Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

ANÁLISE
Emílio Odebrecht

A imprensa e o novo Brasil

‘NO FINAL do ano passado, a revista ‘The Economist’ brindou-nos com uma matéria de capa cujo título era: ‘O Brasil decola’. A reportagem chama nosso país de maior história de sucesso da América Latina. Lembra que fomos os últimos a entrar na crise de 2008 e os primeiros a sair e especula que possamos nos tornar a quinta potência econômica do globo dentro de 15 anos.

Não é apenas a revista inglesa que vem falando dos avanços aqui obtidos nos campos institucional, social e econômico nas últimas décadas. Somos hoje referência no mundo e um exemplo para os países em desenvolvimento, vistos como uma boa-nova que surge abaixo da linha do Equador.

Diante disto, me pergunto se a imprensa brasileira está em sintonia com a mundial -que aponta nossos defeitos, mas reconhece nossos méritos.

Tal dúvida me surge porque há um Brasil que dá certo e que aparece pouco nos meios de comunicação. Aparentemente, o destaque é sempre dado ao escândalo do dia.

Isso deixa a sensação de que não estamos conseguindo explicar aos brasileiros o que a imprensa internacional tem explicado aos europeus, norte-americanos e asiáticos.

Tornar públicas as mazelas é obrigação da imprensa em um país livre. Mas falar somente do que há de ruim na vida nacional, dia após dia, alimenta e realimenta a visão negativa que o brasileiro ainda tem de si.

Se as coisas por aqui caminham para um futuro mais promissor, é porque, em vários âmbitos, estamos fazendo o que é o certo.

Para líderes políticos, empresariais e sociais dos países que precisam encontrar o caminho do progresso, conhecer nossas experiências bem sucedidas pode ser o que buscam para desatar os nós que ainda os prendem na pobreza e no subdesenvolvimento.

O fato é que, ficando nos estreitos limites do senso comum, a sensação é de que a imprensa, de uma forma geral, considera o que é bem feito uma obrigação -não merecedor, portanto, de ocupar espaços editoriais, porque o que está no plano da normalidade não atrairia os leitores.

Ocorre que o que acontece aqui, hoje, repercute onde antes não imaginávamos. Por outro lado, há uma mudança cultural em curso na sociedade brasileira e a imprensa tem um papel preponderante nesse processo.

O protagonismo internacional do Brasil e nossa capacidade de criar novos paradigmas impõem que a boa notícia seja tão realçada quanto são os fatos que apontam para a necessidade absoluta de uma depuração de costumes que ainda persistem em nossas instituições.’

 

TV PÚBLICA
Paulo Markun e Gabriel Priolli

Nem concorrência nem submissão

‘A TELEVISÃO pública, diga-se com clareza, ainda não existe no Brasil. Emissoras independentes do mercado e dos governos de plantão, mantidas e controladas pela sociedade, são, por enquanto, sonhos, promessas ou, na melhor das hipóteses, projetos em construção. Obra que vem se erguendo aos poucos, de várias formas. Essa heterogeneidade pode ser virtude, mas dá margem a incompreensões, que convém aclarar.

A TV Cultura e a TV Brasil, as duas maiores emissoras oriundas de um modelo educativo-estatal em transição para o modelo cultural-público, padecem no momento com um desses mal-entendidos. Numa lógica de telenovela, comentários de formadores de opinião e reportagens de imprensa têm colocado a emissora paulista no papel de ‘vilã’, ao cobrar de outras estações pelo direito de retransmitirem seus programas, enquanto a TV Brasil desempenha o papel de ‘boazinha’, por oferecer ‘de graça’ toda a sua programação.

Há dois anos, o Senado aprovou a criação da Empresa Brasil de Comunicação, a quem cabe criar a Rede Nacional de Comunicação Pública. Seus recursos, assegurados pelo Orçamento da União, permitem sustentar a oferta graciosa de conteúdos e até o financiamento da modernização ou projetos de produção das afiliadas.

Já a TV Cultura surgiu há 40 anos, para oferecer aos contribuintes paulistas (que a financiam) educação, cultura, informação e formação crítica para o exercício da cidadania, sob a fiscalização de um Conselho Curador, democrático e plural. Depois de alcançar todo o Estado de São Paulo, passou a disponibilizar seu conteúdo pelo satélite, cobrindo todo o país. E, por anos a fio, ofereceu a outras emissoras toda a sua programação -sem ônus para elas, mas também sem qualquer contrapartida para si.

O surgimento da EBC impôs uma mudança de rumo nessa política. A atitude paternalista vem sendo substituída por acordos pontuais e flexíveis com emissoras educativas ou comerciais, em pacotes ajustados às necessidades de cada uma, sem interesse, obrigação ou ônus da Cultura em ser ‘cabeça de rede’.

