Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por que Requião começou a atacar a imprensa

A repercussão nas redações e na própria imprensa da primeira parte deste dossiê imediatamente após a sua distribuição (zero hora do dia 5/03/97) assustou o Relator da CPI dos Precatórios. 

A revelação de que o seu mandato está sub judice e contestado no TSE justamente pelas mesmas infrações que a CPI investiga (corrupção, abuso de poder econômico e tráfico de influência) obrigou a nova vestal da moralidade a rever sua estratégia. Até aquele momento, pretendia obrigar a suprema corte eleitoral a inocentá-lo com base na sua truculenta atuação nestas últimas semanas. E, se os magistrados de Brasília ousassem confirmar a decisão do TRE do Paraná cassando o seu mandato, Requião os acusaria de cumplicidade com os réus do Pittagate assumindo-se como o mártir da probidade nacional. 

Agora, a exposição pública dos podres do senador que investiga os podres de governadores e prefeitos altera tudo. Terá que moderar-se, talvez até passar a segundo plano para evitar que os futuros acusados possam argüir a validade de uma CPI regida por quem não tem qualificações morais. 

A grande verdade é que a pressão para que esta CPI não acabe em pizza permitiu a este estranho centauro – metade cavalo e a outra também – escoicear quem ousa enfrentar a sua megalomania (a metáfora do centauro é de Carlos Lacerda quando recebeu um coice de Brizola na Câmara dos Deputados, no Rio). 

Requião apontou o ventilador para espalhar a lama em que chafurda apenas contra os jornalistas independentes que estão chamando a atenção para os seus excessos e para a esdrúxula situação de um réu julgando outros réus. 

Não teve a coragem de atacar jornais como a Gazeta Mercantil (o primeiro que publicou com detalhes a sua vida pregressa na edição de 3 de março), nem o Estado de S.Paulo (que chamou a atenção da opinião pública para o desempenho circense do relator do CPI no editorial do dia 6/3), nem o Jornal da Tarde, que na edição de 10/3 aprofundou substanciosamente o seu "curriculum criminalis"


Por que Requião poupa as Divas do Opinionismo 

O senador-sub judice também não investe contra os opinionistas que na véspera do pleito de 3 de outubro publicaram enfezados cala-a-boca contra o repórter do Jornal da Tarde Rogério Pacheco Jordão, que, em primeiríssima mão, desvendou a trapaça dos papéis públicos. 

Estes opinionistas simplesmente ludibriaram a opinião pública, obstruíram a ação da Justiça e deram alento com os respectivos textos à fundamentação do "jurista" Saulo Ramos para obter na véspera do 1oturno o direito de resposta de Celso Pitta, o que significou para Maluf e seu afilhado estar sozinho durante 13 minutos na TV de São Paulo horas antes da votação. 

Compreende-se por que as divas do opinionismo (que hoje ocupa grande parte dos primeiros cadernos dos principais jornais) estão seduzidas pela "impetuosidade" de Requião. Contam com a retribuição do relator sob a forma de informações quentes para as respectivas colunas. Tráfico de influência típico, do qual nosso jornalismo ainda não se livrou, responsável pela presença em nosso cenário político-jornalístico de figuras comprometidas com o que de pior tivemos no passado. O exemplo que logo ocorre é o de Delfim Netto, mas esteOBSERVATÓRIO vem coletando alguns casos menos folclóricos e mais cabeludos. 

À imprensa cabe acompanhar o caso dos precatórios com todos os seus desdobramentos, coibir os desvios e abusos. Foi ela que o desvendou através de uma investigação e não de uma denúncia de interesses contrariados como no caso de Collor. Estamos presenciando através desta CPI um excepcional desempenho coletivo e sincronizado de todos os poderes e repartições. Um paradigma para o futuro. Aqui não cabem vedetes, especialmente aquelas às quais faltam os atributos essenciais. 


Por que Requião teme convocar os senadores?

A senadora Emília Fernandes (PTB-RS) vem insistindo há duas semanas junto ao senador-sub judice para que a CPI convide pelo menos dez senadores para explicar os procedimentos e a tramitação dos processos de emissão de precatórios que relataram. O presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, aprovou a idéia, mas Requião, o impetuoso, nesta questão mostra uma prudência que, nele, é suspeita. 

Expor alguns colegas sobre os quais já pairam desconfianças significa abrir o flanco e perder simpatias entre os seus pares, o que pode ser fatal, caso o TSE o julgue incapaz de exercer o cargo de Senador da República. 

