Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Erros e desafios de quem quer inovar

A TV Globo comemora em setembro deste ano uma data marcante. O Jornal Nacional, o mais importante noticiário da emissora, completa 40 anos de existência. Durante quatro décadas o JN teve a oportunidade de levar a milhões de brasileiros registros da nossa história, que contribuíram para a construção da sociedade atual.

O JN nasceu ao lado do regime militar, rendeu-se à ditadura ao preferir mostrar receitas, esteve no nascer da nova democracia e cronometrou os processos evolutivos do Brasil ao longo dos anos 90. Em 2009, a Central Globo de Jornalismo uniu-se ao esporte tornando-se Direção Geral de Esporte e Jornalismo, novo órgão que a partir de agora coordena os trabalhos jornalísticos da TV Globo.

Datas comemorativas servem para festejar e refletir, época de fazer análises do que passou e prospectar o futuro. Ao longo dos anos, o jornalismo da TV Globo seguiu um certo padrão de qualidade. Não há como negar que os telejornais eram perfeitos, os textos muito bem escritos, as reportagens muito bem elaboradas e dinamicamente editadas. O formato ‘quadrado’ dos telejornais trazia credibilidade à emissora, mas ao mesmo tempo afastava o público da realidade contada. Os âncoras nunca conversaram com o telespectador. Sempre se mostraram extremamente formais.

Sinal de alerta

Mas parece-me que estes bons tempos terminaram. Hoje, a direção tem por missão mudar a linguagem do jornalismo. O JN, por exemplo, começou 2009 com inúmeras entrevistas ao vivo, o que provocou sucessivos erros na apresentação. Mais uma prova de que a informalidade nunca foi uma característica do antigo ‘padrão de qualidade’. A pergunta que fica é: até que ponto buscar uma nova linguagem, tornar-se informal, pode beneficiar um jornalismo acostumado com uma estrutura editorial fundamentada em suas ideologias há tantos anos? É válido errar, errar e errar, para daqui a alguns anos, quem sabe, acertar?

A TV Globo nunca quis mudar, até porque está satisfeita com a posição de líder de audiência e líder de opinião. Adaptar-se às novas tecnologias talvez pudesse ser o grande desafio. O problema é que outras emissoras de televisão resolveram investir, fazer diferente, conversar com o telespectador.

Todos nós gostamos de experimentar o novo. Os números mostram que o telespectador está mudando e trocando de canal. O que fez acender um sinal de alerta na sala de Carlos Henrique Schröder.

Quantidade, e não qualidade

Perdida como cego em tiroteio a ordem é contra-atacar e, infelizmente, da pior forma possível. As denúncias contra o dono e fundador da Igreja Universal, Edir Macedo, são prova disso. Usar este projeto de novo jornalismo como arma de uma guerra que desrespeita o telespectador, que vai além de acusações do Ministério Público, de dízimos ou financiamentos do BNDES, é a pior das estratégias. Também não sei até quando o popular será a bola da vez, mas agindo assim a TV Globo dificilmente reconquistará a audiência perdida.

Deslizes estes que refletem na editorialização dos telejornais da emissora com sede no Rio de Janeiro. O Bom Dia Brasil nos trazia perspectivas para o dia, o jornal Hoje era uma revista leve, o JN relatava os fatos mais importantes e o Jornal da Globo ficava responsável pela análise. Hoje é tudo igual. Ainda não tive a curiosidade de fazer um trabalho científico neste sentido, mas percebo que uma mesma reportagem é reprisada em quase todos os noticiários. Imagino que a Globo acredita que todos os públicos se transformaram em um só, quando na verdade quero ver o Bom Dia Brasil não para assistir o mesmo conteúdo exibido no JG na noite anterior. Sem falar do Brasil TV, exibido pelas parabólicas entre as novelas das 18h e 19h, quando um apresentador re-apresenta o jornal Hoje.

Este texto não tem por objetivo diminuir a importância da Rede Globo ou do seu jornalismo. Afinal, foi escola para mim e será ainda para muitos. Proponho que possamos fazer uma reflexão sobre um jornalismo que está errando. Sobre um jornalismo que não está sabendo enfrentar os desafios da concorrência. Que hoje preza por quantidade, e não mais por qualidade.

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Jornalista, Pindamonhangaba, SP