Se o Estado de São Paulo investe mais de R$ 80 milhões/ano, com esforço, para produzir ou comprar os programas exibidos por sua TV pública, por que outros Estados, interessados nesses programas, devem recebê-los graciosamente? Por que não ajudam a custeá-los, na medida de suas possibilidades?

Recentemente, a Rede Minas adquiriu um pacote anual de dez programas da TV Cultura pelo valor mensal equivalente ao custo de produção de um único episódio de um desses produtos. Negociações semelhantes acontecem com as TVs Educativas do Rio Grande do Sul e do Paraná, a TV Brasil Central (GO) e outras emissoras.

A TV Cultura não integra a rede liderada pela TV Brasil, mas rejeita a condição de concorrente. Tanto que, na cidade de São Paulo, os transmissores da TV Brasil estão sediados na torre da Cultura, por um acordo em que ninguém saiu perdendo.

Quatro de nossos melhores programas -’Roda Viva’, ‘Viola Minha Viola’, ‘Cocoricó’ e ‘Vila Sésamo’- são exibidos há quase dois anos pela emissora federal e afiliadas, com base num contrato de retransmissão que aporta recursos importantes para sua própria manutenção e aperfeiçoamento. Outros programas estão sendo negociados e já há co-produções em andamento. A primeira é ‘Almanaque Brasil’, em pré-produção.

Em 2007, quando a TV Brasil começou a operar, as emissoras que hoje integram sua rede exibiam uma programação composta majoritariamente por produtos oferecidos pela TV Cultura (49%) e pela TVE do Rio (31%), cabendo à produção local os 20% restantes. Hoje, 68% da programação exibida nas mesmas emissoras são gerados pela TV Brasil, 14% pela TV Cultura e 18% são de produção local. Os dados são de setembro de 2009, os mais recentes disponíveis.

Sem subordinação nem concorrência, a TV Cultura continua aberta à cooperação com todas as emissoras públicas brasileiras, como já faz com suas congêneres de Angola, Argentina, Cabo Verde, Colômbia, Coreia do Sul, Costa Rica, Chile, Equador, Espanha, Grã-Bretanha, Guiné-Bissau, Macau, México, Moçambique, Panamá, Peru, Porto Rico, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Uruguai e Venezuela -em muitos casos, por meio de programas idealizados pelo Ministério da Cultura.

Transpor a lógica partidária, governo versus oposição, para o campo da TV pública não interessa a ninguém. A partidarização desse campo certamente não ajuda a lavrá-lo melhor.

PAULO MARKUN é diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, e diretor-tesoureiro da Abepec (Associação Brasileira de Emissoras Públicas, Educativas e Culturais).

GABRIEL PRIOLLI é coordenador de Expansão e Rede da Fundação Padre Anchieta.’

 

TELEVISÃO
Sílvia Corrêa

Maria Paula faz mega-hair e tour em sex shop para estrelar filme

‘Demorou três dias para Maria Paula colocar, um por um, os fios da enorme cabeleira com a qual aparecerá na comédia ‘Sex Delícia’. O filme, de Roberto Santucci (‘Bellini e a Esfinge’), começa a ser rodado na terça, em Paulínia (SP), com orçamento de R$ 5 milhões e participação especial de outros atores globais, como Flavia Alessandra e Bruno Gagliasso.

‘Estou toda gostosona. Uma mistura de Megan Fox com Angelina Jolie e Penélope Cruz’, brinca a atriz, que diz sentir a mudança. ‘É uma coisa louca como me olham diferente. O cabelão é quase um fetiche.’

Maria Paula foi encarnando os trejeitos da personagem conforme cresciam os centímetros de cabelo. ‘É muito diferente, até pelo peso. Com esse cabelão fui ganhando o gingado da Marcela. Já fico jogando a cabeça para lá e para cá.’

No longa, Marcela é dona de um sex shop e vive tentando tirar o estabelecimento do vermelho. Finalmente, conhece uma vizinha, vivida por Ingrid Guimarães, com quem monta um bem-sucedido delivery de brinquedinhos sexuais.

Por causa do filme, Maria Paula se mudará temporariamente para o interior de São Paulo. Antes, dedicou-se a uma curiosa preparação. ‘Fui de sex shop em sex shop fazer laboratório. Estou por dentro de todas as novidades’, diverte-se.

Antes do início das gravações, ela e Ingrid já trocam figurinhas. Mas sobre filhos. ‘Vai ser um set de bebês e babás!’

A folga na agenda -que permitiu o investimento no cinema- ela agradece ao ‘BBB’, que ocupa o horário na Globo durante as férias do ‘Casseta e Planeta’, que só quer saber de piadas depois do Carnaval.

