Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Por que os publishers devem aprender a amar o Google

Já se passaram alguns anos do tempo em que era moda os diretores de jornais e revistas americanos acusarem o Google de “roubar” seu conteúdo ao fazer links com ele na internet, mas a Europa sempre aderiu a seus próprios estilos cíclicos. No velho continente, espancar o Google ainda está, e bastante, na moda. E também paga bem. Ameaçando com as leis rigorosas de direitos autorais, um grupo de publishers franceses conseguiu recentemente mexer com o gigante das buscas fazendo-o desembolsar mais de 80 milhões de dólares (cerca de R$ 160 milhões) para subsidiar seu projeto de novos modelos digitais de negócios. Mas nem isso é suficiente para os donos de jornais na Alemanha, que dizem que não irão parar até conseguirem aprovar uma lei que garanta novos direitos que exijam que mecanismos de busca paguem para classificar seus conteúdos.

A ideia do Google pagar ao jornal Le Monde ou à revista Der Spiegel pelo privilégio de enviar usuários a seus websites – usuários que podem receber anúncios pagos e podem até tornar-se assinantes – é inteiramente absurda. Mas para compreender até que ponto é absurda, você tem que ler os critérios que o Google News usa para determinar quais as matérias que devem ganhar destaque em suas páginas. Engenheiros do Google fizeram recentemente uma revisão desses critérios e os divulgaram num arquivo sobre patentes. Como explica Frederic Filloux [gerente de operações digitais do grupo Les Echos, em Paris], os critérios do Google constituem um enorme ato de generosidade em relação às organizações de mídia, principalmente jornais.

Para participar dos pontos altos do ranking do Google News de maneira satisfatória, o publisher deve conseguir demonstrar quantidade e qualidade. Alguns dos sinais usados pelo algoritmo do Google têm por objetivo detectar grandeza: o número de matérias assinadas que publica, o número de escritórios no exterior que apregoa, o simples volume de exemplares que publica em determinado dia. Outros sinais têm objetivo de selecionar o mérito, procurando erros de digitação ou medindo a densidade de informação num artigo. Um deles, “opinião humana da fonte de informação”, envolve, basicamente, pesar a reputação com base em dados de pesquisa.

Cego que não quer ver

Que tipos de organizações de mídia tendem a ser grandes, ter uma porção de autores e escritórios pelo mundo afora, usar linguagem formal com altos padrões de edição e existir há tempo suficiente para ter uma reputação estabelecida? Caso você tenha dúvidas de que o Google esteja ajudando os jornais, leve em conta que o tamanho de um artigo é um dos sinais que melhoram sua posição no ranking – matérias mais longas ficam mais bem classificadas.

Usar o tamanho do artigo como parâmetro de qualidade é, e muito, um juízo de valor. Os jornalistas da internet desempenham um serviço importante ao pegarem artigos com milhares de palavras, fuçando as partes de maior destaque, e apresentá-los aos leitores com uma frase adicional ou comentário para inseri-lo no contexto. Por seu comportamento, os leitores demonstram diariamente que acham que maior não significa melhor, mas o Google discorda. Por que? Talvez porque seja mais provável que um artigo mais longo tenha tido sua origem num jornal, onde acrescentar um assunto secundário a uma matéria é uma prática comum.

Que o Google esteja contribuindo com operações existentes para que a velha mídia sobreviva à migração digital não é notícia. Em 2010, James Fallows descreveu em detalhes seus esforços para ajudar os publishers. No ano seguinte, examinei sua missão de promover conteúdo de qualidade e limpar a internet de spam.

Que os publishers europeus ainda estejam perseguindo uma força poderosa que quer ajudá-los é absurdo e contraproducente. A seleção natural raramente favorece o cego que não quer ver.