavéz foi reeleito por 63% dos votos. Ele tem amplo apoio popular’.

Lourdes diz que a acessibilidade de Chávez dentro da Venezuela é bem próxima do que a relatada pelos jornalistas brasileiros. ‘Ele é sempre sincero. Às vezes, sincero demais. Chávez não fala em termos técnicos. Usa palavras que o povo entende, e que incomodam a oposição. Dizem que não é assim que deve ser portar um presidente’, relata.

Telesur

A venezuelana é bem passional ao falar sobre a televisão em que trabalha. ‘A Telesur é o canal da integração. Não só pelo o que é transmitido, mas pela forma de se trabalhar. São jornalistas do mundo todo trabalhando pela cooperação e solidariedade’, conta.

A Telesur foi proposta pelo próprio Hugo Chávez para rivalizar com canais jornalísticos voltados para o público latino, como CNN en Español e Univisión. Foi criada pelos governos da Venezuela – o principal acionista -, Argentina, Bolívia, Cuba e Uruguai, e tem em seu conselho editorial nomes como o Nobel da Paz argentino Adopho Pérez Esquivel, o jornalista paquistanês Tariq Ali e o escritor uruguaio Eduardo Galeano. O canal já foi criticado no congresso dos EUA, e também ganhou o apelido de Al Bolivar (junção de Al Jazeera e Simón Bolivar).

‘A Telesur tem a mesma estrutura de qualquer grande TV. O diferente é a orientação editorial. Buscamos atores sociais que não são ouvidos em outras redes, como integrantes de movimentos sociais’, explica Carlos Tautz. ‘Por que um especulador de Wall Street tem mais legitimidade para falar do que um líder social?’, questiona.

Imparcialidade britânica

Garantido na presidência pelo menos até 2012, Hugo Chávez ainda tomará muitas decisões que influenciarão a imprensa venezuelana e do mundo. Fica lançado o desafio aos repórteres de lidar com uma figura sobre a qual é difícil não se posicionar. Nem que seja não tomar posição nenhuma. ‘Lamento, mas não vou responder’, desculpa-se educadamente Steve Kingstone, repórter da rede pública inglesa BBC. ‘São perguntas políticas, e eu nem me permito analisar política’.’

Milton Coelho da Graça

Um não tem equilíbrio. E o outro?, 12/01/07

‘Hugo Chavez fez campanha presidencial espalmando as duas mãos na TV e garantindo que teria dez milhões de votos. O eleitorado venezuelano é pouco superior a 15 milhões e o país tem tradição de altas taxas de abstenção. Chavez foi consagrado por 7.300.988 eleitores, 62,85% dos 11.617.045 votos válidos, mas mesmo assim teve de amargar o dissabor de nem chegar perto da meta prometida.

Esse é seu ponto mais fraco: Chavez é obstinadamente daquele tipo que conhecemos bem, sempre fala além da conta e não existe assessor de imprensa que consiga segurá-lo.

A Venezuela, como Estado soberano e a legitimidade de um governo democrático, eleito por maioria expressiva de seu povo, tem total direito de decidir, dentro dos prazos fixados em lei, sobre concessões de rádio e tv, da mesma forma como os Estados Unidos e o Brasil.

Chavez resolveu anunciar que a concessão da Rádio Caracas não será renovada e o Secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, decidiu opinar contra essa intenção, atitude incompatível com a natureza de seu cargo. E foi, justa mas exageradamente, chamado de ‘imbecil’ pelo presidente venezuelano.

Você acha que nossa imprensa tratou todo este episódio de maneira equilibrada?

Evidentemente nada fica evidente

Políticos – especialmente presidentes de partido – têm aquele estilo de falar sem dizer nada, sempre na base do ‘não me comprometa por favor’. Mesmo não sendo nenhuma novidade, acho que vale a pena transcrever duas respostas de Ricardo Berzoini, presidente do PT, ao repórter Ricardo Taffner, do jornal on-line Congresso em Foco, em longa entrevista sobre o apoio do PMDB à candidatura de Arlindo Chinaglia:

Então o PT não teria nenhum problema em apoiar Aldo Rebelo, caso esse seja o entendimento da base?

Não, veja bem. Não posso em hipótese alguma entrar nesse mérito. Até porque a candidatura não é do PT. É um deputado do PT que tem o apoio do partido. Mas é uma candidatura que tem hoje um apoio muito grande na Câmara dos Deputados. Então, quando eu digo que o ideal é termos uma candidatura única, evidentemente eu trabalho de um ponto de vista. Evidentemente, respeitando aqueles que entendem que essa candidatura única se materializaria na candidatura do deputado Aldo Rebelo.

Quem está com essa decisão hoje?