DUPLA FORMA 3º PAR ROMÂNTICO

Mais uma vez eles se gostam e mais uma vez vão ter de lutar para ficar juntos. Em ‘Tempos Modernos’, nova novela das sete da Globo, os atores Thiago Rodrigues e Fernanda Vasconcellos formarão um par romântico pela terceira vez.

Eles começam a trama apaixonados, mas ele já tem namorada. Ou seja: a personagem de Fernanda -que até tentou se matar pelo amado em ‘Páginas da Vida’- vai ter capítulos e capítulos de sofrimento.

‘Não acho que é ela quem sempre sofre por ele. Mas amor de novela tem que ser impossível mesmo’, diz Thiago.

ELEMENTAR, WATSON

Ficou evidente que marketing e conteúdo caminham juntos no game show ‘1 Contra 100’ (SBT). Na quarta passada, Roberto Justus perguntou a um participante o nome do personagem de Conan Doyle que vivia na Baker Street. No bloco seguinte, entrou o merchandising do filme ‘Sherlock Holmes’, que estreou na sexta.

COCHILOU

Nos primeiros dias como funcionário da Record, o apresentador Marcos Mion tem enchido seu Twitter com detalhes sobre a casa nova -do camarim às reuniões. Só se esqueceu de mudar o link que aparece em seu perfil. Continua o da MTV.

PASSAPORTE

‘Descolados’ (MTV) é a única produção brasileira na competição oficial de 2010 do Festival Internacional de Programas Audiovisuais (FIPA), que começa no dia 26, na França. É o sétimo programa nacional a concorrer na última década.

BALADA CARIOCA

A música ‘Rio’, do Duran Duran, vai ganhar uma batida brasileira na abertura da série homônima que o diretor Scott Steindorff grava na cidade. A produção também vai incluir apresentações de artistas nacionais nos episódios.’

 

Laura Mattos

Segurança máxima

‘Bosco Brasil vai completar 50 anos em março e ri ao comentar que ‘desde sempre’ foi chamado de ‘novo autor’.

Dramaturgo consagrado -é dele o sucesso de público e crítica ‘Novas Diretrizes em Tempos de Paz’-, estreia amanhã no restrito grupo de autores da Globo, depois de atuar por mais de 15 anos como colaborador dos tradicionais titulares.

Sua primeira novela, ‘Tempos Modernos’, vai ao ar às 19h, horário que está com ibope turbinado pelo bom desempenho da anterior, ‘Caras & Bocas’.

Antonio Fagundes será dono de um condomínio tomado por câmeras de segurança, comandado por um computador que pensa e fala. Fica no centro histórico de São Paulo, que tem réplica da Galeria do Rock, mas é um lugar limpo, com glamour, que vilões querem destruir com arranha-céus e a mocinha, filha de Fagundes (Fernanda Vasconcellos), quer preservar.

Leia abaixo o que o autor disse à Folha sobre a resistência da Globo em renovar seu quadro de autores e como essa geração que enfim dá as caras deve mudar a televisão.

FOLHA – O que você pretende discutir em ‘Tempos Modernos’?

BOSCO BRASIL – Escrevo com o intuito de contar uma história. Mas tem uma gênese importante, o aspecto dito hobbesiano [Thomas Hobbes (1588-1679), ‘Leviatã’], de abrir mão da liberdade para ganhar segurança. O que se gasta com segurança privada é impressionante. Condomínios estouram como pipoca prometendo segurança. A tecnologia se torna uma palavra mágica, as pessoas se sentem seguras por câmeras.

E me chama a atenção a história de ‘edifício inteligente’. Quero falar disso como comédia. Gosto de trabalhar no limite da realidade. Prefiro que o prazer da história esteja acima da reprodução da realidade. Quero contar uma história que, se possível, cause reflexão.

FOLHA – No making of do filme ‘Tempos de Paz’ [baseado na peça de Brasil], você diz que esse texto discute se a arte pode modificar algo, se mobiliza. Como as novelas se colocam nessa questão?

BRASIL – Sou menos desencantado do que a maioria das pessoas que têm a minha formação. Por mais que neguem, todo mundo escreve, faz arte, querendo mudar o mundo. A minha geração tem um vício de se declarar pessimista, e fui treinado a dizer ‘faço por fazer’.

Aí, o [cineasta e dramaturgo] Domingos de Oliveira me chamou a atenção para o fato de que isso é um vício de geração.

Se sinto que a arte pode mudar a vida, por que esconder?

FOLHA – Vamos falar especificamente da novela, que, em termos de público, teria muito mais chance de mobilizar do que teatro ou cinema. Você está experimentando esse alcance pela primeira vez, por mais sucesso que tenha feito no teatro.

