Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por que não responder ao jornalismo fascista

No curso da longa greve dos professores das IFES em 2012 não foram poucas as assembleias pelo país em que muitos companheiros, revoltados com a “imprensa burguesa”, propuseram uma “chuva de cartas e mensagens para as redações a fim de responder aos seus ataques”. Hoje, face ao ataque nojento à memória do historiador marxista Eric Hobsbawm que Veja publicou recentemente, o assunto do momento entre os companheiros de esquerda é: responder ou não ao fascismo de Veja.

Penso que nos dois casos é uma bobagem, simplesmente porque ao fazerem isso estarão implorando legitimidade para si. Pergunte a um jornalista liberal sobre o seu maior sonho e ele lhe responderá: “Leitores, muitos leitores.” E ainda acrescentará esfuziante: “Meu mercado!” Pergunte a um jornalista fascista sobre o seu maior sonho e ele lhe responderá simplesmente: “Leitores de esquerda, todos eles.”

A matriz do pensamento da imprensa burguesa é liberal. O jornalismo, filho dileto dessa imprensa, nasceu liberal e, rapidamente, ao longo da sua curta história, ganhou muitos irmãos (de sangue) fascistas e alguns poucos (bastardos) intelectuais burgueses de esquerda.

Qualquer resposta é quimera

Numa já longínqua orelha do magistral História da Imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré (1966), Janio de Freitas – homem de bem que há décadas encara corajosamente as terríveis contradições da sua profissão, o jornalismo – escrevia assim:

“[…] à medida que vai penetrando na participação política, através do percurso histórico, Nelson Werneck Sodré vai implantando a consciência, tão pouco difundida, da necessidade de lutarmos […] por uma imprensa que fale ao povo sem o trair, e que viva, não dele, mas para ele.”

Podemos admitir que o objetivo de Sodré – formar consciências do papel histórico da imprensa – e o objeto da luta de Freitas – uma imprensa justa – foram marcados por um idealismo (talvez) datado e impotente para mitigar a virulência das palavras recentes e reincidentes do jornalismo fascista a infestar as bancas de jornais. Porém, prefiro pensar que ambos deixam claro para a nossa reflexão que qualquer resposta ao jornalismo fascista num jornal liberal (que pode, a qualquer tempo, tornar-se fascista) é uma quimera. Uma incoerência que busca legitimidade e brilho na fascinação daquilo que combatemos. O próprio fascismo – diria a ensaísta norte-americana Susan Sontag.

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[Ronaldo Rosas Reis é professor da Faculdade de Educação, UFF]