Não é nenhum partido em especial. É óbvio que o PMDB tem um papel importantíssimo pelo tamanho da sua bancada e pela, digamos, capilaridade que o partido tem. Mas não tem nenhum partido que tem prioridade nesse processo. Os partidos estão buscando discutir internamente. E com certeza, daqui até o final de janeiro, vão amadurecer suas posições. Se for possível uma única candidatura na base do governo, ótimo. Se não for possível, tem que se trabalhar com a realidade e buscar construir um ambiente de disputa de alto nível.

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’



WEBJORNALISMO
Bruno Rodrigues

Jornalismo cidadão não é bicho-papão, 19/01/07

‘No final do ano passado, dei uma entrevista com algumas ‘previsões’ de como a mídia digital irá se comportar em 2007. Falei em publicidade online, vídeo, comunidades virtuais. Mas fiz questão de ressaltar que a grande mudança virá com o embate final – e definitivo – entre jornalismo profissional e jornalismo cidadão.

Acompanho atentamente o affair há três anos, quando muitos falavam que tudo não passava de modismo, que em algum momento o bom-senso viria em socorro do jornalista formado, experiente e tarimbado, o que afastaria de vez os cidadãos comuns, aventureiros da internet que ousavam invadir o terreno da produção de notícias.

Mas o bom-senso não viu, ou simplesmente ignorou a invasão dos ‘bárbaros’. Ávida por mais uma dose de novidade – vício, será? – a web arrancou o jornalismo cidadão da clandestinidade, deu-lhe nome e apelido (‘jornalismo colaborativo’), vestiu-o de fraque e colocou o pobre coitado no centro das atenções. Estava feito o estrago.

O cidadão nunca pôde, de fato, tomar o lugar do jornalista. Da mesma forma que a mídia – ai de nós – fez de YouTube & cia. as estrelas do momento, a verdade é que apenas uma minúscula parcela dos internautas produz vídeo ou notícias para a internet.

Para quem é consultor em informação para a mídia digital, como é o meu caso, há momentos em que me vejo obrigado a esclarecer que nem tudo que reluz na Rede é ouro, e lembrar que emissor é muitíssimo diferente de receptor.

Muitos assistem vídeo pela internet – neste caso, falo em milhões. Outros produzem vídeo e o colocam na Rede – milhares, apenas. O mesmo acontece com sites de notícias em que os cidadãos ‘apuram’ e enviam suas ‘matérias’ para publicação. É exceção, acredite. E a experiência já está indo pelo ralo.

O site ‘OhMyNews’, exemplo de jornalismo cidadão e um dos pioneiros na área, ameaça fechar as portas dentre em pouco. O ‘Backfence’, mais moderninho e recente, está pendurado no barranco, balançando, quase caindo. Segundo o jornalista Charles Arthur, do ‘The Guardian’, o motivo é óbvio: não é tudo mundo tem tempo para brincar de jornalista. Em tempo: sabe o YouTube? Só 0,5% dos usuários publicam vídeo. E na Wikipedia, enciclopédia online respeitadíssima, 70% dos verbetes foram publicados por apenas 1,8% dos freqüentadores…

O jornalismo cidadão irá desaparecer inteiramente? Claro que não. Mas, se tivéssemos visitado mais os sites que tanto criticamos e dado menos atenção às inúmeras matérias sobre o assunto, teríamos notado que o perigo não era tão grande assim.

Da próxima vez, menos gritaria e mais apuração, portanto.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’



TELEVISÃO
Antonio Brasil

Os truques dos telejornais, 16/01/07

‘Em outra ocasião escrevi uma crítica sobre os estudos de televisão conduzidos pelas universidades brasileiras (As Universidades odeiam televisão). Na oportunidade disse que ‘boa parte das pesquisas ainda é pouco científica, preconceituosa e ingenuamente ideológica’.

A ‘provocação’ parece ter dado certo. Essa semana fui surpreendido pelo excelente livro A Mídia e seus truques – o que jornal, revista, TV, rádio e internet fazem para captar e manter a atenção do público do jornalista, professor e doutor em semiótica Nilton Hernandes. Pelo jeito, ele não só concordou com a crítica como resolveu demonstrar que é sim possível fazer boas pesquisas sobre os meios de comunicação e, principalmente, sobre os telejornais brasileiros.

Sobre os preconceitos em relação às pesquisa, o autor afirma que ‘falta ao estudo do noticiário de TV uma visão não só mais abrangente como também mais distanciada. No Brasil, uma das razoes para tanta passionalidade – inclusive acadêmica – é o sucesso e o poder de mobilização e de desmobilização do telejornalismo e, notadamente, do JN.

Semiótica nos telejornais

‘Nosso estudo sobre os processos persuasivos do jornalismo de televisao se fundamenta no JN, o mais antigo, famoso e criticado noticiário brasileiro. O formato do JN merece atenção porque, há décadas, impõe-se como modelo de telejornalismo de sucesso a ser copiado e, ao mesmo tempo, como antimodelo constantemente desafiado por profissionais de outras redes’.

