Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Di Franco critica cobertura sobre religião

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de março de 2009


 


MÍDIA E RELIGIÃO
Carlos Alberto Di Franco


Jornais, Igreja e Estado


‘O Brasil é um país de expressiva maioria católica. A informação de religião, portanto, merece atenção especial. A quantidade da informação religiosa, em geral, é bastante razoável. Alguns riscos, no entanto, ameaçam a qualidade da cobertura jornalística. Sobressai, entre eles, a falta de especialização, o razoável desconhecimento técnico e, reconheçamos, certa dose de preconceito. Acresce a tudo isso o amadorismo, o despreparo e a falta de transparência da comunicação eclesiástica. Recentes episódios, lamentáveis, evidenciam a urgente necessidade de profissionalização da comunicação institucional da Igreja.


A Igreja Católica, instituição de grande presença e influência na agenda pública brasileira, é sempre notícia. Trabalhar a informação religiosa com rigor e isenção é um desafio. Muitas vezes ganhamos. Outras, perdemos. Em sua primeira viagem à África, o papa Bento XVI reafirmou a oposição da Igreja ao uso dos preservativos. Os jornais afirmaram que Bento XVI teria dito que ‘a camisinha agrava a aids’. Errado. O que o papa disse e tem repetido é que a verdadeira luta contra a aids passa pela ‘humanização da sexualidade’. A mera distribuição de preservativos é, segundo a Igreja, uma estratégia equivocada. A Igreja prega abertamente que a fidelidade dentro do casamento heterossexual, a castidade e a abstinência são a melhor maneira de combater a aids. Tal postura não decorre de uma histeria conservadora. Resulta, na verdade, de conceitos antropológicos profundos, embora, reconheço, politicamente incorretos. Podemos concordar ou discordar, podemos achar que se trata de uma exigência excessiva, mas não podemos desqualificar por baixo.


A mídia dá foco absoluto ao que a Igreja faz ou fará. Gente de todas as denominações cristãs (e até mesmo sem qualquer profissão religiosa) dá opiniões sobre os caminhos que a Igreja Católica deve adotar. Se a Igreja estivesse de fato fora do tempo, anacrônica e ultrapassada, poucos se dariam a esse trabalho. A eleição de Bento XVI, por exemplo, foi um case jornalístico interessante. A cobertura, lá fora e aqui, foi quantitativamente exuberante. Do ponto de vista da qualidade, no entanto, ficou bastante aquém do que poderíamos ter feito. Ficaram, alguns jornais, reféns de declarações de reduzidos e conhecidos desafetos do então cardeal Ratzinger. Criou-se, assim, uma falsa imagem do novo papa. Bento XVI seria um eclesiástico duro, quase intratável. Quem o conhece, e nós o vimos de perto aqui no Brasil, sabe que se trata de um brilhante intelectual, mas também de um homem simples, cordial, com uma ponta de timidez que desarma e cativa.


Agora, como papa, por óbvio, defende o núcleo fundamental da fé católica. Sem essa defesa, muitas vezes na contramão dos modismos de ocasião, a Igreja perderia sua identidade. Se os papas procurassem o ‘sucesso’ – que parece ser a medida suprema da realização para os que tudo medem pelos ibopes -, bastaria que, esquecendo-se da verdade que custodiam, se tivessem bandeado pouco a pouco, como fazem certos ‘teólogos’, para os ‘novos valores’ (em linguagem cristã, contravalores) que cada vez mais tentam dominar o mundo.


É patente que, na hora atual, vivemos uma encruzilhada histórica em que são incontáveis os que parecem andar pela vida sem norte nem rumo, entre as areias movediças do niilismo. O papa teve sempre plena consciência dessa situação e, em vez de sentir a tentação daqueles teólogos que aspiram aos afagos do mundo para dele receberem diploma de ‘modernos’ e ‘progressistas’, ele dá, diariamente, a vida por uma verdade que pode resgatar este mundo, sem se importar com que o chamem de retrógrado, conservador ou desatualizado. Ou será que se espera um papa que deixe de ser cristão para ser mais bem aceito?


