Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

EUA filtram dados de nove empresas de internet do país

No mesmo dia em que o governo americano admitiu ter o acesso a registros telefônicos de milhões de pessoas, o jornal “Washington Post” revelou que a Agência de Segurança Nacional (NSA) e o FBI estão conectados a servidores centrais das nove principais empresas de internet do país, extraindo áudios, vídeos, fotografias, e-mails, documentos e registros de conexão que permitem o rastreamento de movimentações e contatos de uma pessoa ao longo do tempo. Apple, Facebook e Google negaram ter conhecimento da ferramenta.

As empresas de tecnologia, que participariam conscientemente das operações, incluem a maioria dos players globais dominantes do Vale do Silício: além das citadas, Microsoft, Yahoo, PalTalk, AOL, Skype e YouTube forneceriam livre acesso de seus bancos de dados ao governo. Embora tenha participação muito menor, a PalTalk teria enviado tráfego significativo na Primavera Árabe e atualmente durante a guerra civil da Síria.

Criado em 2007, o programa altamente secreto, de codinome Prism, nunca havia sido divulgado. Uma apresentação interna sobre seu funcionamento, destinado a analistas seniores da Agência de Segurança Nacional, descreveu a nova ferramenta como a “colaboradora mais produtiva do presidente Barack Obama”, que citou dados obtidos pela ferramenta em 1.477 relatórios no ano passado. Após a divulgação do Prism, um funcionário do governo afirmou que os americanos não são alvo do rastreamento.

– O programa foi recentemente autorizado pelo Congresso após muito debate. E é usado para proteger nossa nação de uma ampla variedade de ameaças – afirmou, sob condição de anonimato.

Embora o documento obtido pelo jornal americano indique que o programa seja executado com a ajuda das empresas, Apple, Facebook e Google já negaram ter conhecimento do Prism.

“O Google se preocupa profundamente com a segurança dos dados de nossos usuários. Nós revelamos dados para o governo apenas de acordo com a lei, e revisamos todos os pedidos cuidadosamente. De tempos em tempos, alegam que nós criamos um serviço de “porta dos fundos” em nossos sistemas, mas o Google não permite que governo acesse dados particulares do usuário”, afirmou a empresa em comunicado.

A Apple também disse desconhecer a ferramenta, segundo o jornal britânico “Guardian”, que também teve acesso às apresentações secretas para executivos. Em comunicado, o Facebook afirmou que não oferece ao governo o acesso direto aos seus servidores.

“Nós não disponibilizamos a qualquer organização governamental o acesso direto aos servidores do Facebook”, afirmou em nota o diretor de segurança da empresa, Joe Sullivan. “Quando são solicitados dados ou informações sobre indivíduos específicos, examinamos cuidadosamente qualquer pedido e fornecemos informações apenas na medida exigida pela lei.”

A Prism foi instituída em 2007 e desde então ampliada, tendo se tornado a principal ferramenta de trabalho da NSA no monitoramento de atividades terroristas, de acordo com o “Washington Post”. Os analistas dariam prioridade a encontrar indivíduos estrangeiros e no exterior, a partir de palavras-chaves que criam 51% de certeza de que há motivos para suspeita.

Governo admite acesso a registros telefônicos

O funcionamento do programa ao longo de seis anos acontece em meio a um debate sobre os limites de vigilância e privacidade no país. Mesmo no ano passado, quando críticos ao estatuto de inteligência estrangeira defenderam mudanças, os únicos membros do Congresso que conheciam o Prism não revelaram sua existência.

O governo americano admitiu nesta quinta-feira o acesso a registros telefônicos de milhões de pessoas e defendeu a prática como necessária para proteger os cidadãos contra ataques terroristas. A confirmação de um alto funcionário do governo veio depois que o jornal britânico “The Guardian” publicou em seu site uma ordem judicial secreta relacionada a dados de clientes da empresa de telefonia Verizon, acessados pela NSA.

As duas revelações chegam em um momento em que o governo Obama enfrenta fortes críticas por assuntos que afetam a privacidade dos cidadãos, como as práticas de espionagem a repórteres da agência AP e a e-mails de um jornalista da Fox reveladas recentemente.

Este tipo de coleta de dados é permitida pela Lei de Vigilância e Inteligência Externa, do fim da década de 1970, mas teve o escopo consideravelmente ampliado pela chamada Lei Patriótica, aprovada em outubro de 2001 e à qual foram feitos adendos posteriormente. Esta contém uma sessão que permite às autoridades solicitar registros de negócios (como as chamadas realizadas por uma operadora de telefonia) às empresas em investigações de contraterrorismo. Obama solicitou e conseguiu do Congresso a renovação da lei, em 2011.