Mas o que é semiótica? Em seu site pessoal (ver aqui) o autor explica que ‘a semiótica de Greimas se preocupa em analisar qualquer linguagem. Pode ser a de um jornal, de uma campanha publicitária. Ou de um filme, uma peça de teatro, um espetáculo de dança. Ou ainda de um quadro ou escultura. Há trabalhos de semiótica que estudam supermercados, o percurso dos usuários do metrô, entre outros, por entendê-los como ‘textos’ que também possuem ‘linguagens’.

Em entrevista recente, o Prof. Hernandes aponta novos caminhos para uma análise mais abrangente dos meios de comunicação:

‘A mídia hoje não pode se dar ao luxo de analisar pedacinhos dos seus corpos. Por exemplo analisar só a fotografia, só os títulos, só a parte verbal, só a capa. Porque a mídia não é construída em pedacinhos. Ela é um todo de sentidos e assim ela deve ser respeitada. Eu acho que cada vez que a gente escolhe um pedacinho para fazer a análise, a gente consegue fazer a análise, consegue fazer um trabalho acadêmico coerente, mas uma série de sentidos são perdidos. E esses sentidos é que nos permitiriam ter acesso às estratégias ideológicas e ter uma visão crítica desses objetos

‘Truques da mídia’ é um dos melhores livros que já li sobre as técnicas e as estratégias persuasivas dos nossos telejornais. Baseado nos estudos da semiótica, o Prof. Hernandes desenvolve preciosas ferramentas de investigação muito mais eficientes e específicas sobre a produção de sentido desses meios.

A gente se vê por aqui

Com esse surpreendente e eficaz instrumental teórico, o Prof. Hernandes procura revelar os segredos da nossa mídia e do nosso jornalismo. Em relação aos telejornais a pesquisa inova e ousa ao evitar a velha e desgastada discussão sobre a ingênua manipulação do público pelos jornalistas ou pelos donos das empresas. Em sua pesquisa, o Prof. Hernandes indica ‘a enorme complexidade e a dificuldade de teorização de objetos complexos como o telejornalismo’.

‘Ninguém assiste ao JN prestando atenção, separadamente, nas tomadas de câmera, na edição, no que é mostrado, depois no que é dito. Há uma sensação de contato com uma ‘totalidade’. Um texto é um ‘todo de sentido’ e, no jornalismo, uma verdadeira ‘encenação…Todos os atores que aparecem ainda são submetidos aos planos de câmera…Tantas variáveis para levar em consideração justificam nossa insistência em um estudo mais global (sem trocadilho) dos objetos das grandes mídias’.

Mais diante ele argumenta que na apresentação das manchetes, nas ‘cabeças das matérias’, o público precisa ser ‘chacoalhado’ e aproximado. Esses ‘truques’ fazem parte de uma estratégia de fidelização, manipulação afetiva e busca de empatia com o público.

O Prof. Hernandes também alerta para a utilização de um poderoso ‘registro informal’ no JN. Como exemplo cita o slogan da Globo: ‘A gente se vê por aqui’. Para o autor, trata-se de uma ‘manipulação por intimidação bastante sutil. Se não for por meio da Globo, não há interação’.

Em relação à montagem e paginação do telejornal, o autor discute outros ‘truques’ como a aceleração ou desaceleração do ritmo das matérias dos telejornais:

‘Alguém que está acostumado ao tipo de edição (na acepção de ato) do JN, ao entrar em contato com jornais do mesmo nível de outras redes, geralmente, sente que os programas são mais ‘lentos’. A sensação de lentidão interfere na atenção do telespectador. Isso mostra a importância do papel desempenhado pelo ritmo’.

Tempo psicológico

Outro ‘truque’ poderoso, mas que passa totalmente despercebido pelo grande público dos telejornais nos remete aos famigerados contra-planos. Eles são responsáveis pela criação de um tempo psicológico específico do meio:

Nas reportagens de TV, por exemplo, quando um entrevistado tem uma fala longa, pode se inserir o chamado contra-plano. O público vê o entrevistado de frente, depois de lado e de frente novamente. Não houve mudança no tempo cronológico, mas alterou-se, via ato de edição, o sentido de tempo de percepção dessa entrevista: o efeito obtido pela inserção do contraplano é de fragmentação do plano de expressão, o que da uma sensação de aceleração, de que a cena está passando mais rapidamente em relação a uma outra sem o recurso. Esse efeito de expressão resulta no que é mais conhecido como ‘tempo psicológico’.

O Prof. Hernandes também nos alerta para algumas das técnicas utilizadas pelos jornalistas de TV para nos convencer de seu distanciamento, isenção e neutralidade na busca dos fatos:

‘O tom de voz é professoral. O figurino dos profissionais que aparecem na tela é clássico e discreto. Falar na frente das câmeras mostra alguém que assume o discurso e, teoricamente, projeta um efeito de subjetividade. No caso dos jornalistas, contudo, esse mesmo sujeito que vemos na tela enuncia sem falar ‘eu’. Raramente se ouve um ‘eu vi’, ‘eu conversei com….