BRASIL – O teatro tem satisfação imediata, aplauso ou vaia, mas a repercussão cresce com o tempo. A novela não tem aplauso, mas o porteiro já comenta, a repercussão é enorme. Não sei qual será o resíduo desta novela. Muitas deixam sensações e, de outras tantas, não sobra nada. Tenho noção da diferença de números entre teatro e TV, mas gosto de trabalhar no qualitativo e não no quantitativo.

FOLHA – O que acha do merchandising social? Vai levantar a bandeira da revitalização do centro de SP?

BRASIL – Sou apaixonado por São Paulo. Comecei a frequentar o centro no ginásio, em 1970. A minha memória é das praças, dos grande monumentos, de um lugar cheio de glamour. E vi tudo ser destruído. O que me mobiliza é a emoção e a nostalgia que isso provoca.

FOLHA – Como será o centro?

BRASIL – É o centro dos meus sonhos, como imagino que vai ficar após a revitalização. Sinto que a novela pode colaborar. O sujeito vê na TV e vai se interessar pelo lugar. Mas a novela não está em função disso.

FOLHA – Não acha que essa história de merchandising social deixa as novelas muito politicamente corretas?

BRASIL – Confesso que acho essa discussão do politicamente correto no Brasil confusa. Nunca conseguimos ser politicamente corretos. Num país tão avacalhado, essa discussão é meio furada (risos). Nas novelas, o merchandising social deve aproveitar algo que o autor esteja trabalhando, potencializar uma discussão da história.’

 

‘Houve subutilização de autores’, diz autor de ‘Tempos Modernos’

‘Leia a continuação da entrevista com Bosco Brasil. (LM)

FOLHA – Como sua geração vive o conflito entre inovar e manter a tradição, sob a pressão por audiência?

BRASIL – É engraçado, sempre sou novo autor (risos). Tivemos um período de subutilização de autores. Autor é caro, há investimento na formação de longo prazo. Em grande disputa de mercado, é complicado arriscar. Muita gente que poderia assumir novela não assumiu, foi política da Globo.

Estamos chegando no limite de autores tradicionais e começamos a assinar novela com certa idade. Na novela, quero levar todas as minhas influências. Quando a personagem for cantora de ópera, quero contar a história de modo operístico, testar outras linguagens.

FOLHA – Isso será uma tônica desta nova geração de autores?

BRASIL – É inevitável. E o público também está mudando. Um garoto de 18 anos passou parte da vida vendo desenhos japoneses que são novelões, mas trazem outros aspectos.

FOLHA – Como fez séries de rádio, lhe pergunto: A TV não matou o rádio, mas acabou com sua dramaturgia. A internet e novas mídias podem acabar com a teledramaturgia por oferecer mais recursos à criação?

BRASIL – Quando houve o declínio da dramaturgia no rádio, a possibilidade de confluência tecnológica com a TV era muito baixa. Hoje é diferente. A TV está se preparando para a confluência. A Globo vai fazer um trabalho bacana com ‘Tempos Modernos’ na internet.

Não vai ser só um site, como o das novelas anteriores. Teremos um morador virtual do condomínio da novela. O computador, Frank, vai falar com internautas. A Globo está determinada a investir, criar uma plataforma que integre o público, com produção de conteúdo.’

 

Lúcia Valentim Rodrigues

Diretor restaura a série ‘Vigilante Rodoviário’

‘‘De noite ou de dia, firme no volante, vai pela rodovia bravo vigilante.’ A música marcava o início de ‘O Vigilante Rodoviário’, em março de 1961.

Também sinalizava o começo da produção nacional. Quase não havia telenovelas. A programação se baseava em enlatados, programas de auditório e de perguntas e respostas. ‘Foi sofrido demais ser o pioneiro, fazer as pessoas acreditarem que ia dar certo’, conta o diretor Ary Fernandes, que convenceu a patrocinadora Nestlé. O ator Carlos Miranda, 76, faz coro: ‘A maior dificuldade era não ter parâmetros’.

E foi ‘fazendo um monte de besteiras’ que Fernandes e o produtor Alfredo Palácios se ‘aventuraram’ nos seriados.

‘Fomos motivo de piada por querermos criar um herói brasileiro. O pessoal debochava que ia virar um malandro’, conta ele, aos 78 anos.

A ideia de defender a cultura nacional estava em sua cabeça desde criança, quando assistia a ‘Lanceiros de Bengala’ e ‘Rin-Tin-Tin’. ‘Achava estranho não ter nenhum nome brasileiro no elenco.’ A intenção aflorou após deslanchar a carreira.

O seriado, que no início se chamava ‘O Patrulheiro’, chegou a estar presente em 80% das casas. ‘Era uma loucura. Todo mundo assistia. Naquela época, era tudo ou nada.’