Pretende-se que, perante este deslizamento do mundo para baixo, com a glorificação de todo nonsense moral, o papa exerça a sua missão acompanhando a descida, cedendo a tudo e se limitando a um vago programa socioecológico, a belos discursos de paz e amor e a um ecumenismo em que todos os equívocos se podem abraçar e congraçar, porque ninguém acredita mais em coisa alguma, a não ser em viver bem? Mas a coerência doutrinal da Igreja, por vezes conflitante com certas posturas comportamentais, tem sido um fator de defesa e elevação ética das sociedades.


O crescimento da Igreja, como salientou Bento XVI, dá-se ‘muito mais por atração’, nunca por imposição. Entre uma pessoa de fé e um fanático existe uma fronteira nítida: o apreço pela liberdade. O sectário assume a sua convicção com intolerância. O fanático impõe. A pessoa de fé, ao contrário, assenta serenamente em seus valores. Por isso, a sua convicção não a move a impor, mas a estimula a propor, a expor à livre aceitação dos outros as ideias que acredita dignas de serem compartilhadas.


A correta informação sobre a Igreja passa pelo reconhecimento de seu papel na sociedade e pelo seu direito de transitar no espaço público. Caso contrário, cairíamos no laicismo antidemocrático. O Estado é laico, mas não é ateu. O laicismo militante pretende ser a ‘única verdade’racional, a única digna de ser levada em consideração na cultura, na política, na legislação, no ensino, etc. Por outras palavras, o laicismo é um dogmatismo secular, algo tão pernicioso quanto o clericalismo do passado.


Tentar expulsar a Igreja do debate em defesa da vida, por exemplo, é arbítrio laicista. A independência é um bem para a Igreja e para o Estado. Mas não significa ruptura e, muito menos, virar as costas para o Brasil real, uma nação de raízes culturais cristãs. Informar com isenção é um desafio. E é aí que mora o fascínio da nossa profissão.


Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com)


E-mail: difranco@iics.org.br’


 


 


MEMÓRIAS
The Guardian


Bush explicará, em livro, decisões de seu governo


‘O ex-presidente dos EUA George W. Bush está escrevendo um livro de memórias. Não será uma autobiografia, mas uma série de explicações sobre as decisões que tomou durante os oito anos de seu governo. A obra, provisoriamente intitulada Decision Points, deve ser publicada em 2010.


Em contraste com o tradicional livro de memórias presidencial, a obra de Bush descreverá como ele tomou 12 decisões políticas e pessoais, entre elas a invasão do Iraque, sua resposta ao furacão Katrina, a disputa pela presidência e o abandono do álcool. ‘Quero que as pessoas tenham uma ideia sobre como as decisões foram tomadas e o povo compreenda as opções que foram colocadas diante de mim’, disse.


Bush vendeu os direitos do livro para a Crown, da Random House, ao contratar os serviços do advogado Robert Barnett, que negociou um pagamento adiantado de US$ 15 milhões para o livro My Life, de Bill Clinton, e cuja lista de clientes inclui Barack Obama, Hillary Clinton, Bob Woodward, Tony Blair, a rainha Noor, da Jordânia, Laura Bush e Alan Greenspan. Nem Barnett nem Bush revelaram o valor do acordo pelo livro. Há rumores de que ele teria recebido um adiantamento de US$ 7 milhões.


Bush afirmou que o o livro incluirá alguma autocrítica, mas parece que ele está, há tempos, mais ansioso para fazer o público compreender as situações que se apresentaram a ele no momento.’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de março de 2009


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O popular, o símbolo


‘Desde sábado na home e na capa da edição regional da ‘Newsweek’ (acima), ‘Lula fala’ e ‘Nós temos que ser arrojados’. É uma entrevista ao escritor e editor Fareed Zakaria. Nos enunciados internos, ‘Lula quer lutar’ e, abaixo, ‘Revigorado pela crise, presidente do Brasil diz que reza por Obama’.


Nas perguntas, coisas como ‘Você é provavelmente o líder mais popular no mundo. Por quê?’. Até quando buscou ser mais crítica, a revista levantou questões como: ‘Você é um grande símbolo da democracia nas Américas, mas ainda assim alguns dizem que se cala enquanto Chávez destrói a democracia na Venezuela. Por que não falar?’. Nas respostas, nada de novo.