Ao mesmo tempo, os jornalistas encaram a lente da câmera e exercitam o ‘olho no olho’ com quem os assiste. Temos um dos mais comuns efeitos de particularização. Apaga-se a situação concreta de um sujeito que se dirige a uma enorme massa de telespectadores. Só que os profissionais do JN raramente exteriorizam emoções fortes.

E a partir do detalhamento de uma matéria do JN sobre a prisão de Saddam Hussein e com inúmeras ilustrações, o Prof. Hernandes revela a complexidade dos procedimentos, dos nossos telejornais para garantir a empatia do público:

‘Cada jornal satisfaz curiosidades e necessidades (dá saberes) e também coloca o sujeito diante de possibilidade de viver experiências afetivas que contrabalançam o aspecto trágico, disfórico da notícia. Relembremos que o leitor não é um sofredor compulsivo, mas alguém que, mesmo diante de uma narrativa de morte e fracasso, procura conhecimento e afetividade’.

Isenção impossível

Em seu livro, o Prof. Hernandes Nele também analisa conceitos estruturais da mídia e do jornalismo – como notícia, ideologia, realidade, verdade e objetividade de forma comparativa.

Os meios de comunicação ‘têm uma ideologia e vão construir o real em função dessa ideologia, e não o contrário’. Ele confirma a existencia de um contrato entre o público e os jornalistas que envolve muitas cláusulas. Entre elas destacam-se: Dizer a verdade, separar fatos de opiniões e interpretações, ser objetivo e imparcial nos relatos.

Porém, mais adiante, o autor nos alerta sobre os limites do jornalismo:

Talvez um dos maiores problemas na análise do jornalismo seja a confusão, a mistificação e até mesmo a ingenuidade que cercam a discussão sobre a verdade. […] A primeira ingenuidade que a análise de noticiários elimina é a de que a ideologia se encontra apenas nos editoriais. A segunda é a possibilidade de um jornalismo isento.’

Truques da mídia é leitura obrigatória para todos que ainda acreditam na importância de pesquisas sérias, aprofundada e menos ingênuas sobre os nossos meios de comunicação e, principalmente, sobre os nossos poderosos e desconhecidos telejornais.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’




Marcelo Russio

O início do fim da televisão, 16/01/07

‘Olá, amigos. Pode parecer um pouco (ou muita) loucura minha, mas acho que presenciei, neste último fim de semana, o início do fim da televisão como a conhecemos. Fui escalado para cobrir as semifinais de conferência da NFL. Como apenas dois dos quatro jogos passariam na TV, tive de buscar meios de assistir aos outros dois jogos.

Buscando formas de acompanhar as partidas que não via descrições online dos sites disponíveis, descobri um software que pode mudar a forma como a TV é feita (e vista). O TVU, esse software simples e sensacional, permite que diversas estações de TV sejam conectadas e vistas em tempo real (claro que com um pequeno delay). Dependendo da velocidade da conexão (este é o único empecilho), a qualidade de imagem é de DVD.

Como a minha conexão é muito boa, consegui acompanhar as partidas com o máximo de detalhes e qualidade. Isso me deu uma imensa vantagem sobre tempos em que eu acompanhava eventos através de notícias escritas de qualquer forma, por sites pouco comprometidos e com atraso significativo.

Pensando em toda a evolução do processo ao longo do tempo, concluí que a TV precisa se preparar para uma nova revolução: a da TV gratuita na Internet, que pode causar sérios problemas aos números de audiência que regem toda e qualquer negociação por cotas de patrocínio.

A possibilidade de assistir às emissoras de diversos países, com eventos ao vivo via Internet, transforma a tela do computador em uma ferramenta de entretenimento e informação mais poderosa que a TV, pois a oferta de produtos é muito maior, e com uma qualidade semelhante ao velho e bom televisor.

Se cuida, TV. A Internet está começando a invadir a sua praia.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’



MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

Folia e trabalho movimentam profissionais, 17/01/07

‘Jornalistas de todo o País começam a viver o clima de Carnaval, muitos se preparando para a cobertura e outros tantos para desfilar. Com a proximidade da chegada da festa do Rei Momo, que este ano vai cair entre os dias 17 e 20 de fevereiro, Jornalistas&Cia foi conferir algumas das movimentações em andamento de Norte a Sul do País.

Rio de Janeiro

O bloco Imprensa que eu Gamo abre o calendário oficial da Prefeitura para o Carnaval carioca no dia 3/2. Antes disso, tem agenda cheia. Na 2ª feira (22/1), encerra-se o prazo para os compositores inscreverem os sambas-enredos. Ramiro Alves, que este ano aderiu à diretoria da agremiação, recebe as inscrições no e-mail alves.ramiro@gmail.com. No dia seguinte (23/1), a semifinal para a escolha do samba está marcada no Cabaré Kalesa (rua Sacadura Cabral, 61, na Praça Mauá), às 20h, e todos os concorrentes devem levar dez cópias da letra para os jurados e a bateria.

