Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Ethevaldo Siqueira

‘Que tem a ver a Avenida Paulista com as comunicações? Muita coisa. Mais do que local preferido para comemorações, passeatas e protestos – que também são formas de comunicação -, essa via pública inaugurada em 1891 pelo prefeito Joaquim Eugênio de Lima foi palco, dois anos depois, de uma demonstração pioneira do padre inventor brasileiro Roberto Landell de Moura, que ali fez a primeira transmissão sem fio da voz humana no mundo, cobrindo a distância de oito quilômetros que a separa da colina de Santana. O incompreendido clérigo, no entanto, enfrentou até ameaça de excomunhão por suas ‘experiências diabólicas’.

Mas, a rigor, essa avenida tem muito mais a ver com as comunicações sem fio, do que com fio. Ela foi o berço do wireless, na linguagem dos especialistas.

Por ser um dos pontos mais altos da Grande São Paulo, o espigão da Paulista tem sido a região preferida para instalação de dezenas de antenas de emissoras de rádio, de televisão, de estações radiobase para celulares e outros serviços de telecomunicações.

Tudo pelo rádio – Na verdade, a comunicação sem fio está cada dia mais presente em nossa vida. Eu já não saberia como viver sem a mobilidade e liberdade que permite o celular. Sem a informação instantânea da internet. Ou sem a comunicação eletrônica audiovisual a qualquer hora em qualquer lugar. Embora muita gente não preste atenção nessa área, a comunicação sem fio é algo quase mágico, como foi a reação mundial diante da primeira transmissão de sinais telegráficos sobre o Atlântico, em dezembro de 1901, por Marconi. Como acontece hoje, diante dos milagres da convergência digital.

A comunicação sem fio acelerou a história do mundo. Lembro que, antes de ir à escola, numa fazenda vizinha à vila de Aparecida, no município de Monte Alto, eu já me acostumara a ouvir um rádio de mesa, com uma caixa de madeira toda entalhada, tipo capelinha, de 8 válvulas, instalado no canto da sala de jantar. A emissora mais próxima que ouvíamos era a PRG-4, Rádio Clube de Jaboticabal, em ondas médias. Com meus irmãos, ouvia à noite as rádios mais distantes, de São Paulo, como a Rádio Tupi e Record. Em ondas curtas, ouvíamos a Rádio Nacional em seus áureos tempos, dos anos 1940.

Pelo rádio, Goebbels e Hitler berravam diariamente aos ouvidos de milhões de alemães, pregando suas idéias insanas. Pelo rádio, a Segunda Guerra parecia estar muito mais próxima de nós, pois meus pais acompanhavam quase todas as noites o noticiário internacional em português da BBC de Londres, que reproduzia até a voz do general Charles de Gaulle, incentivando da Inglaterra a resistência francesa. Essa proximidade do conflito mundial era tão grande que eu me lembro até hoje do noticiário dos bombardeios de Londres de 1940, quando eu tinha apenas 8 anos, mas já acompanhava, assustado, a descrição dos piores ataques aéreos impostos por Hitler à capital britânica. Nos ares, a grande batalha entre os caças Spitfire ingleses e os Stukas alemães.

Nessa época, o grande escritor de ficção, Arthur C. Clarke, engenheiro de telecomunicações do British Post Office, trabalhava no desenvolvimento do primeiro radar inglês, chamado naquele tempo de direction finder. Graças a esse avanço, conta Clarke, ‘a artilharia britânica chegou a abater mais de 200 aviões alemães numa única noite’.

Nossa história – Pelo rádio, os paulistas acompanharam a Revolução de 1932, ouvindo os discursos inflamados de César Ladeira e Ibrahim Nobre, de madrugada, na Rádio Record. Anos depois, na escola primária, minha classe era instada a ouvir toda noite, das 8h às 9h, o monólogo autoritário da Hora do Brasil, do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) da ditadura Vargas.

Pelo rádio, acompanhamos a redemocratização do Brasil em 1945 e, no futebol, choramos na mais dura derrota da seleção brasileira, na Copa de 1950, no Rio. Pelo rádio, tivemos que engolir o discurso da ditadura militar nascida em 1964. Pelo rádio, festejamos o Brasil campeão da Copa de 58, em Estocolmo. Quatro anos depois, vibramos com o bicampeonato mundial, no Chile. Em 1966, o vexame. Em 1970, no México, o tricampeonato, com televisão direta pela primeira vez. A alegria popular explodiu, sufocando os gritos da tortura, que a censura impedia de ser denunciada à Nação.

A era das redes – As telecomunicações nasceram com fio. Primeiro com o telégrafo, depois com o telefone. Com as ondas hertzianas, vieram o rádio e a televisão. Por fim, com a convergência digital, internet, multimídia e redes sem fio, que fazem uma revolução silenciosa, levando os benefícios das telecomunicações aos confins do planeta. Rádio em inglês é sinônimo de wireless (sem fio). Ao nos libertar do cabo, o rádio tornou o mundo pequeno e democratizou a comunicação.