CRISE AMERICANA


Longa reportagem também na ‘Newsweek’ destaca frase do presidente chinês, que se diz ‘um pouco preocupado’ com a crise. ‘Mas não pela China e sim pelos EUA’, nota a revista. Fechando o texto, após retratar a nova classe média nos Brics: ‘Quando os consumidores do mundo voltarem a comprar, devem começar pelos Brics’.


POTÊNCIA DE COMPRA


Também na ‘Newsweek’, Jim O’Neill, do Goldman Sachs, escreve que ‘os Brics se sustentam cada vez mais na demanda interna e podem ter ‘boom’ mesmo com a queda de mercados como os EUA’.


PRÓ-EUA


Na edição anterior, a ‘Newsweek’ havia destacado pesquisa Zogby com jovens latino-americanos apontando Barack Obama e Lula como os líderes mais aptos para levar a região ‘para o futuro’. Como menos aptos, Evo Morales e Hugo Chávez. Por outro lado, a maioria acha que já está na hora de os EUA suspenderem o embargo contra Cuba.


CHINA DE OLHO


De seu lado, o ‘Diário do Povo’ ressaltou sábado que Brasil e Argentina decidiram ‘consolidar a cooperação diante da crise econômica’, durante a visita da presidente Cristina Kirchner a Brasília.


DE LULA OU DE HUGO


Moisés Naím, editor-chefe da ‘Foreign Policy’, publicou ontem no espanhol ‘El País’ a coluna ‘O Eixo de Lula e o Eixo de Hugo’. Avaliou que o encontro de Lula e Obama ‘marca o fim do longo período de distanciamento entre EUA e América Latina’ e saudou a eleição de Mauricio Funes em El Salvador como o fim, ‘de maneira pacífica e democrática, das duas décadas de Arena’.


Mas ainda desconfia das promessas do recém-eleito de seguir a ‘referência de exercício democrático de governo de esquerda’, como descreve Lula.


OFICIALMENTE


O Radar de Lauro Jardim publicou e estava ontem no topo das buscas de Brasil pelo Yahoo que o Brasil foi oficialmente convidado para participar da Opep, Organização dos Países Exportadores de Petróleo. O convite partiu de Arábia Saudita, Qatar, Venezuela e Irã. Segundo a coluna da revista ‘Veja’, ‘o mais provável é que o Brasil agradeça e recuse’, até conseguir um excedente maior de produção.


GREVE


Bloomberg, Dow Jones, Reuters e demais noticiam desde sexta que os operários da Petrobras entrariam em greve à 0h, de domingo para segunda. Mas para ‘reduzir, não parar a produção’.


CONCORRÊNCIA


Ao longo da última semana, as agências financeiras vêm ressaltando as avaliações da americana Exxon Mobil, de que seu campo na camada pré-sal rivalizaria até com Tupi, da Petrobras.


CASAMENTO LÁ


Do ‘Boston Globe’ ao Huffington Post e outros sites, o senador John Kerry cobrou do ministro da justiça, Eric Holder, que reverta decisão de um juiz de imigração que negou asilo ao brasileiro Genésio Oliveira.


Casado com Tim Coco, publicitário americano, ele ‘está hoje escondido no Brasil’, onde antes ‘foi violentado e sofreu discriminação’, como argumenta. Kerry dirige a comissão de relações exteriores do Senado. Ele foi até elogiado, mas ativistas cobraram a concessão de cidadania ao brasileiro, pelo casamento, e não asilo.


‘PUNCH DRUNK’


Ecoou ontem a pergunta do ‘60 Minutes’ a Obama, sobre estar ‘bêbado de tanto apanhar’, por não parar de rir diante da crise. Frank Rich, no ‘NYT’, diz que ele já vive ‘momento Katrina’ ao não responder à ‘raiva dos americanos’ pelos golpes financeiros’


 


 


ECONOMIA
Associated Press


Contra crise no mercado de DVDs, Warner vende filmes para download


‘Com o objetivo de combater a queda nas vendas de DVDs de filmes, a Warner Bros. vai colocar na internet, para download, 150 obras da época do cinema mudo até a década de 1980 que ainda não haviam sido lançados para consumo doméstico.