Daí o susto quando a concorrente Toddy lançou ‘Patrulheiros Toddy’, imitando o nome do seriado. Fernandes pensou em processar a empresa, mas o patrocinador disse para trocar para ‘Vigilante’ e ‘que o melhor ficaria no ar’. ‘Até me deu dor de barriga. Mas vencemos.’

Uma dificuldade superada entre outras tantas técnicas e financeiras. A viatura-símbolo da série, o Simca-Chambord 1959, era emprestada pela montadora. Nem havia instrutor para o cachorro Lobo. ‘Mas tudo bem, ele nasceu inteligente. Foi o maior ator da série e inclusive supria as falhas de alguns atores’, exagera Miranda.

Um Carlos para o Carlos

O roteiro estava já delineado, mas o diretor não conseguia achar alguém para o inspetor Carlos. ‘Fizemos 60 testes.’ Naquela época, Miranda era recém-formado e trabalhava de assistente de produção. ‘Como o cinema estava em crise, cozinhei muita macarronada para alimentar o pessoal desempregado’, conta Fernandes.

Foi a mulher do diretor que teve a ideia de testar Miranda. ‘Quando vi ele fardado, terminei a busca. O nome igual foi apenas uma coincidência.’ Ao final do programa, em 1962, o ator ingressou na Polícia Rodoviária, entrando no ‘Guinness’ por ser o primeiro personagem a virar realidade.

‘O convívio foi tão intenso que resolvi virar policial. Me aposentei como tenente-coronel.’

A caixa, com quatro DVDs, reúne 35 dos 38 episódios -três não puderam ser recuperados. Com narrativa simples, pouca violência e ingenuidade -crianças desarmam um bandido, o policial se defende com socos e pontapés-, a série se mantém no ar no Canal Brasil, às segundas (20h30), terças (15h30) e domingos (11h).’

 

QUINZAINE LITTÉRAIRE
Leneide Duarte-Plon

O editor das estrelas

‘Maurice Nadeau tem 98 anos e escreve uma coluna na ‘Quinzaine Littéraire’, o mais importante jornal literário francês, que criou e edita há 43 anos. Sem anunciantes e sem mecenas, a ‘Quinzaine’ é feita por colaboradores famosos que trabalham de graça e repousa sobre a reputação de Nadeau, um mito da edição e da crítica francesa.

Além do jornal, com sede em frente ao Centro Georges Pompidou, ele dirige a editora Maurice Nadeau, na qual só publica o que gosta. Sobrevivendo a todas as crises da imprensa, o número 1.000 da publicação saiu no começo de outubro de 2009.

Ele trabalhou como crítico literário no jornal ‘Combat’, em que Albert Camus [1913-60] era editorialista. Fundou revistas e dirigiu coleções em diversas editoras. Foi Nadeau quem lançou o primeiro livro de Michel Houellebecq [‘Extensão do Domínio da Luta’, em 1994] quando nenhuma editora se interessava pelo autor. Foi ele quem editou o primeiro livro de Roland Barthes [‘O Grau Zero da Escrita’, 1953] e quem lançou na França Samuel Beckett, Malcolm Lowry e Henry Miller.

E tirou Sade da seção ‘Inferno’ da Biblioteca Nacional da França, ao publicar uma antologia dos textos do marquês. Sua ‘História do Surrealismo’ é uma referência no assunto, seu ‘Gustave Flaubert -Un Écrivain’ [Gustave Flaubert – Um Escritor] recebeu o Prêmio da Crítica Literária em 1969, suas memórias ‘Grâces Leur Soient Rendues’ [Graças Lhes Sejam Rendidas] tratam de mais de meio século da vida literária francesa.

A seguir, a entrevista exclusiva que Nadeau concedeu à Folha na redação da ‘Quinzaine Littéraire’.

FOLHA – Em 1986, quando a ‘Quinzaine Littéraire’ comemorou 20 anos, o sr. disse: ‘Uma coisa é certa, não estarei na festa dos 40 anos da Quinzaine’. Em 2006, o sr. recebeu a intelectualidade parisiense para a festa dos 40 anos. Agora, o sr. comemora o número 1.000. O sr. venceu muitas dificuldades, não?

MAURICE NADEAU – Muitas. Fazemos 23 números por ano há 43 anos. Nunca pude imaginar. Neste especial, conto como contratei Anne Sarraute, recomendada pela mãe, a escritora Nathalie Sarraute. Estávamos no número três e eu não tinha mais dinheiro. Tinha feito empréstimos. Sua mãe me disse: ‘Ela tem muito boa vontade e vai ser útil a seu jornal’. Anne trabalhava no cinema e queria mudar de atividade. Tinha vivido uma história sentimental e não estava bem.