Carlos Alberto Azevedo (carlosazevedo@wnetrj.com.br e 21-9983-3744 ) divulga a agenda da Banda da Rua do Mercado. Os ensaios começam no dia 18/1 e prosseguem todas as 5as.feiras, sempre às 19h, no Bar Kamikaze (rua do Mercado, 23, em frente ao prédio da Bolsa). Na 3ª feira (23/1), será escolhida a rainha da Banda durante um grito de Carnaval no Bar Jirau (rua São José, 8, no Centro). O desfile, programado para 15/2, vai manter a tradição do Maestro Quintanilha, do Cordão do Bola Preta. Fundada em 1998 por um grupo da antiga Gazeta Mercantil junto com o pessoal da Bolsa de Valores, a Banda desfila pregando a revitalização do Centro antigo do Rio, e vale para o reencontro dos jornalistas de Economia (com adesões ecléticas).

O bloco 2º Clichê, que desfila no sábado de Carnaval em Niterói, este ano vai homenagear Luís Antônio Pimentel. Aos 95 anos de idade, ele já fez de tudo no Jornalismo e foi também radialista, fotógrafo e historiador. Tem livro sobre a antiga Rádio Mayrink Veiga e outros sobre as personalidades, as praias e as igrejas de Niterói. O samba-enredo, capitaneado por Sérgio Soares, de O Fluminense, e a camiseta, de autoria de Floriano Carvalho, estão quase prontos e dentro de 15 dias serão apresentados em um grande ensaio-geral. Quem tem as informações é Fernando Paulino, no 21-8882-7352 .

Também no sábado de Carnaval sai o bloco Filhos da Pauta. Fundado há 21 anos, preparou para 2007 uma homenagem bem humorada às mulheres e ao clima dos antigos carnavais. O enredo As filhas da pauta – A marcha das cachorras é de Nivaldo Carneiro, que foi um dos finalistas no Concurso de Marchinhas da Fundição Progresso. A camiseta, assinada por Hélio Branco, pode ser reservada com Renato Guima no 21-9260-0910ou e-mail divulgacultura@gmail.com .

Daniel Pereira (ex-Globo Online) estreou na 5ª.feira (11/1) a coluna Folia na Rua em O Dia Online. Para saber tudo sobre os blocos de carnaval do Rio basta entrar no site do jornal ou ir direto ao http://odia.terra.com.br/especial/rio/carnaval2006/folia_rua.asp . O leitor pode divulgar eventos e participar dos bastidores da folia.

O júri do Estandarte de Ouro, de O Globo, traz nomes novos este ano: Cesar Tartaglia e João (Janjão) Pimentel substituem Marceu Vieira e Aydano André Motta, no rodízio previsto para os dois representantes da Redação. A coordenação permanece com Aloy Jupiara, membro efetivo do júri.

São Paulo

Os profissionais interessados em cobrir o Carnaval paulista têm até o próximo dia 24/1 para requisitar credenciais junto à SP Turismo, no site www.cidadedesaopaulo.com . No ano passado, foram credenciados 287 veículos – 22 deles estrangeiros – e 1.788 profissionais. Dentre as novidades deste ano para a imprensa, estão a criação de um corredor de serviço ligando a concentração à dispersão e a volta da sala de imprensa para o setor H (antigo 5). Informações sobre credenciamento, sambódromo, turismo no carnaval, turismo em SP e outras podem ser obtidas na Gerência de Comunicação e Imprensa da SPTuris (fones 11-6226-0409/ 0485 / 0412). Já informações sobre ingressos, programação e similares deverão ser buscadas na assessoria de imprensa da Comissão de Carnaval, a In Press Porter Novelli, pelo telefone 11-3323-3764 . A partir do dia 1º/2, a In Press também fará o credenciamento para o Camarote Bar Brahma, pelo telefone 11-3323-1520 .

Bahia

Começou a circular nesta 2ª feira (15/1) a página Lança-Perfume, do Correio da Bahia, com as novidades do Carnaval. É assinada por Osmar Martins (marrom@correiodabahia.com.br), que já responde pela edição do caderno semanal Correio Folia, publicado às 5ªs.feiras.

Também em ritmo de Carnaval, a TV Aratu, afiliada do SBT, está produzindo matérias especiais sobre o verão e a folia de Momo através do Projeto Verão. Para coordenar o projeto, trouxe Dóris Pinheiro, que também apresenta o programa Multicultura, da Rádio Educadora, e pilota o site www.ilhadamoda.com.br , que acaba de entrar na rede falando do mundo fashion.

Brasília

Destaque do Carnaval brasiliense, o bloco Pacotão, que está comemorando 30 anos de vida, reúne os foliões da imprensa neste próximo sábado, dia 20/1, para o Concurso de Marchinhas de 2007. As inscrições podem ser feitas até 19/1 pelo e-mail pacotaodf@yahoo.com.br .