A partir de hoje, no site www.warnerarchive.com será possível baixar uma cópia do filme por US$ 14,95 (cerca de R$ 34) ou encomendar um DVD que chega pelo correio, nos EUA, ao custo de US$ 19,95. Os títulos disponíveis incluem ‘Aventureiro da Sorte’ (1943), com Cary Grant, e ‘Heróis ou Vilões’ (1986), com Demi Moore. ‘Espero que vendamos milhares de cópias de cada’, comenta George Feltenstein, executivo da Warner Home Video.


Em alguns casos, os DVDs podem render até 60% mais do que a bilheteria dos filmes. Mas, nos EUA, a comercialização dos discos caiu 7% no ano passado, para US$ 21,6 bilhões, e preocupa.


Para especialistas, a recessão na qual mergulhou a economia americana explica parte dessa baixa, assim como a saturação do mercado. Bob Iger, CEO do grupo Walt Disney, diz que o público se tornou ‘mais seletivo’ na hora de adquirir DVDs, pois, em média, cada família já possui 80 discos.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record descumpre acordo com ministério


‘A Record não cumpriu um acordo firmado por escrito com o Ministério da Justiça e, na última sexta-feira, teve a novela ‘Chamas da Vida’ reclassificada, a partir de hoje, como imprópria para menores de 14 anos, inadequada para exibição antes das 21h. Antes, não era recomendada para menores de 12 anos (20 horas).


A emissora desrespeitou o acordo porque a reclassificação não lhe trará problemas operacionais. A novela, em suas últimas semanas, já é exibida no Sudeste por volta das 22h. A Record não comentou.


Segundo despacho publicado no ‘Diário Oficial’, a Record se comprometeu, em 29 de janeiro, a adequar o conteúdo de ‘Chamas da Vida’ para 12 anos.


O monitoramento feito pelo ministério havia constatado a exibição de cenas com consumo de drogas lícitas (como bebidas, conteúdo inadequado para as 20h), agressão física, assassinato, ‘descrições pormenorizadas, a partir de imagens, do consumo e venda de drogas ilícitas (incluindo modus operandi e a reação das pessoas)’, estupro, violência e sexo envolvendo crianças e adolescentes como vítimas (coação, agressão, ameaça, exploração do corpo e pedofilia).


Apesar da assinatura do termo de compromisso, a Record, segundo o ministério, continuou exibindo, em fevereiro e março, cenas com violência envolvendo crianças e adolescentes como vítimas e agressores.


ORDEM 1


O ‘choque de ordem’ que a Prefeitura do Rio vem promovendo em morros e favelas está deixando muita gente sem TV. Na ação, a prefeitura retira cabos de TV pirata, que carregam canais abertos e fechados.


ORDEM 2


A Globo já recebeu pedidos de ajuda de associações de moradores de Cidade de Deus e morro Dona Marta. A emissora enviou engenheiros para medir a recepção de sinal e mobilizou sua área social. Ainda estuda como atender às populações. Mas, aparentemente, a solução é simples: basta instalar antenas externas nas casas.


SESSÃO DA TARDE


Festa no SBT. Sua sessão vespertina de filmes goleou a Record na última quinta-feira. O placar foi 5 pontos a 2.


A FILA ANDOU


A modelo Carol Ribeiro terá um novo programa na MTV a partir de abril. Ela aposenta o ‘A Fila Anda’ e passa a comandar, diretamente de Nova York, o ‘IT MTV’, com reportagens e entrevistas sobre moda, música, arte de rua e tecnologia.


TIME COMPLETO


A atriz Rosamaria Murtinho entrou na vaga que seria de Elba Ramalho e fechou a escalação feminina da ‘Dança dos Famosos’, no ‘Domingão do Faustão’ a partir de abril. Junta-se a Paola Oliveira, Christine Fernandes, Adriana Alves, Katiucia Canoro e Helô Pinheiro.


MOBILIDADE A Globo inaugura hoje sua Redação móvel em Brasília, um caminhão com capacidade de geração de reportagens que circulará em pontos extremos.’