FOLHA – Apesar da conjuntura, o jornal chegou ao número 1.000…

NADEAU – Sim, significa muito trabalho, muitas alegrias e muita preocupação. Financeiramente, não é nada fácil, pois não há um grupo de imprensa, não há um mecenas, o jornal não tem publicidade. Mas os articulistas, jornalistas, professores universitários, críticos e escritores de fama internacional trabalham de graça. É o único jornal que tem colaboradores voluntários, fora os jornais de partidos ou religiosos.

FOLHA – Mas eles fazem um jornal que goza de um prestígio especial.

NADEAU – No número 1.000, eles falam desse trabalho. Em geral, estão satisfeitos com o trabalho aqui. Tudo vai bem, menos as finanças. Estamos sempre no limite. Quando estamos estrangulados, faço um apelo aos leitores e eles respondem. Os assinantes e os leitores são sempre generosos.

FOLHA – Fazem doações?

NADEAU – Sempre. Há dois anos, recebemos 38 mil em doações para pagar dívidas do jornal. Em 1975, fizemos uma exposição para a ‘Quinzaine’: Miró enviou um quadro de Barcelona, Michaux e Beckett doaram manuscritos. Isso nos permite continuar fazendo o jornal.

FOLHA – A ‘Quinzaine Littéraire’ se inspirou no ‘Times Literary Supplement’ e no ‘New York Review of Books’. Mas ela não tem publicidade e vive das vendas em bancas e de assinaturas. Recebem alguma subvenção do Estado para a cultura?

NADEAU – Recebemos uma subvenção do Centro Nacional das Letras. Essa subvenção paga um número dos 23 que fazemos por ano. No mês de férias, fazemos apenas um.

FOLHA – Não ter publicidade é uma escolha do jornal ?

NADEAU – Não, gostaríamos de ter, mas queríamos escolher. A publicidade é sempre uma mentira. Se os pequenos editores quisessem, poderíamos facilitar. Mas não nos procuram. Quanto aos grandes, a ‘Quinzaine’ não lhes interessa por causa da tiragem, não se compara à do ‘Le Monde’ ou à das revistas. Preferem anunciar no ‘Le Monde’, claro, mas também pagam muito mais… No número 1.000, tivemos quatro ou cinco anunciantes.

FOLHA – Qual é a tiragem da ‘Quinzaine’?

NADEAU – Temos cerca de 5.000 assinantes e, em bancas, vendemos 10 mil exemplares.

FOLHA – Essa tiragem é constante desde a fundação ou já foi maior?

NADEAU – Há uma erosão lenta, como na imprensa em geral. Tive colaboradores que hoje estão na internet. Tenho propostas de me associar à internet. É curioso, eles têm necessidade do jornal impresso, de qualquer forma.

FOLHA – No futuro, a imprensa vai se modificar ou vai desaparecer?

NADEAU – Acho que não vai desaparecer. É estranho ver que o ex-diretor do ‘Le Monde’ fundou um jornal na internet, ‘Médiapart’, que agora quer criar uma versão em papel.

Penso que se descobre que o impresso é mais prático de ler do que uma tela de computador. A primeira experiência do e-book foi um fracasso. Tentam agora algo diferente.

Antes de vir para a redação hoje, recebi uma proposta de um jornalista que tem um programa de rádio e um site e que me propôs uma associação com a ‘Quinzaine’, para tratar de livros seriamente.

FOLHA – Como ele quer se associar à ‘Quinzaine’?

NADEAU – Ainda não sei. Acabamos de conversar.

FOLHA – Um leitor que mora fora da França não pode ler o jornal na web?

NADEAU – Não. Podemos vir a fazer. Pode ser uma coisa boa.

FOLHA – O sr. criou a ‘Quinzaine’ há 43 anos. O que mudou no mundo literário e no mundo da edição?

NADEAU – No da edição é evidente: no mundo inteiro as pequenas editoras desaparecem, compradas pelos grandes grupos. Ainda existem as pequenas porque é menos caro fazer um livro hoje, com a informática. Mas elas nascem, duram um ano ou dois e desaparecem.

FOLHA – O sr. acha que os franceses leem menos que antes?

NADEAU – Não sei. Os jovens leem menos. No liceu, têm o celular, o computador. Uma pessoa me contou de alguém que fazia uma tese sobre Montaigne [1533-92] e que leu um dos ‘Ensaios’, entre os 12. Não tinha lido os outros. Mas tenho uma amiga que tem uma livraria que me diz que os jovens compram livros.

Há ainda os que leem, mas há os que ficam grudados nos jogos eletrônicos. Estes estão perdidos para a literatura e os livros.

FOLHA – Como são escolhidos os livros a serem resenhados?

