Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os mecenas do jornalismo e a influência do patrocínio na notícia

Neil Barsky, ex-administrador financeiro de Wall Street, tornou-se o mais recente patrocinador do jornalismo investigativo nos EUA ao contratar Bill Keller, ex-editor executivo do New York Times, para chefiar o Marshall Project, seu novo empreendimento de jornalismo sem fins lucrativos. O projeto de Barsky, que cobrirá o sistema de justiça criminal, junta-se a uma pequena e movimentada frota de organizações jornalísticas sem fins lucrativos que patrulham o ramo.

Nos últimos cinco anos, em todos os cantos, um patrono rico fundou, financiou ou fez brotar uma empresa jornalística sem fins lucrativos: Herbert Sandler e a ProPublica; John Thornton e o Texas Tribune, Pete Peterson e o Fiscal Times, os irmãos Koch e o Franklin Center, John Arnold e o WNET; além de inúmeras outras operações locais e regionais financiadas por patrocinadores menores, ou de empresas sólidas como o Center for Investigative Reporting e o Center for Public Integrity.

Pode-se ainda ampliar esta lista ao se considerar os veículos lucrativos por definição, mas que passaram a depender de investidores ou fundos monetários para continuar na ativa, como o Washington Post e Jeff Bezos; o Boston Globe e John Henry; o Guardian e oScott Trust; além de Pierre Omidyar e e o projeto First LookMedia e Hamad bin Khalifa Al Thani e a Al-Jazeera.

Ampliando mais ainda a lista, pode-se incluir empresas licenciadas ou patrocinadas pelo Estado, como a britânica BBC e a Americana NPR, ambas com veia investigativa.

Investimento em mercado instável

Tanto investimento é um mistério. As notícias investigativas, vale lembrar, sempre foram um conteúdo de alto custo e baixo retorno – isso quando há retorno – em aumento da circulação e receitas publicitárias.

Além disso, a aparente guinada de patrocínio no jornalismo investigativo tem coincidido com a queda fatal dos jornais impressos, cuja sobrevivência basicamente depende da publicidade.

Antigamente, o jornalismo investigativo só era acessível porque os jornais tinham mais dinheiro do que eram capazes de gastar. Quando a receita de publicidade dos impressos nos EUA caiu de US$ 65 bilhões, em 2000, para cerca de US$ 20 bilhões em 2012, o jornalismo investigativo também encolheu, bem como a cobertura de notícias estrangeiras, assembleias legislativas e reportagens locais.

Segundo o economista Mark J. Perry, professor na Universidade do Michigan, a queda na receita de publicidade dos impressos “não está nem perto de terminar”. E como cerca de 80% do lucro de um jornal vem tradicionalmente deste tipo de fonte, cada vez menos impressos terão dinheiro para financiar projetos chamados investigativos.

Com menos dinheiro para gastar com investigações, os editores de jornais têm abandonado esta veia, mas não completamente, conforme atestam reportagens longas e bem apuradas realizadas por veículos de peso como New York Times, Washington Post, e Reuters. Isto acabou por criar uma espécie de “oportunidade de mercado” para que aqueles que estavam fora da mídia tradicional entrassem no nicho investigativo.

Um outro vetor da economia também ajudou a promover a entrada de novas operações de investigação no mercado: a queda dos preços das tecnologias de comunicação, que crescem exponencialmente mais poderosas a cada ano, tornando mais fácil e mais barato para as startups fazerem jornalismo investigativo para concorrer com mídias estabelecidas. A título de comparação: o último lançamento grandioso de uma revista – a Portfolio, da Condé Nast, em 2007 – levou quase dois anos desde sua concepção até a entrega dos exemplars na caixa de correio dos leitores, e custou pretensos US$125 milhões. O Marshall Project de Barsky está “em construção” há cerca de quatro meses, com previsão de lançamento para meados deste ano e orçamento de US$5 milhões.

Enquanto jornais realizam reportagens investigativas para adquirir o direito de se gabar e de ganhar Pulitzers, os novos patrocinadores querem principalmente salvar o mundo. Pierre Omidyar articulou sua oposição à cultura de vigilância, os Koch seguem uma pauta libertária, e Neil Barsky já adiantou que o objetivo do Marshall Project é “ajudar a tornar a reforma da justiça penal uma parte importante do debate nacional até a campanha presidencial de 2016”. A maioria limita seu ativismo a posições seguras como o “bom governo”, um eleitorado informado e o valor do serviço público.