 


 


Antônio Gois


Desenhos nacionais estreiam na TV


‘Animações gringas como ‘Os Simpsons’, ‘Bob Esponja’ e ‘Pokémon’ poderão, finalmente, ter a companhia de desenhos animados nacionais em TVs brasileiras.


Financiadas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), pelo menos três produções brasileiras já fecharam acordos -ou estão em fase final de negociação- para exibição em canais pagos e na TV aberta.


No dia 20 de abril, por exemplo, o canal Discovery Kids estreia, no Brasil, a série ‘Peixonautas’, produzida pela TV Pinguim, com sede em São Paulo. Será a primeira produção animada brasileira a ocupar um espaço no canal, que foi um dos coprodutores da série.


Outra produção nacional com estreia prevista para fevereiro do ano que vem é o desenho animado ‘Meu Amigãozão’, produzido pela carioca 2DLab. A série já foi negociada com o Discovery Kids América Latina e com a TV Brasil.


O terceiro desenho já em fase final de negociação com canais pagos e uma TV aberta brasileira é ‘Escola pra Cachorro’, da produtora paulista Mixer.


Em comum esses três projetos têm o fato de terem recebido financiamento do BNDES (R$ 2 milhões financiados e R$ 1,5 milhão não reembolsáveis) e se aliado a produtoras internacionais (no caso, canadenses), uma exigência do banco estatal brasileiro para garantir que as séries sejam exibidas também no exterior.


O caminho de desenhos animados brasileiros até a programação infantil no Brasil nunca foi simples, já que as televisões nacionais preferem comprar os direitos de exibição de animações que já foram veiculadas em outros países. Isso as torna mais baratas e com a vantagem de já terem sido testadas em algum lugar.


A dificuldade de encontrar um mercado, no entanto, tem deixado os produtores brasileiros de fora de um setor que tem crescido bastante. Uma estimativa citada pelo BNDES feita pela revista ‘KidScreen’ -focada no mercado de entretenimento infantil- indica que o mercado de desenhos animados no mundo cresceu de US$ 8 bilhões em 1995 para US$ 80 bilhões em 2006.


Segundo a chefe do Departamento de Economia da Cultura do BNDES, Luciane Gorgulho, além da geração de empregos de alta qualificação, uma das vantagens de investir no financiamento desse setor (o banco é o segundo maior patrocinador do cinema nacional, atrás apenas da Petrobras) é que os desenhos têm maior potencial de venda para diferentes países, pois, uma vez dublados, as crianças não os identificam como produções estrangeiras.


‘Sabemos que há talentos no Brasil, mas muitos acabam saindo do país e vão trabalhar em produtoras estrangeiras, em um típico caso de ‘braindrain’ [fuga de cérebros]. Queremos ver produtos onde a criação e a produção seja feita em maior parte no Brasil, gerando empregos aqui, mas que tenham parcerias internacionais para facilitar sua venda para diferentes mercados’, afirma Gorgulho.’


 


 


Folha de S. Paulo


Terceira fase de ‘Os Mutantes’ estreia amanhã


‘Estreia amanhã, às 20h30, na Record, ‘Promessas de Amor’, a terceira fase de ‘Os Mutantes’. A novela agora será predominantemente realista, mas alguns mutantes continuarão em subtramas. A mudança ocorre porque a trama fantástica afastou telespectadores. Os protagonistas serão Luciano Szafir e Renata Dominguez.’


 


 


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FHC fala do Plano Real no ‘Roda Viva’


‘O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o convidado de hoje do ‘Roda Vida’, às 22h10, na TV Cultura. No programa, comandado por Heródoto Barbeiro, FHC fala dos 15 anos do Plano Real, lançado em 1994, quando ele ainda era ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco. A crise econômica também será abordada na entrevista.’


 


 


CRISE
Brian Stelter, NYT


Paparazzi agora perseguem mundo corporativo


‘O fenômeno poderia se chamar ‘Como Apanhar um Ricaço’. O site de celebridades na internet TMZ e programas de TV como ‘Extra’ e ‘Inside Edition’ estão indo além de sua cobertura de estrelas e separações de Hollywood para incluir os escândalos empresariais de bilhões de dólares e o colapso econômico.


