Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Em decisão confusa, corte militar adia prisão de jornalista

O jornalista egípcio Ahmed Abu Deraa foi condenado por uma corte militar a seis meses de prisão, por entrar em uma zona militar sem autorização. No entanto, sua sentença foi adiada por tempo ilimitado, em uma decisão confusa que testa a liberdade da mídia no novo governo.

Deraa é um dos poucos jornalistas conhecidos por cobrir a região sem lei do Sinai, onde o Exército egípcio luta contra militantes furiosos com a derrubada do poder do presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana. Um promotor militar acusou o repórter de publicar matérias que contradizem declarações do Exército, em especial sobre o número de civis mortos por ataques militares. Ele foi preso no dia 4/9 e está detido desde então.

O Exército restringiu o acesso de jornalistas a regiões do Sinai onde realiza operações, o que dificulta que repórteres confirmem declarações sobre as ações militares ou verifiquem o que o Exército descreve como a “insurgência islâmica linha-dura” da região. Deraa, que trabalha para um jornal egípcio e uma rede de TV por satélite, foi multado por “espalhar informação falsa sobre o Exército”, e recebeu uma sentença suspensa de seis meses por entrar em zona militar sem autorização.

Veredicto político

Em protesto, o sindicato dos jornalistas do Egito organizou passeatas e o caso recebeu uma intensa cobertura na mídia nacional e internacional. Em uma coletiva, no entanto, um porta-voz do Exército defendeu as acusações e o julgamento militar.

Negad el-Borai, advogado egípcio que representa o jornalista, disse que o veredicto parecia ser um compromisso político, resultando na condenação mas também na liberação da prisão. “É uma corte militar e eles não gostam de declarar que a autoridade militar está errada ao inocentar o réu”, disse ele.

O caso confirmou a tendência de repressão mais ampla sobre os meios de comunicação da oposição, que incluiu o fechamento de redes por satélite islâmicas e a detenção de vários outros jornalistas. Mas também foi notável porque, apesar de o relatório sobre mortes de civis, o jornalista é considerado relativamente partidário dos militares.