Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Milagre! Os jornalões reconhecem seus pecados

Há oito meses, no dia 13 de novembro de 2008, em Roma, mais precisamente no Vaticano, o presidente Lula recebeu do papa Bento 16 os agradecimentos pela assinatura do Tratado com a Santa Sé. A imprensa brasileira assistiu à cerimônia, testemunhou o agradecimento do Sumo Pontífice ao presidente da República Federativa do Brasil e, nos dias seguintes, em uníssono negou a existência de uma Concordata e fingiu que nada importante acontecera.


A grande imprensa brasileira não foi fiel à verdade. Não chegou a mentir, fez coisa pior – de comum acordo, engavetou os fatos, enganou a sociedade brasileira. Montou um pool para despistar e ludibriar o cidadão brasileiro que lhe ofereceu um diploma de credibilidade que não merece.


Este Observatório da Imprensa esperneou, denunciou a tramóia armada pelo governo em cumplicidade com a imprensa e, na TV, escancarou o pecado grupal [ver remissões abaixo].


Agora, o milagre – primeiro o Globo e em seguida o Estado de S.Paulo reconheceram que, sim, houve a assinatura de um Tratado com o Estado do Vaticano e que este tratado não pode ser clandestino e deve ser submetido ao escrutínio público. O Estadão, com a singeleza que o caracteriza, admitiu no domingo (28/6, pág. A-26) tudo o que omitira há oito meses. E num arroubo de arrependimento reproduziu a mesma foto de Ricardo Stuckert publicada em 13/11/2008. Desta vez com a legenda correta:




‘O Presidente Lula e o papa Bento XVI, em novembro; concordata só vai ser discutida publicamente na 4ª feira’


Expiação coletiva


Em novembro, genuflexa e piedosa, com as bênçãos da Santa Madre Igreja e em nome da Fé, a grande imprensa achou correto enganar o leitor. Em junho seguinte, subiu nas tamancas, rodou a baiana e soltou a franga: quer prestigiar a audiência pública no Congresso e discutir abertamente a Concordata cuja existência sempre negou.


Este tipo de ziguezague não é novo, o lobby da mídia é useiro e vezeiro em mudar de credo e posições. Sua bússola não está voltada para o Norte como as demais, nem para o interesse público, ela aponta para os seus interesses como corporação.


Novidade extraordinária, surpreendente, é este ato de rebeldia contra o ditado da Opus Dei que controla nossa mídia com tal rigor que conseguiu embargar os festejos dos 200 anos de fundação da nossa imprensa para não prestigiar como patriarca do jornalismo um convicto maçom – Hipólito da Costa.


Algo aconteceu (ou está acontecendo). Chama a atenção a ausência da Folha de S.Paulo neste magnífico espetáculo de expiação coletiva. Talvez esteja sendo atacada pelas moscas lançadas pela sua mais recente campanha de publicidade. Logo se saberá.


Por ora, oremos. E celebremos o Estalo.


 


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