Santa Catarina

O bloco Pauta que Pariu vai desfilar no dia 18/2. Com a aproximação do evento, a Comissão Organizadora vem fazendo reuniões semanais em locais sugestivos como o Mercado Público de Florianópolis e o bar Kibelandia. Com o samba-enredo já definido, os esforços se concentram na busca de patrocínio, malharia, carro de som, local, alimentos e bebidas, divulgação e outras questões relacionadas à festa.

Ceará

A segunda edição do bloco Matou a Pau…ta será lançada no dia 25/1, às 19h, no Espaço Cultural do Sindicato dos Jornalistas (SindBar – rua Joaquim Sá, 545, Joaquim Távora). O bloco tem uma programação definida de três desfiles pré-carnavalescos, que ocorrerão aos sábados (27/1, 3 e 10/2), com concentrações sempre às 14h, no Centro Cultural do Banco Nordeste (rua Floriano Peixoto, 941, Centro). E no dia 17/2 desfilará na av. Domingos Olympio, dentro da programação oficial do Carnaval de Fortaleza.

Pernambuco

Os jornalistas pernambucanos vão sair pelo tradicional Siri na Lata, com o sugestivo tema Cadê minha Bolsa Família. Se não houver imprevistos, o desfile será no dia 18/2. Vale registrar que o Siri na Lata tem 31 anos de história e é um dos poucos blocos que se organiza sem nenhum apoio oficial. Seu presidente é Ricardo Carvalho.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

O incrível cheque, 18/01/07

‘Para ter dinheiro

fazenda e gado

não basta simples querença

(Talis Andrade in Sertões de Dentro e de Fora)

O incrível cheque

O considerado Cleber Bernuci, diretor de nossa sucursal no interior de São Paulo, envia matéria do jornal TodoDia, de Americana, cujo inesquecível título é este:

Empresas que participam da licitação do transporte devem depositar calção

As sete empresas que participam do processo de licitação de concorrência pública do transporte coletivo urbano de Americana devem depositar até amanhã, na conta da prefeitura, o cheque calção na quantia de R$ 97,7 mil para quem concorre ao lote 1 e R$ 102,9 mil para os participantes do lote 2. Esses valores correspondem a 1% do contrato e servirão como garantia de pagamento.

Cleber, que paga suas contas rigorosamente em dia, sempre que foi solicitado depositou o cheque-caução, embora Janistraquis garanta que o outro também existe:

‘Ora, considerado, o cheque-calção é aquele que se carrega junto ao corpo, quando o elemento veste apenas o indispensável; nosso amigo Chico César, um dos grandes compositores e cantores do Brasil, deu um concerto na praia nudista de Tambaba, na Paraíba, recebeu em cheque e teve que enfiar o dito cujo entre o violão e o umbigo…’

Vergonha

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, leu nos jornais cariocas:

FORÇA DE SEGURANÇA NACIONAL CHEGA AO RIO SOB FORTE ESCOLTA DA POLÍCIA MILITAR.

Camilo leu, releu, ligou para os amigos. Sentia-se confuso, imaginava-se à beira dalguma demência:

‘Com mil demônios! Por que uma força policial de elite, nascida para deitar e rolar no campo do inimigo, precisa de ‘forte escolta’ para desembarcar no Rio de Janeiro?!?!?!’

É mesmo uma vergonha, ó Camilo, e o episódio ajuda a desmoralizar mais ainda as ‘autoridades’; afinal, se a elite policial apela desse modo, como um simples turista pode botar os pés na ex-Cidade Maravilhosa com alguma segurança?

Talis Andrade

Leia no Blogstraquis mais um belo poema do considerado Talis Andrade, intitulado Quartenião, do qual provém o verso que encima a coluna.

Órgão sólido

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre 2007 dá para ver a trabalheira dos órgãos que entram e saem, entram e saem, entram e saem, pois Roldão lia o Correio Braziliense… vamos deixar que ele conte:

Na página 25, encontro matéria sobre a falta de remédios na Farmácia de Alto Custo do Distrito Federal, na qual li a declaração seguinte, do médico Rafael de Aguiar Barbosa, da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos:

‘Esse medicamento (Tracolimus – imunossupressor) é usado depois do transplante de qualquer órgão sólido. Se o paciente não tomar o Tracolimus pode ter um quadro de rejeição aguda e até complicações mais sérias’, explica o especialista.

Fiquei intrigado com o ‘órgão sólido’ e a me indagar quais seriam os órgãos líquidos ou gasosos.

Janistraquis ficou apavorado à simples menção do tal ‘órgão sólido’, ó Mestre Roldão!