Gilberto Miranda (PFL-AM), que já andou pelo noticiário quando explodiu o escândalo Sivam, foi o relator justamente dos dois mais vultosos pedidos de emissão de títulos, ambos de São Paulo e que geraram o Pittagate, o escândalo mais nitidamente recortado dentro da CPI. 

A explanação ou depoimento – qualquer que seja a designação do seu relato – de Gilberto Miranda é indispensável para que o caso possa ser compreendido e avaliado em toda a sua extensão. Personagem desta importância, sem desfazer das demais, não pode passar ao largo da CPI nem ficar longe do noticiário sob pena de comprometer a imagem de imparcialidade das investigações. 

Assim como a imprensa põe na berlinda os nomes de jornalistas ou empresas de assessoria citadas, assim também deve uma CPI do Senado ir fundo na sua própria seara. Senão, perde o respeito. 


Qual tem sido o papel deste OBSERVATÓRIO no caso? 

Fomos os primeiros – logo em seguida às primeiras matérias do Jornal da Tarde – a dar importância às denúncias sobre a negociata dos papeis do município de São Paulo e os seus desdobramentos. O repórter que fez as primeiras investigações esteve duas vezes neste OBSERVATÓRIO para revelar como se faz jornalismo investigativo e as incompreensões de que foi vítima desde 28 de setembro passado. 

Sua primeira aparição aqui deu-se em 5/10/96. Antes mesmo que o senador Requião farejasse o que se passava com os precatórios já estávamos numa trincheira que ele veio partilhar (com o estrépito fátuo que o caracteriza) somente dois meses depois. 

A edição de 5 de março deste OBSERVATÓRIO dedicou 132 linhas ao Pittagate e, destas, apenas 19 para questionar a grande imprensa que não conseguiu (até a publicação da Gazeta Mercantil) mostrar à sociedade brasileira o currículo desta figura no mínimo controversa – foi o adjetivo empregado – que tenta empolgar as atenções do pais. 

Foi o bastante para que Requião, montado no seu narcisismo e paranóia, saísse distribuindo aleivosias que contribuem decisivamente para a fama de ser incapaz de ler textos de mais de 10 linhas. 

Este OBSERVATÓRIO (cujos Objetivos estão disponíveis em cada edição) e porque chega apenas àqueles com acesso à Internet, não tem por que opor-se à republicação de suas matérias, desde que corretamente atribuídas e reproduzidas. Se um jornal publica nosso aplauso ou a crítica ao concorrente não é nosso problema. Se nossas avaliações servem às oposições, ao governo, às ONGs ou outros grupos de interesse não é da nossa conta. Nosso compromisso é com a sociedade e a qualidade da informação que lhe é oferecida. 

Porque se trata de um serviço público aberto a todos os leitores, ouvintes e telespectadores, o núcleo de jornalistas responsáveis por este projeto tem todo o interesse em ver multiplicadas as suas matérias. 


Nota final sobre o Observador e o Observado 

É natural que um jornalista com 45 anos de experiência esteja envolvido em projetos de treinamento e formação profissional. Há três anos está ligado ao LABJOR (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, da Unicamp), projeto pioneiro do qual este OBSERVATÓRIO é um dos subprodutos. Desde julho passado participa de um projeto de diagnóstico e reformulação da mais antiga escola de jornalismo do país, da Fundação Cásper Líbero. 

Desde outubro participa do projeto Uniamérica (Universidade das Américas) na área da mídia, num estado, o Paraná, que já criou duas instituições modelares e exemplares, a Universidade do Professor e a Universidade do Meio Ambiente. 

Parte destas atividades são desenvolvidas através do Instituto Universidade-Empresa (Uniemp), com sede em São Paulo. 

A Uniamérica não é virtual, é um projeto on line – como este OBSERVATÓRIO – empolgante, que honrará aqueles que dele participarão. Este Observador, a partir de uma opção política tomada em fins dos anos 40, abriu mão de qualquer pretensão acadêmica, ainda mais como reitor, virtual ou real. 

Estes trabalhos e esta folha de serviços não estão sub judice . O mandato de Roberto Requião está sub judice. Virtual é um senador que comparece ao Senado mas ainda não foi considerado moralmente apto a exercer o seu mandato. Não tem direito ao salário que lhe paga o contribuinte. Se fosse honrado, deveria devolvê-lo.