Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Imprensa brasileira ainda não sabe dar papel central à educação

A edição de segunda-feira, dia 17, do The New York Times traz um anúncio com a lista de 23 prêmios Nobel e uma lista de algumas das maiores estrelas da cidade. É uma carta aberta ao prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, pedindo mais investimento em ensino básico. Todos os signatários, de Woody Allen a Tony Bennett, passando por A.M. Rosenthal, Barbra Streisand e Alan Greespan, têm algo em comum – estudaram em escolas públicas.

A carta é apenas mais um ingrediente do principal debate hoje em Nova York, ocupando diariamente espaço nobre nas páginas e telejornais: a queda de qualidade do ensino público, visível, por exemplo, na superpopulação das salas.

Esse debate me leva necessariamente a uma comparação com a imprensa brasileira, onde o assunto educação ainda está longe de virar questão central, apesar de já notarmos avanços. Essa distância reflete a própria dificuldade da imprensa em se encaixar na nova agenda brasileira. Um agenda que ganha fôlego porque o Brasil saiu da era dos escândalos, da inflação pornográfica, das pequenas, grandes e médias CPIs.

O Brasil está vendo sua cara e encarando suas dificuldades mais profundas, das quais a violência é apenas uma conseqüência e a deseducação misturada à pobreza sua raiz principal.

Nós, jornalistas, estamos, portanto, aprendendo a cobrir um país sem tantas erupções, sem tantas manchetes fáceis e artigos indignados em torno. A imprensa vai ser obrigada a sair um pouco de Brasília, depender menos do poder central e oficial, municipalizar-se, privatizar-se, buscar novos temas, novas fontes. Acabou a era da excepcionalidade. Primeiro, era a ditadura e, depois, os laboratórios da improvisação de Sarney, Collor e Itamar, onde especuladores financeiros, economistas, consultores e jornalistas navegavam tranqüilamente nas águas da crise e das incertezas.

Brasília tomava o espaço e, por isso, a imprensa se mantinha na vanguarda das instituições, conectada com a agenda.

No momento em que não se fala mais do excepcional e não existem vilões, cumpre melhor seu papel quem se conectar ao essencial para o cidadão. Nada mais simbólico do que a educação, hoje o mais vital instrumento de integração social e fortalecimento da democracia, com reflexos diretos no grau de desenvolvimento econômico.

PS – Eles gastam por aluno U$ 500,00 ao mês e estão muito mais insatisfeitos do que nós, que gastamos, quando muito, U$ 30,00.

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[Gilberto Dimenstein, jornalista, de Nova York]