NADEAU – Recebemos os ‘press releases’. Pedimos os que queremos receber. Eles são expostos numa mesa grande. Toda semana, me reúno com um dos dois grupos de resenhadores: o primeiro inclui historiador, psicanalista, filósofo, crítico de arte. Na semana seguinte, é o grupo que escreve sobre literatura, ensaios literários, poesia, correspondência. Duas vezes por ano, esses dois comitês de redação se encontram para se conhecerem melhor.

FOLHA – É o sr. quem escolhe os livros que serão analisados?

NADEAU – Sim, mas cada responsável por uma seção dá sua opinião, diz o que pensa, se vale a pena resenhar. Não pergunto sobre as ideias políticas deles, se são judeus, católicos ou protestantes. São pessoas que se encontram aqui, e o jornal é o ponto em comum. Eles são voluntários, como na guerra.

FOLHA – Um jornal revelou que o sr. copiou à mão os livros de Sade, que ficavam bem protegidos no ‘Inferno’ da Biblioteca Nacional da França, para publicá-los logo em seguida. O sr. pode contar essa aventura?

NADEAU – Foi em 1948. Queria fazer uma antologia e escolhi [os textos] nas obras de Sade da BNF, totalmente proibidas. Quando publiquei, a antologia foi retirada das livrarias na França. A Suíça nem sequer quis receber. E olhe que eu tinha escolhido o que era mais filosófico e menos escandaloso na obra de Sade. Depois disso, Sade se tornou um autor lido e conhecido.

FOLHA – O sr. trabalha muito. Como é o seu dia entre a ‘Quinzaine’ e as edições Maurice Nadeau?

NADEAU – Trabalho muito, é o que digo a mim mesmo diariamente. De manhã, trabalho para mim, leio e escrevo. À tarde, venho à redação do jornal, onde também fica a editora. Aqui é tudo urgente.

FOLHA – O sr. disse numa entrevista: ‘Para mim, ler, editar, escrever sobre os livros são o mesmo prazer e o mesmo dever. Não sou um crítico, sou um leitor’. Quais são seus outros prazeres?

NADEAU – Cultivei esses prazeres quando era mais jovem. À noite, assisto na televisão aos programas literários. Só vou ao cinema ver os filmes de amigos que trabalham em cinema.

FOLHA – E os passeios a pé?

NADEAU – Sim, tento viver sem ter necessidade de uma cadeira de rodas. Vou andar no Jardim de Luxemburgo. Aos domingos, caminho 45 minutos.

FOLHA – Que autores o sr. gosta de reler?

NADEAU – Tenho alguns desejos que nem sempre posso satisfazer. Releio Montaigne. Sade conheço bem demais, não preciso reler. Releio Flaubert. Cada releitura é diferente. Mas sou obrigado a ler os artigos para publicar na ‘Quinzaine’. Minhas releituras são na casa de campo, durante as férias de verão. Li Tácito neste ano. Tenho uma biblioteca enorme no campo. Durante um mês de férias, mergulho em outras leituras. E caminho também.

FOLHA – O sr. foi comunista e depois trotskista. Qual é o lugar da política em sua vida?

NADEAU – Não posso mais dizer que sou trotskista. Isso é um modo de vida. Era a militância, distribuir jornais. Não faço mais isso. Não tenho mais o direito de dizer que sou trotskista. Mas fiquei fiel aos fundamentos, Engels e Marx, que releio. Mas sei que era o século 19, o começo da era industrial. Sei que tudo isso acabou, é o econômico que prevalece sobre o político hoje. Vejo a supremacia das finanças sobre tudo o mais. Estamos agora em plena crise financeira.

FOLHA – O sr. acha que Marx está superado?

NADEAU – Ao mesmo tempo, vemos que tudo é como ele havia dito. Isso é verdade, mas é preciso adaptá-lo a um mundo que mudou.’

 

HISTÓRIA
Flávio Gomes

Cidadãos e escravos

‘O problema não está no passado, embora nele possamos encontrar caminhos de interpretação do presente. Possibilidades, pelo menos.

Afora o recorrente pessimismo de alguns, que se faz amigo das incompreensões supostamente bem intencionadas de outros, os sentidos de cidadania no Brasil -de ontem e de hoje- não são uma miragem, conversão política ou abstração sociológica.

Foram (e são) experiências na (da) história de milhares de homens e mulheres, entre instituições, símbolos, significados e expectativas. A construção da nossa (há quem insista na falta dela) cidadania nunca foi um defeito de origem, destino colonial manifesto ou passado pós-colonial inconcluso.

Foi -sempre- muito mais do que se diz. É isso que oferece a coletânea ‘Repensando o Brasil do Oitocentos’, organizada por José Murilo de Carvalho e Lúcia das Neves. Não terá coro a ladainha de que se trata de mais um calhamaço acadêmico para convencer aqueles já convencidos especialistas. O tema ajuda, e os mais de 20 autores não perderam a chance.