Nos últimos anos, assistimos à explosão do celular e das redes locais sem fio. A rede Bluetooth integra dispositivos e periféricos de computador, em pequenas distâncias. A rede Wi-Fi cobre distâncias maiores, até 50 metros, mas em alta capacidade. A rede Wi-Max, a mais recente delas, talvez seja a grande rede local sem fio do futuro, um novo padrão para acesso wireless de longo alcance. Ela deverá ser a alternativa mais poderosa que as atuais Wi-Fi. Desenvolvida pela empresa israelense Alvarion e pela canadense Redline, a Wi-Max é a tecnologia conhecida pela designação de 802.16a do famoso Institute for Electric and Electronic Engineering (IEEE).

E pensar que tudo começou na Avenida Paulista.’



Mauro Mug

‘Rádio fica isenta de IPVA para helicóptero’, copyright O Estado de São Paulo, 13/04/04

‘A Rádio Jovem Pan não terá de pagar o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) dos seus dois helicópteros, graças a uma liminar concedida pela juíza Simone Gomes Casoretti, da 14.ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, suspendendo o recolhimento do tributo.

O advogado Carlos Eduardo Peixoto Guimarães, do escritório Joseval Peixoto, Scalon e Guimarães Advogados, sustenta que o IPVA que incide sobre aeronaves é inconstitucional por uma questão formal de criação desse imposto.

‘O Sistema Tributário Nacional, previsto na Constituição Federal, determina que impostos somente podem ser instituídos por lei complementar’, afirmou.

‘E o IPVA no Estado de São Paulo não foi instituído de acordo com a Constituição.’

Segundo o advogado, uma série de liminares já concedidas demonstra que o Poder Judiciário aparenta manter uma restrição à cobrança do IPVA de aviões e embarcações. ‘Em 2002, o Supremo Tribunal Federal, numa decisão do Tribunal Pleno, composto de 11 ministros, criou uma jurisprudência, determinando que a incidência do IPVA não inclui embarcações e aeronaves’.

Guimarães explicou que, além da cobrança do imposto ser ilegal, o reajuste do IPVA vem se tornando abusivo. ‘No ano passado, a Jovem Pan pagou R$ 4 mil e, este ano, teria de pagar R$ 12 mil. Se continuar assim, aonde vai chegar o valor desse imposto?’

A Diretoria de Arrecadação da Secretaria Estadual da Fazenda já apresentou as informações contestando os argumentos da emissora. Agora, aguarda o julgamento do mérito da causa. O processo corre pela 8.ª Vara da Fazenda.’



Laura Mattos

‘O dilema das FMs de elevador e o ‘Big Brother’ do rádio’, copyright Folha de S. Paulo, 14/04/04

‘Sabe aquela música calminha que ouvimos no elevador, no consultório do dentista e na espera do telefone? Pois as rádios responsáveis por esse ‘som ambiente’ estão num processo de mudança em ritmo nada lento.

Querem um público mais jovem, chamariz de anunciantes. Para isso, estão ampliando o espaço de músicas novas, até lançamentos, em meio à enxurrada de flashbacks da programação.

É o caso da Alpha FM (101,7 MHz), a mais ouvida no segmento ‘adulto’, segundo o último relatório divulgado pelo Ibope. ‘Queremos acabar com o estigma de rádio de elevador e dentista. Pode até tocar no consultório, mas sem o trauma do motorzinho’, brinca Eduardo Leite, coordenador artístico.

Segundo ele, isso vem do tempo em que a emissora, que completa 17 anos em outubro, tocava apenas instrumental. ‘Esse tipo de música não é proibido hoje. Mas tem de ser compatível com nossa linha. Kenny G está fora porque ganhou ranço de brega, de comercial de motel’, afirma Leite.

O público da Alpha é majoritariamente da classe AB, com mais de 30 anos. Com 91 mil ouvintes por minuto, marcou o 11º lugar no Ibope. Em 12º (77 mil ouvintes) ficou a Antena 1 (94,7 MHz). Só internacional (a Alpha toca nacional também), segue a mesma busca por rejuvenescimento.

De acordo com Vlamir Marques, coordenador artístico, a Antena já chegou a ocupar 95% da programação com flashbacks, que hoje ficam com 80%. De forma gradual, planeja tocar mais músicas recentes. A questão ‘elevador-dentista’ não o incomoda. ‘Gosto de ouvir a rádio no elevador, na espera do telefone. Isso divulga a emissora. E sei que é sintonizada em outros locais.’

Dentre as ‘tops’ adultas, há outras duas FMs. A mais ‘velha’ é a Scalla (92,5 MHz), só instrumental. Ficou em 25º, com 22 mil ouvintes. A mais ‘jovem’ é a Nova Brasil (89,7), só nacional. Marcou a 14º posição (69 mil ouvintes).