O caso Cicarelli

Mestre Deonísio da Silva escreveu no Observatório da Imprensa:

(…) Espantoso não foi ela recorrer ao Judiciário. Espantoso foi ter a queixa aceita e o pedido atendido: bloquear o site YouTube no Brasil, levando nosso país, ainda que por pouco tempo, a perfilar-se ao lado de ditaduras que bloqueiam a internet, em tudo repetindo, em grande escala, o que o escritor Josué Guimarães denunciara, em delicioso estudo microscópico, num livro belíssimo: Os Tambores Silenciosos.

Leia no Blogstraquis a íntegra do indispensável artigo.

Mar de lama

O considerado José Truda Júnior caminhava pela Cinelândia em direção à Biblioteca Nacional quando avistou a certa distância, exposto em uma banca de jornais, O Globo com a seguinte manchete:

Onda de lama química chega a cidade do Rio.

Mais assustado do que Aldo Rebelo quando sentiu a punhalada de Lula, Truda foi conferir:

‘O pós-título confirmava que ‘Rejeitos de mineradora já percorreram 45 quilômetros’. Como a distância entre Minas Gerais e a Cinelândia é um pouco maior, continuei a leitura para saber que ‘O mar de lama química com rejeitos da mineradora Rio Pomba Cataguases chegou ontem ao município de Laje do Muriaé, a 300 quilômetros da capital.’

Tranqüilizou-me saber que não era crase o que faltava. Mas no meu tempo, mesmo que isso significasse encalhar metade da edição, esquentar manchetes daquele jeito era inaceitável num jornal que se respeitasse!

Viva Tijucas!

O considerado Hélio Carlos d’Allembert, de Florianópolis, assestou os olhos de veterano amante da imprensa sobre a matéria intitulada Juiz dá voz de prisão a repórter sem diploma, publicada neste portal, e se deteve no seguinte comentário:

Karina Duarte Peixoto [11/01/2007 – 23:57]

(Editor-Chefe / Coordenador de Conteúdo-Rádio Vale AM – SC – Tijucas)

Para mim o juiz não agiu corretamente, e certamente só queria se esquivar da pergunta, mas ao mesmo tempo, não posso defender o rapaz que se diz jornalista. Não consigo defender aqueles que se julgam profissionais como nós e que não passaram pela universidade. São 4 anos e meio de leitura, reflexão, prática e conhecimento. Se não fosse preciso passar pelos bancos universitários, o curso de Jornalismo não existiria!

Hélio sentiu firmeza:

‘Você e Janistraquis hão de considerar que a moça é uma das mais importantes jornalistas do Brasil, né não? Quem diria que Tijucas escondia tanto talento e autoridade!!!’

A gente consideramos, ó d’Allembert, principalmente porque nóis não se formou nem em jornalismo nem em porra nenhuma.

Bem feito!!!

Espalhada mundo afora pelo Boletim do Consumidor do Rio Grande do Sul, a noticinha abaixo foi publicada originalmente no Campo Grande News de 27/12/2006:

Unibanco é condenado a pagar multa de R$ 1,3 milhão

O Unibanco foi condenado a pagar uma multa de R$ 1,3 milhão por substituir o serviço de atendimento ao cliente 0800, que é gratuito, pelo 0300, pago. A decisão, do DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor) do Ministério da Justiça foi publicada hoje no Diário Oficial da União.

O departamento considerou abuso ao Código de Defesa do Consumidor por deixar de disponibilizar, sem justificativa e sem informação aos clientes, um serviço que foi ofertado ao consumidor no momento da contratação. A oferta de um serviço gratuito, conforme o DPDC, pode influenciar no processo de contratação pelo cliente.

Agora, o banco tem dez dias para apresentar recurso à Secretaria de Direito Econômico. Caso a decisão seja mantida, os valores deverão ser depositados no Fundo de Direitos Difusos.

O colunista, tão pobre que nem pode pagar plano de saúde, leu, transcreveu e sentiu as chagas lavadas no chazinho de camomila. É que o bilionário Unibanco tenta arrancar deste seu correntista uma quantia injusta e absurda pela ‘manutenção’ de conta desativada há cinco anos, desde que a revista Jornal dos Jornais faliu, ou melhor, foi ‘descontinuada’. Janistraquis, sempre solidário, também leu a notícia do Campo Grande News e comentou:

‘Bem feito pra eles, considerado; tomara que percam em todas as instâncias!’

Pode, não pode.

A considerada leitora Marluce Rodrigues Salvattia, que é professora de português em São Paulo, envia chamadinha de capa do Globo Online, na qual se avista o seguinte ‘olho’ abraçado ao título Chocolate amargo pode ser bom para o coração:

Alguns quadradinhos de chocolate amargo pode reduzir o risco de doenças cardíacas .

A professora achou que estava amargoso demais:

‘Os jornalistas, que são tão vaidosos e arrogantes, deveriam ficar mais atentos à concordância verbal! Ora, os quadradinhos… podem!’

É mesmo. Chocolate amargo pode, mas bom mesmo pra saúde são apenas os quadradinhos. Estes podem mais.