Com alguns excelentes artigos, a coletânea consegue bom equilíbrio -tarefa nem sempre fácil- entre erudição, informação e reflexão. A origem da publicação já revela a importância e abrangência de projetos envolvendo instituições e pesquisadores de vários Estados.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro apoiaram um conjunto de investigações históricas em torno da temática da cidadania e nação no século 19, o Oitocentos.

Coordenado por um generoso esforço de juntar historiadores com renovados aportes teóricos e metodológicos, resultou numa formidável amostra dos Brasis.

Elitismo e exclusão

Público, periódicos, senhores, teatros, escravos, marinheiros, conservadores, privado, clientes, Parlamento, palcos, monarquistas, senzalas, livros, republicanos, partidos políticos, patrões, raça, liberais, músicas e escravidão são revisitados com lentes poderosas.

Emergem culturas e políticas; personagens, cenários e protagonistas da vida social -urbana e rural- de Brasis, só na aparência distantes de nós num tempo perdido.

Os eixos que organizaram o livro -salvo-conduto para um público leitor mais amplo- se destacam. Do universo das ideias, do cenário dos espaços públicos -também ruas e tabernas-, o leitor é levado aos gabinetes parlamentares e às redações de jornais; e, depois, conduzido às salas de reuniões de sociedades secretas e associações ou salões das apresentações musicais e teatrais, mundos da cultura política oitocentista. Chegará também às senzalas e aos casebres.

Assim vai passear por uma sociedade desigual, fortemente hierarquizada e com escravidão. Elitismo e exclusão sob a lógica senhorial, de intelectuais e de políticos travestidos de donos do poder e das mentes não produziram somente vítimas, mas clientes, dependentes, críticos e rebeldes, letrados ou não. Gente de verdade, e não categorias ou coadjuvantes como na história dos manuais.

Por exemplo, o Estado tem o seu lugar em várias análises, mas nada por demais espaçoso. Isso vale também para a suposta ausência de conflitos e tensões. Um aprendizado da leitura será a percepção de como polarizações são insuficientes para adentrar terrenos movediços, locais silenciosos, espaços interditos onde a cidadania -em sentidos múltiplos de ausências e evocações- se fez presente.

Aqui ou acolá, neste ou naquele capítulo ou autor, seria fácil buscar exemplos. Chamaria a atenção para as abordagens indicativas sobre o papel da imprensa, formas de diálogos com a sociedade envolvente a indicar projetos de nação e povo.

Como salientou o historiador Marco Morel numa obra sobre o tema [‘As Transformações dos Espaços Públicos’, ed. Hucitec], verdadeira ‘explosão da palavra pública’ no Oitocentos.

Silêncios estrondosos de um passado que permanentemente se atualiza no Brasil entre opinião pública, liberdade de imprensa e imaginário político.

Uma dica desnecessária para os leitores atentos.

País multifacetado

Ponto alto igualmente para os capítulos primorosos de destacados especialistas da temática da escravidão e da pós-emancipação. Poderes locais, racialização, expectativas de direitos inscritos na lei e nos costumes, percepções e protestos faziam da cidadania e liberdade alvos em constante movimento.

Um Brasil? Acho que não. Seriam Brasis de fronteiras e identidades multifacetadas.

E outros modos de vê-los se colocam nas leituras possíveis (e desdobramentos) desta coletânea. Interessados em geral, com ofício na história, professores, políticos, estudantes, empresários, trabalhadores, funcionários e gestores públicos sempre vão querer mais deste avanço historiográfico em termos de outros espaços do Oitocentos.

Não só salões, jornais e jornalistas do Rio de Janeiro, gabinetes e disputas parlamentares da corte imperial ou senhores e senzalas do Sudeste. Mas igualmente da especificidade de áreas urbanas escravistas em Porto Alegre [RS] até a natureza de um escravismo tardio no Maranhão.

Passando pela combinação de portugueses com migrantes cearenses na Amazônia e se aproximando de imigrantes europeus que dividiram ferramentas, senzalas e tabernas com escravos, libertos e africanos ainda na década de 1850 em lavouras paulistas.

E alcançar tanto a emancipação no Ceará e no Amazonas bem antes da Lei Áurea (1888) como a mobilização operária abolicionista no Rio de Janeiro através de comícios.

Uma coletânea para quem tem fôlego. Para invadir um ‘longo século’, pensar e repensar. Sem firulas ou desfaçatez, os desafios contemporâneos clamam por isso.

FLÁVIO GOMES é professor de história na Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de ‘Negros e Política (1888-1937)’ (ed. Zahar).’

 

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