Uma equipe de câmera do ‘Extra’, programa de transmissão nacional nos EUA, se amontoou junto com a BBC e a Associated Press diante do tribunal quando o investidor Bernard Madoff se confessou culpado, no dia 12. O programa começou a chamá-lo de ‘o homem mais odiado da América’. Na véspera, o ‘Inside Edition’ fez um perfil de uma das vítimas de Madoff, uma mulher de 60 anos que perdeu milhões de dólares e teve de trabalhar como faxineira.


A mídia dos tabloides, é claro, sempre vasculhou os excessos dos ricos e famosos com uma mistura de reprovação puritana e voyeurismo. Mas hoje esses canais e outras organizações noticiosas registram os usos perturbadores do dinheiro dos contribuintes em clubes de campo, aeroportos privados e refúgios elegantes e, ao fazê-lo, aproveitam explicitamente uma feroz raiva populista contra os EUA corporativos e até pressionam o Congresso americano a responsabilizar as empresas.


O site TMZ, mais conhecido por fotos de paparazzi das cantoras Britney Spears e Rihanna, atraiu a cobertura da grande mídia e a indignação do Congresso com um blog, que no final do mês passado exclamou: ‘Banco socorrido torra milhões em festa em LA’. O site informou que o banco Northern Trust, que recebeu US$ 1,6 bilhão de dinheiro público, havia hospedado centenas de clientes e funcionários em um torneio de golfe e uma série de festas no sul da Califórnia. ‘O dinheiro dos impostos trabalhando duro’, escreveu o site.


O Northern Trust nunca pediu dinheiro de ajuda, mas aceitou recebê-lo no último outono por exigência do governo. No entanto, as fotos das sacolas de presentes da Tiffany e os videoclipes da banda Chicago e da cantora Sheryl Crow se apresentando para o grupo irritou os leitores -assim como os deputados democratas, que exigiram, por carta, que o Northern Trust devolva o dinheiro que ‘a empresa torrou nesses eventos luxuosos’. O banco disse que o faria ‘tão rapidamente quanto seja prudentemente possível’.


Harvey Levin, editor do TMZ que chamou a reportagem de ‘a coisa mais importante que já fizemos’, sabe que seus leitores não entram no site em busca de uma dissertação sobre papéis apoiados em hipotecas. ‘É difícil para as pessoas entenderem uma ajuda de US$ 800 bilhões. É grande demais’, ele disse. ‘É muito mais fácil entender o pagamento de um show de Sheryl Crow.’


Rory Waltzer, fotógrafo da TMZ, disse que ‘Britney é fofa, mas as matérias sobre o Northern Trust e os políticos de Washington realmente têm um impacto sobre o país’.


Sharyl Attkisson, repórter investigativa que contribui com segmentos de ‘Follow the Money’ [Siga o dinheiro] do programa ‘CBS Evening News’, disse que a prova visual do que poderiam ser gastos excessivos ‘aumentam a indignação’ que os americanos sentem a respeito da economia.


Rastrear jatos particulares, festas luxuosas e outras atrações do que o repórter da ABC Brian Ross chama de ‘realeza corporativa’ hoje são trabalho constante para os jornalistas.


Uma das histórias mais memoráveis de excesso empresarial surgiu em novembro, quando a ABC registrou que executivos-chefes das três maiores fabricantes de carros americanas tinham voado para Washington em jatos particulares para pedir ajuda ao governo em dinheiro do contribuinte. Essa revelação provocou duras críticas de membros do Congresso e longas viagens de volta dos executivos em carros híbridos em dezembro.


‘Algumas pessoas disseram: ‘O que isso tem a ver com a questão maior da economia?’ Eu acho que refletiu a atitude deles de se achar no direito e o fracasso em se adaptar aos tempos, uma espécie de ouvido mouco para o que está acontecendo’, disse Ross.’