Nota dez

O considerado Clóvis Rossi escreveu na Folha de S. Paulo:

(…) Quantas vezes se ouve da mãe que vê o filho morrendo de doença trivial a frase ‘Deus qué’? Deus não quer, não, senhora. Quem permite a perenização dessa miséria são os homens, especialmente os homens públicos de sucessivas gerações -e bota sucessivas nisso.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo intitulado Sonhar e pensar pequeno. É para refletir, refletir, refletir…

Errei, sim!

‘CAVALARIDADES – Titulão da página de turfe de O Estado de S. Paulo: King of Hush possue pai famoso. Janistraquis detectou duas barbaridades – no verbo, com grafia anterior à reforma ortográfica, e no enunciado. É que, mesmo sendo um cavalo, não fica bem expor a público certas depravações.’ (dezembro de 1992).

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’



COMUNIQUE-SE
Cassio Politi

Comunique-se omite data e beira o sensacionalismo, 17/01/07

‘A manchete parecia ser muito relevante: Juiz dá voz de prisão a repórter sem diploma. ‘Isso é grave!’, pensei. A leitura dos parágrafos seguintes denuncia que o leitor foi tapeado. Vamos às provas. O texto começava assim:

O repórter Silvério Netto, da rádio comunitária Total FM, recebeu ordem de prisão do juiz Richard Fernando Silva, do Juizado Especial de Pará de Minas (MG), por não ter diploma em jornalismo.

Veja agora o que dizia o quinto parágrafo:

Segundo Netto, dois dias após a prisão, ele compareceu à sua audiência cujo juiz era o próprio Fernando Silva. Na ocasião, o juiz teria percebido que não poderia enquadrá-lo por exercício ilegal.

No terceiro parágrafo, a matéria ganhou um tom de sensacionalismo. O Comunique-se afirma, com certo deboche, que o juiz não se recordava do diálogo com o jornalista:

Esquecimento

Procurado pelo Comunique-se, Fernando Silva não confirmou as declarações do repórter da rádio Total. Afirmou não poder se lembrar da situação. ‘Isso tudo está documentado nos autos. A gente prende as pessoas diariamente, não vou lembrar um motivo específico. São mais de cinco mil processos’, explicou.

A matéria conduziu o leitor a acreditar que o juiz, com sintomas de amnésia, tivesse se esquecido do que dissera poucas horas ou dias antes. Mas não é bem assim. O juiz se lembrava do caso, mas não dos detalhes. Afinal, o episódio aconteceu dia 14 de dezembro. Ou seja, o Comunique-se deu uma manchete com 28 dias de atraso.

Somente no dia seguinte à publicação da matéria, por volta das 16h, é que o texto foi corrigido pelos redatores do Portal. Foram quase 24h na manchete e 136 comentários anteriores à correção. Ou seja, o estrago já estava feito.

‘Essa pauta é tão boa que amanhã, bem cedo, ela vai está na sala de aula da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Cairá bem nos debates sobre ética’, foi o comentário inserido por um leitor de Mossoró (RN). Espero que esse leitor acesse esta coluna para repassar a correção da informação a seus alunos. Do contrário, o Comunique-se já terá dado pelo menos uma péssima contribuição ao ensino do Jornalismo.

No mais, os leitores do Comunique-se protagonizaram um saudável debate sobre a obrigatoriedade do diploma e a atitude polêmica do juiz de Minas Gerais.

Nariz-de-cera

Quer noticiar a morte de um jornalista? Seja direto. Objetividade não significa desrespeitar o colega que morreu. A redação do Comunique-se ainda convive com o nariz-de-cera. O texto que noticia a morte do jornalista Stipp Júnior começa assim: ‘Começando como locutor de rádio, o jornalista Stipp Júnior, proprietário e diretor do Diário de Taubaté, teve uma carreira marcada pela passagem no Estado de S. Paulo e pela fundação de seu próprio jornal, em aproximadamente 50 anos de trabalho com a comunicação. Na última quarta-feira (10/01), Stipp Júnior morreu aos 66 anos…’.

Títulos

O Comunique-se precisa padronizar seus títulos. Em web, é aconselhável que o título tenha características como: possuir verbo (quase sempre no presente), evitar voz passiva e ‘contar o fim do filme’. Os títulos Seis demissões no JB e Grupo Record condenado a pagar indenização para Band não seguem todo o conjunto de regras. Limitação de espaço na página é um drama para o jornalismo impresso, e não para o on-line.

(*) Cassio Politi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como videorrepórter de matérias de Cidades e Especiais no Uol News, comandado por Paulo Henrique Amorim até 2004. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net. Ministra cursos de extensão há cinco anos e deu aulas em 24 estados brasileiros para quase 2 mil jornalistas e estudantes de Jornalismo. Atualmente, tem suas atenções voltadas para a área de Marketing. Ocupa o cargo de Diretor da Escola de Comunicação, a unidade de cursos e seminários do Comunique-se.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Carta Capital

Veja

No Mínimo

Comunique-se

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