Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Afeganistão foi a principal notícia de 2009

O Afeganistão foi o assunto que dominou a cobertura internacional nas três principais redes de televisão dos Estados Unidos em 2009, segundo a edição anual do Informe Tyndall. Apesar da contínua presença de mais de cem mil soldados norte-americanos no Iraque, o Afeganistão recebeu cobertura quatro vezes maior (um total de 735 minutos) nos noticiários noturnos de 30 minutos das redes de TV abertas ABC, CBS e NBC, principais fontes de notícias nacionais e internacionais para a maioria dos habitantes dos Estados Unidos.

Além disso, apesar de sua importância para a economia norte-americana e sua posição estratégica mundial, Europa e Ásia Pacífico, com exceção da Coreia do Norte, estiveram praticamente ausentes em 2009 da pauta de notícias dessas redes, bem com América Latina e África, segundo o informe. E apesar da expectativa pela 15ª Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-15), realizada no mês passado em Copenhague, as três emissoras dedicaram apenas 76 minutos ao problema do aquecimento global.

O informe conclui que as notícias internacionais transmitidas por essas redes (cerca de 3.750 minutos, no total) constituíram um quarto dos aproximadamente 15 mil minutos de toda a cobertura no ano. Cada noticiário de meia hora, interrompido várias vezes por comerciais, na realidade tem 22 minutos de notícias. Por pequena que seja a porcentagem, representa um crescimento em relação aos 18% que os noticiários dedicaram a assuntos internacionais em 2008. Esse ano foi dominado pela campanha presidencial, que recebeu 25% de toda a cobertura, e pela crise financeira que estourou em setembro.

Destaque para a economia

A porcentagem de 2008 foi a menor desde que o informe foi divulgado pela primeira vez em 1988, e é parte de uma tendência para baixo na cobertura de notícias internacionais que começou com o fim da Guerra Fria e que foi, brevemente, interrompida entre os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington e a invasão do Iraque em 2003. A agenda de notícias em 2009 ‘esteve completamente dominada pela economia interna, o que não surpreende, devido à gravidade da recessão’, disse à IPS o editor do informe, Andrey Tyndall. ‘Por outro lado, havia um espaço vazio de cobertura que antes era dedicado às eleições de 2008 e que ficou disponível para outras notícias, mas apenas uma minoria desse vazio foi dedicada à cobertura internacional’, acrescentou.

Estima-se em cerca de 23 milhões os norte-americanos que veem as notícias da noite. Embora as redes por cabo, especialmente CNN, Fox News e MSNBC, tenham aumentado sua audiência de forma importante, o número de pessoas que assistem os telejornais na TV aberta é cerca de 10 vezes maior. Uma pesquisa de setembro de 2008, elaborada pelo Centro de Pesquisas Pew para o Público e a Imprensa, concluiu que aproximadamente 71% dos norte-americanos dependeram da televisão como principal fonte de informação, mais do que o dobro dos que se voltaram para os jornais e 30% a mais do que os que usaram a internet.

Em 2009, a economia foi a principal notícia, com quase 2.800 minutos, ou cerca de 20% de toda a cobertura. Em seguida estiveram os temas médicos, desde o debate no Congresso sobre a reforma do sistema de saúde até a gripe A/H1N1, com um total de 1.900 minutos, ou 13% do total. Nos dois casos houve aproximadamente o dobro de atenção em 2009 do que na média entre 1988 e 2008, segundo o informe. Nos assuntos internacionais, o Afeganistão dominou a lista no ano passado com 735 minutos, ou 5% de toda a cobertura de notícias. Em seguida esteve o Irã com quase 250 minutos, com cerca de dois terços dedicados às eleições de junho e à posterior crise, e o restante à controvérsia sobre o programa nuclear de Teerã.

Narcotráfico no México

O Iraque, que já foi de longe a principal notícia internacional na última década, segundo um estudo de 10 anos divulgado por Tyndall, caiu para terceiro lugar em 2009 com 159 minutos no total. O conflito israelense-palestino ficou em quarto com 132 minutos, 102 deles dedicados à operação Chumbo Derretido contra Gaza. O Paquistão, incluindo suas relações com o Afeganistão e os esforços para deter os líderes da rede Al Qaida, recebeu quase a mesma quantidade de cobertura. Os piratas do litoral da Somália ficaram em sexto lugar com 112 minutos, bem acima de outra notícia relacionada à África: a limpeza étnica na região sudanesa de Darfur, que recebeu apenas 15 minutos.

A Coreia do Norte teve 99 minutos de cobertura, sendo 50 deles dedicados à crise das duas jornalistas presas na fronteira coma China e libertadas após a visita a Pyongyang do ex-presidente Bill Clinton. A guerra contra o narcotráfico no México, a principal notícia relacionada com a América Latina, ficou em oitavo lugar com 84 minutos. A devastação causada pelo furacão Ida em El Salvador foi a segunda notícia latino-americana com maior cobertura, com 14 minutos. Em nono lugar ficou a mudança climática, com 76 minutos, dobro da medida de cobertura anual que este assunto recebeu na última década.

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Da IPS