Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A margem de erro nas pesquisas

Andrew Alexander inicia sua coluna de domingo (26/7) dizendo que os norte-americanos adoram pesquisas. Pesquisas eleitorais. Pesquisas de opinião. Pesquisas para avaliar se Michael Jackson foi assassinado ou não. As pesquisas proliferam, assim como proliferam problemas devido à forma pela qual são conduzidas e divulgadas. O Washington Post, segundo Alexander, estaria tomando providências para controlar esses desvios.

Várias semanas atrás, a redação recebeu orientações atualizadas que indicam o que deve e o que não deve ser feito. O objetivo, disse o diretor de pesquisas do jornal, Jon Cohen, é lembrar a repórteres e editores que ‘nem todas as pesquisas são iguais’. Enquanto algumas são estatisticamente válidas, outras são pseudo-pesquisas fantasiadas de pesquisa científica séria. E outras são apenas disparates.

‘O número [de pesquisas] vem aumentando’, disse Richard A. Kulka, até recentemente presidente da Associação Americana para Pesquisa de Opinião Pública, que promove a qualidade nas pesquisas. ‘Nunca foi tão barato fazê-las… principalmente se não foram empregados padrões de probabilidade aceitáveis.’

Perguntas básicas

A pesquisa de opinião pública tem sido um importante instrumento do Post desde 1935, quando o pioneiro George Gallup deu início à coluna ‘America Speaks’. O jornal até contratou um balão dirigível para anunciá-la no céu de Washington. Atualmente, o Post é um dos poucos jornais norte-americanos altamente comprometidos com suas próprias pesquisas. Realiza pesquisas nacionais, às vezes até mensais, numa parceria de décadas com a ABC News. A metodologia utilizada pelo Post é acessível em seu site na web.

Todos os padrões atualizados – que Cohen diz que eventualmente serão divulgados ao público – são relacionados a credibilidade. ‘Temos de ser tão céticos com números como com outros tipos de informação’, escreveram os editores administrativos Liz Spayd e Raju Narisetti numa nota à redação. ‘Só porque vemos um número e um percentual atribuído a alguma coisa, isso não significa que seja um fato.’

Empresas jornalísticas de qualidade, como o Post, sabem fazer as perguntas básicas para estabelecer a confiabilidade de uma pesquisa. Quem pagou pela pesquisa (estão forçando um ponto de vista)? Como foram ordenadas as perguntas (estavam no lead)? Como foi escolhida a amostragem (foi realmente aleatória)? Qual a margem de erro (pode ser estatisticamente significativa)? Quem respondeu à pesquisa (no caso de uma pesquisa eleitoral, seriam ‘possíveis’ eleitores)? Quando responderam à pergunta (antes da declaração desastrosa do candidato que lidera)? Como foi feita a pesquisa (entrevista pessoal, resposta automática por telefone ou pela internet)?

O importante é a transparência

Mas os repórteres do Post são incentivados a ir mais fundo e ficar particularmente atentos a novas técnicas, não comprovadas, de pesquisa. Entre elas, as pesquisas click in, nas quais os consultados respondem online. Não são consideradas de confiança porque a amostragem não é aleatória. Também há a preocupação com as robopolls, nas quais uma voz gravada sugere respostas (‘tecle 1 para sim’). Ao contrário de uma entrevista por telefone ao vivo, não há como saber se não é uma criança de oito anos que está pressionando as teclas.

‘Ao publicarmos números de qualidade duvidosa ou fora de um contexto essencial, nós os ampliamos e corremos o risco de enganar o leitor’, escreveu Cohen, explicando a decisão. A recusa em publicar uma pesquisa falsa pode colocar o Post em desvantagem, pois ela certamente aparecerá em outro jornal. Mas Cohen afirmou, numa entrevista, que defenderia a posição de que ‘integridade é uma vantagem competitiva’.

Se o Post se preocupa com a autenticidade de pesquisas externas, também cuida de algumas internas. No site do jornal são comuns ‘pesquisas’ não-científicas, para encorajar interação com leitores. Uma coluna semanal – Friday Follies – Totally Random Polls – os convida a votar em questões banais e a acompanhar o resultado das respostas.

‘As pessoas foram incentivadas a incluir pequenas ‘pesquisas’ em seus blogs ou, de contrário, aumentar suas promessas (online)’, diz Cohen. Mas os padrões atualizados insistem que incluam uma advertência: ‘Esta é uma pesquisa não-científica. Seus resultados não têm validade estatística e não podem ser considerados representativos das opiniões dos usuários do Washington Post como um grupo ou da população em geral.’

Como sempre, o importante é a transparência.