Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Crise dos jornais impressos chega aos países emergentes

Durante anos pensava-se que o crescimento do número de leitores de jornais em economias emergentes, como é o caso dos BRICS e os “Próximos 11”, estava compensando a queda de circulação da imprensa nos países desenvolvidos.

As estatísticas mostram que isso não é mais verdade. Dados do Escritório Internacional de Auditoria de Circulação (IFABC) mostram que essa tendência acabou em 2011. Agora, a circulação de jornais impressos está em queda em quase todas as grandes economias.

Os membros do IFABC em 23 países venderam 123,5 milhões de jornais por mês em 2011, quase 2 milhões a menos do que em 2010, uma queda de 1,6%. Quase todos os países incluídos nas estatísticas reportaram queda, com exceção da Bélgica, do Brasil, dos EUA e da Malásia, sendo que o aumento desta não passou de 0,08%, cerca de 3 mil jornais.

Os países com maior queda de circulação entre 2010 e 2011 foram:

>> Romênia

Três jornais viram sua circulação cair mais de 40%, e outros cinco sofreram uma queda de 20%. Somente um jornal sofreu uma queda de menos de 10%. No total, a circulação caiu 28%.

>> Espanha

O segundo, o terceiro e o quarto maiores jornais sofreram queda de circulação de mais de 10%, enquanto a queda geral foi de 7,8%. O maior jornal do país, o El País, viu sua circulação cair apenas 1,3%.

>> República Tcheca

A circulação total caiu 8,7% a cada ano. A queda atingiu todos os jornais do país e nenhum sofreu uma queda menor que 5%.

A queda na circulação dos jornais espanhóis já era esperada, já que o país está sofrendo com a crise financeira europeia, que provavelmente também impactará a Romênia e a Sérvia.

>> Índia e China

Mas talvez o mais preocupante para o futuro global dos jornais seja o fato de que a China sofreu a quinta maior queda de circulação dentre os países pesquisados. A circulação de jornais no país diminuiu mais que meio milhão entre 2010 e 2011.

É o contrário do que ocorreu nos últimos anos. Entre 2008 e 2009, três dos cinco jornais chineses participantes do IFABC viram sua circulação subir, sendo que os cinco jornais tiveram um crescimento de mais de 33 mil exemplares.

Outra tendência preocupante ocorre na Índia. Entre 2008 e 2011, os jornais indianos tiveram aumento de 3,9 milhões de cópias, ampliando a circulação total do país para 30,5 milhões. No entanto, ao se olhar a circulação de jornais entre 2010 e 2011, vê-se a primeira queda desde 2008. Apesar de ser uma queda de apenas 220 mil cópias, o fato disfarça uma séria volatilidade. O jornal Dainik Bhaskar diminuiu sua circulação pela metade, cortando mais de 1 milhão de cópias. Ao que parece, o crescimento da imprensa indiana está paralisado.

Outros casos:

>> Estados Unidos

O aumento da circulação norte-americana é encorajador, mas não é indicativo de todo o país. O ganho total dos três jornais membros do IFABC foi de 116 mil cópias, 3,2% entre 2010 e 2011, sendo que o New York Times contribuiu com um aumento de 119 mil exemplares. Enquanto isso, a queda de 33 mil cópias do Washington Post cancela completamente o aumento de 30 mil do Wall Street Journal.

Todavia, ao comparar a circulação de 2008 com a de 2011, mesmo o crescimento do New York Times não consegue disfarçar a queda de 57 mil cópias entre esses três anos.

>> Brasil

O Brasil possuiu um quadro ainda mais complexo por causa de sua indústria fragmentada. Existem 73 jornais brasileiros reportando ao IFABC, muitos apenas variações regionais do mesmo jornal, e o veículo com maior circulação não ultrapassa a marca de 300 mil. A circulação total no país cresceu 3,5%.

Entre 2010 e 2011, 44 desses jornais reportaram variadas taxas de aumento de circulação, e o resto registrou variadas taxas de declínio.

É difícil apontar as causas exatas para a queda mundial no consumo de jornais. A causa mais plausível em economias desenvolvidas e em desenvolvimento é o aumento do acesso à internet e do uso de smartphones. Em mercados emergentes, os smartphones estão ampliando o acesso da população à internet. Isso sugere que, internacionalmente, o impacto da tecnologia móvel está acelerando a queda na leitura de jornais impressos.