 


 


FOTO
Luiz Fernando Vianna


Olhar mutante


‘‘Brasil – Imagens da Terra e do Povo’ reúne 260 fotos de Walter Firmo. Basta uma folheada no livro para entender por que ele é um dos maiores fotógrafos do país e célebre por seus retratos. Mas, ao ouvir o repórter citar imagens que poderão ilustrar a entrevista, Firmo demonstra desconforto:


‘Estou saindo desse classicismo, já não aguento mais. Como me considero um criador jovem, embora tenha 71 anos, procuro sempre estar na contramão de mim mesmo. Um artista deve ser mutante. Isto [as fotos mais conhecidas] são águas passadas. Aconteceu na minha vida, foi muito bom, mas já era. Estou olhando sempre um horizonte novo’.


Deve-se ler com ressalvas o desabafo desse carioca do subúrbio de Irajá. Firmo comenta com muito orgulho o que já fez em 52 anos de carreira. Vaidoso, chega a falar de si mesmo na terceira pessoa. Mas, inquieto, vem exercitando a abstração ao fotografar o céu, o chão, objetos, detalhes.


‘Sempre digo que botei o Pixinguinha para a contemplação na cadeira de balanço, mas eu não sou aquele estereótipo.’


A foto do mestre do choro é a mais famosa de Firmo. Está no livro em versão preto-e-branco, assim como as de Cartola, Clementina de Jesus e outros.


A grande maioria das fotos, no entanto, está em cores e retrata anônimos. São pessoas de várias partes do país, no seu cotidiano ou em situações especiais, como casamentos, festas religiosas e profanas.


‘Fotografia é um ato político. Por isso, 90% dos fotografados são negros’, ressalta. Firmo não pensava assim quando começou, em 1957, na ‘Última Hora’. Dez anos depois, já na editora Bloch, foi para Nova York. Contrariado, um colega brasileiro usou uma expressão racista para falar dele.


‘Aí caiu a ficha. Eu me redescobri crioulo. Era a época do ‘black is beautiful’. Deixei o cabelo crescer e, quando voltei ao Brasil, comecei a trabalhar socialmente a minha visão. Primeiro, com os artistas, depois as fábricas, as ruas e, finalmente, as festas religiosas’, lembra.


Ele só largaria o fotojornalismo em 1985, mas antes já eram notórios seus retratos de pessoas negras nos quais a miséria é discreta ou inexistente.


‘Meus personagens são totens de si mesmos ou de mim, que me vejo neles. Estão sempre esperançosos. Quando tenho que fotografar favela, eu me deparo com uma situação de um surrealismo infame e digo: não é possível que isso exista. É forte demais, é dor demais, é vida demais. Eu coloco essas cores de uma forma dadivosa, como faziam os impressionistas. O Sebastião [Salgado] gosta da coisa dura, da denúncia. Eu não gosto de denunciar, gosto de glorificar’, diz.


‘Crônica diária’


Para o colega Walter Carvalho, Firmo, ‘quando aponta a mira para o ordinário, o comum, se torna incomum, pois encontra o simples, que é o mais difícil’.


‘Quando vejo a minha foto da Clementina e vejo a dele, eu guardo a minha. A do Pixinguinha poderia ser uma crônica do Manuel Bandeira ou do Rubem Braga. O Walter traz para dentro da sua câmera a crônica diária’, afirma Carvalho.


Ao contrário do xará, Firmo não foi para o cinema. Conta que começou a fotografar pensando nessa migração, mas descobriu que ‘a estática tem uma sedução que o movimento não tem’. E seria difícil lidar com grandes equipes.


‘Fui criado com avó, filho único, sou muito eu, com um id forte. Às vezes, nem eu consigo me aturar. Imagina com uma equipe de cem pessoas e um diretor peçonhento’, diz.


Prefere tocar sozinho seus projetos, como faz agora com um sobre sertões e outro sobre famílias negras brasileiras, ambos em preto-e-branco e com filme -embora ele já use máquina digital.


Ao menos por enquanto, continua distante dos programas que interferem nas imagens e sem gostar de fotografar à noite ou em estúdio.


Quando trabalha coletivamente, é com seus alunos. Dá cursos regulares em São Paulo e Rio e workshops em outras cidades. Na seara de professor desenvolve sua nova fase, classificada como ‘experimental’, não definitiva.


‘A geografia humana é a que me comove, fundamentalmente’, resume.’


 


 


 


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