Uma versão do ‘Big Brother’ chegou ao rádio. A Objetiva FM de Itajaí (SC) irá confinar 16 pessoas e monitorá-las 24 horas com câmeras, de 28 de maio a 5 de junho. Toda a programação será transmitida de um estúdio ao lado da casa -construída com paredes de vidro, num parque. O áudio dos confinados será transmitido pela emissora, e o vídeo, por dois telões, na entrada do parque.

Os candidatos serão eliminados por provas e ligações de ouvintes. O vencedor leva R$ 5.000. Batizado de ‘Ligue Brother’, será transmitido pela internet (www.objetiva.fm.br), segundo Eurípedes dos Santos, diretor da estação.’



OBSERVADORES DO SACI
Karla Dunder

‘Grupo defende o imaginário nacional’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/04/04

‘Hoje é lembrado o aniversário de um dos mais importantes autores da literatura brasileira, Monteiro Lobato. A data também marca o Dia Nacional do Livro Infanto-Juvenil, uma vez que Lobato foi um dos maiores defensores da literatura e da cultura brasileira. Esse foi o gancho para o debate dos escritores Marcia Camargos e Ricardo Azevedo hoje no Salão das Idéias da 18.ª Bienal de São Paulo, às 11 horas. Os autores falam sobre literatura e folclore.

As homenagens se estendem e os leitores também são convidados a participar da festa Viva o Saci! no Parque Trianon, das 10 às 17 horas. Grupos de capoeira, teatro, contadores de histórias e música – com destaque para a presença do Quarteto Pererê e da Orquestra Filarmônica de Violas. As atividades foram organizadas pela Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci) em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

A Sosaci é o resultado da indignação de Marcia Camargos, Vladimir Sachetta, entre outros, pela invasão do Halloween, além de outros tipos de bruxas e monstros, e o esquecimento das lendas e mitos nacionais. ‘Como cidadãos minimamente conscientes, que lidamos com a cultura, ficamos espantados com o saqueamento do nosso imaginário, a forma predatória como as nossas tradições estão sendo soterradas’, diz Marcia. Da indignação para a ação, assim nasceu a Sosaci em São Luís do Paraitinga, em julho de 2003.

O que começou de uma maneira um tanto descompromissada, tomou proporções maiores. Pessoas de diferentes partes do País se interessaram e em menos de um ano a Sosaci já possui 215 associados, de norte a sul do Brasil, além dos simpatizantes. O perfil é o mesmo: cidadãos preocupados em valorizar os mitos e as lendas brasileiros, assim como difundir a tradição oral e a cultura popular. ‘Creio que há um desejo latente na sociedade de buscar as nossas raízes; muita gente nos procura, colabora e incorpora as idéias.’ Em breve, a Sosaci terá núcleos em outros Estados, como Rio, Minas Gerais e Bahia.

Como objetivo, o grupo divulga lendas e histórias por meio de textos, músicas, esquetes, além de incentivar a leitura e elaboração de obras comprometidas com os valores e raízes brasileiros. Uma das primeiras metas do grupo já foi cumprida, a criação e atualização do site www.sosaci.org.

Lá, o leitor encontrará textos sobre o Saci, endereços e links para outros sites que falam de folclore e cultura popular e ainda um espaço para contar ‘causos’.

Essa ONC – Organização Não-Capitalista – passa longe da xenofobia, a proposta está no resgate cultural. ‘Seguimos na contramão da história, contra essa globalização que é uma via de mão única. Os Estados Unidos dominam, ditam regras e nós assimilamos; no entanto, muito pouco ou nada da América Latina chega até eles.’ A Sosaci busca a reciprocidade na troca cultural entre os povos deste mundo globalizado.

Ações – Uma das inspirações do grupo veio do próprio Monteiro Lobato. Certo dia, como lembra Marcia, o escritor caminhava pelo Parque da Luz e se deparou com anões usando cachecol. ‘Lobato decidiu convocar a população, por meio das páginas do Estado, a escrever sobre o Saci e o resultado foi o livro Inquérito do Saci, de 1918.’

Seguindo os passos do escritor, a Sosaci sugere que a população participe, deixe a abóbora de lado e adote o maroto defensor das matas.

Uma das conquistas do grupo foi a instituição do Dia do Saci, em 31 de outubro, em São Luís do Paraitinga e São Paulo, resultado de uma lei municipal da vereadora Tita Dias. Um projeto de lei federal circula pelo Congresso via o deputado Aldo Rebelo para transformar a data no Dia Nacional do Saci.

Entre as manifestações do grupo, no dia 31 de outubro a Sosaci promoveu o Raloim Caipira – Abóbora Só se For com Carne-Seca, quando lançaram o Manifesto Sacizístico, uma paródia ao Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade de 1928, em São Luis do Paraitinga. Para o Dia do Saci deste ano, o grupo programa um grande evento no Parque da Luz, primeiro por ser um dos mais antigos de São Paulo e como uma alusão à atitude de Lobato. Um dos projetos será uma exposição de Sacis desenhado por cartunistas, como o Pererê de Ziraldo, entre outros.’