Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

A guerra na internet e a privacidade do cidadão

Keith Alexander, chefe do recém-criado Cibercomando das Forças Armadas dos EUA, anunciou ao Congresso, na terça-feira, que formou 13 equipes de programadores e de especialistas em computação capazes de realizar uma ofensiva cibernética caso as redes do país sejam atingidas por ataques em larga escala. É a primeira vez que o governo americano admite o desenvolvimento dessas armas.

Alexander falou ao Congresso no mesmo dia em que o chefe do Serviço de Inteligência Nacional, James Clapper, alertou que ataques cibernéticos podem afetar a infraestrutura, a economia e são a mais perigosa ameaça imediata aos EUA – mais grave do que o terrorismo. Alexander foi um dos principais arquitetos da estratégia americana, mas, em geral, sempre se esquivou de questões sobre a capacidade ofensiva dos EUA, embora ele tenha tido uma participação fundamental num dos maiores ataques cibernéticos dos últimos anos, contra as usinas nucleares do Irã.

Clapper disse ao Senado que as agências de espionagem americanas só veem uma “chance remota” de um importante ataque cibernético contra os EUA, mas foi a primeira vez que um funcionário da inteligência não colocou o terrorismo internacional em primeiro lugar no catálogo dos perigos que ameaçam o país.

Mais transparência

Clapper afirmou que é improvável que Rússia e China lancem ataques devastadores no futuro próximo, mas acrescentou que serviços de espionagem estrangeiros já invadiram as redes de computadores das agências do governo americano, de empresas e de companhias privadas. Dois dos ataques mencionados por ele, um em agosto de 2012, contra a companhia petrolífera saudita Aramco, e outro a bancos e bolsas dos EUA, no ano passado, seriam de autoria do Irã.

Alexander falou desses mesmos temas em sua sabatina, afirmando que criou 40 equipes cibernéticas, 13 com uma tarefa ofensiva e 27 encarregadas de treinamento e vigilância. A certa altura, pressionado, ele afirmou que a melhor defesa depende da capacidade de monitorar o tráfego que entra nos EUA por provedores de internet, que podem alertar o governo rapidamente sobre ataques perigosos. Essa vigilância provocará mais debates com os defensores da privacidade, que temem que o governo controle dados enviados por e-mail e por outros canais eletrônicos.

A sabatina sobre esse tipo de ameaças é a única ocasião em que os diretores dos serviços de espionagem expõem ao Congresso as ameaças que atingem os EUA. E Clapper não ocultou o fato de que ele é contra esse ritual anual. Obama prometeu maior transparência ao público, mas Clapper deixou claro que vê poucos benefícios em uma maior abertura de informações.

******

Mark Mazzetti e David Sanger são jornalistas do New York Times