Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pesquisadores espanhóis questionam veracidade de foto

Uma das imagens mais famosas da Guerra Civil Espanhola, e talvez a foto mais marcante do fotojornalista Robert Capa, está na berlinda. A fotografia, que mostra o momento em que um homem é mortalmente ferido, pode ter sido encenada, dizem pesquisadores espanhóis.



A imagem foi publicada pela primeira vez pela revista francesa Vu em 1936, e depois pela revista americana Life, tratada como o flagrante da morte de um miliciano das forças republicanas. O local foi identificado como Cerro Muriano, em Córdoba, onde soldados que apoiavam o general Francisco Franco enfrentaram soldados leais à República.


Agora, pesquisadores espanhóis alegam que não só a foto não foi tirada no local indicado por Capa, como o miliciano retratado, muito provavelmente, não foi mortalmente ferido. Foram estudadas a fotografia e novas imagens divulgadas por conta de uma exposição batizada de ‘Isto é Guerra’, agora em Barcelona. Os espanhóis alegam que a imagem foi tirada a 55 quilômetros de distância de onde aconteceram os combates naquele dia – 5 de setembro de 1936. ‘Ficou rapidamente óbvio para nós que, entre as novas fotografias – 34 atribuídas a Capa e seis a sua companheira, Gerda Taro – há quatro que revelam o exato lugar onde Capa fez as imagens’, afirma o cineasta Raul Riebenbauer. O historiador Francisco Moreno mapeou as informações geográficas contidas nas fotos – como o formato das montanhas, a posição de estradas e a localização de duas fazendas – e descobriu que se tratava de uma área ao leste da cidade de Espejo.


Parcial


Segundo o diretor Buzz Hartshorn, o Centro Internacional de Fotografia, fundado pelo irmão de Capa, passou 25 anos tentando atestar a veracidade da imagem. ‘Capa era parcial. Ele acreditava na causa anti-fascista e via a Espanha como um dos últimos lugares onde ainda se podia tomar uma posição’, afirma Hartshorn. Nos estudos sobre a fotografia, diversos aspectos foram postos em dúvida – entre eles, o de que não há sinais de ferimento de bala no homem supostamente atingido.


Até Richard Whelan, biógrafo do fotojornalista, admite ter dúvidas sobre a imagem. ‘Eu lutei com o dilema de como lidar com uma fotografia que se acredita ser genuína mas da qual não se pode ter certeza absoluta de que é um documento verdadeiro’, escreveu ele em seu livro sobre Capa.


O fotojornalista húngaro que cobriu, além da Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra mundial, entre outros conflitos, foi um dos fundadores da agência Magnum. Ele afirmava que, ‘se suas fotografias não estão boas, é você que não está perto o suficiente’. Capa morreu ao pisar em uma mina terrestre quando fotografava no Vietnã, em maio de 1954, aos 40 anos. Com informações de Harold Heckle [Associated Press, 23/7/09].