Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Quando a mídia é chamada a ocupar um lugar que não é seu

O movimento estudantil brasileiro pôde se destacar na luta contra a ditadura militar devido à total inépcia das oposições políticas – mui justamente apelidadas de “consentidas” – e ao fato de que as forças sociais estavam fortemente amordaçadas. Acho graça lembrar a anticandidatura (1978) do general Euler Bentes Monteiro. Ela foi proposta pelo MDB-PC, e mesmo pelo PCdoB (jornal Movimento), que o apresentavam como “mais democrata do que eu”, como disse (e eu ouvi de sua boca) o ex-deputado Francisco Pinto. E olhem que a eleição era congressual… Francamente, a oposição “oficial” ao regime militar era algo patético, digno de fazer rir.

Este vazio, que durou até a campanha das diretas, foi preenchido, como sabemos, com maior ou menor brilhantismo, pelo ME. Modificada, embora lentamente, a conjuntura, a partir das greves do ABC (1978), foi ficando cada vez menor a importância do movimento estudantil organizado. Falo isso porque comparo a situação da grande imprensa brasileira nos últimos anos ao papel desempenhado por tendências estudantis como “Liberdade & Luta”, “Viração”, “Refazendo” etc., naquele período negro da nossa história.

É bom lembrar que a Folha de S.Paulo, por exemplo, repercutiu a campanha das “Diretas já” e, poucos anos depois, até a revista Veja, o próprio “Fora Collor”. Ninguém em sã consciência mostra suas garras conservadoras enquanto puder passar por liberal. A posição ultraraivosa adotada hoje pela imprensa não deve ser explicada, como muitas vezes vi fazerem, como derivada do ódio a Lula e ao petismo.

Atitudes civilizadas

Apesar de morar no Piauí, não estou falando do nordeste brasileiro, mas da principal cidade do mais rico e próspero estado do país, governado, diga-se, há mais de uma dezena de anos, pelo principal partido oposicionista, a saber, o PSDB. É de pasmar que, nesta cidade, o PSDB sustente um candidato que carrega uma rejeição de 46% do eleitorado. Mas é bom perguntar não o que isto mostra, mas o que isto não esconde: se é preciso navegar com este contrapeso é porque não há mais outra alternativa, que me desculpe o meu amigo Andrea Matarazzo. E em nível nacional? Será que Aécio reúne condições para não apenas galvanizar as atuais oposições, mas também, e principalmente, balançar a árvore governista onde os adesistas, de todos os matizes, encontram-se encarrapichados, e ir pro pau com o PT da Dilma e do Lula?

Para mim está claro que, caso existissem líderes políticos conservadores com alguma estatura moral, isto é, caso houvesse, nas hostes oposicionistas, alguém capaz de peitar politicamente o Lula, a grande mídia, sem abdicar um milímetro da sua ideologia, teria um comportamento muito mais light e consentâneo com atitudes civilizadas. Ela está sendo obrigada a mostrar uma face que, sem dúvida, preferia esconder.

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[Joca Oeiras é jornalista]