Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Em SP, manifestantes sem rumo vão parar na frente da Globo

Patrícia Poeta abriu o Jornal Nacional [segunda, 17/6] com o semblante fechado, anunciando na escalada que os manifestantes “ocupam pacificamente” áreas de São Paulo, inclusive a “zona sul”. Entram as primeiras cenas ao vivo, da ponte Octavio Frias de Oliveira, “que liga alguns bairros da zona sul”, segundo um repórter. “Até este momento, o protesto é pacífico.” Mais um pouco e o JN abriu o jogo. Relatou que os manifestantes desceram a Marginal Pinheiros gritando “palavras de ordem contra a TV Globo”. E Poeta leu editorial dizendo que a emissora cobre os protestos “desde o início”, sem nada esconder, e que se manifestar é um “direito do cidadão”.

Foi o ápice de uma cobertura que confundiu câmeras e tuítes, sem parar. Nos trendings topics do Twitter, as hashtags – palavras-chaves que marcam cada assunto– saltavam de minuto em minuto, seguindo a falta de rumo dos manifestantes, que caminhavam por avenidas diversas em São Paulo e surgiam onde nem sequer haviam sido anunciados, em pequenas cidades do interior, no país inteiro. De São Paulo, foco da maior atenção online, destacaram “largo da Batata”, depois “Faria Lima” e “Rebouças”, depois “Palácio”.

Na TV, a falta de direção se repetia ao vivo, com imagens de helicóptero. Canais como Globo News e telejornais como Brasil Urgente e Cidade Alerta saltavam por Minas, Brasília, Rio. Em São Paulo, a caminhada de parte dos manifestantes à marginal Pinheiros foi noticiada por Carlos Tramontina olhando pela janela, no SPTV: “Já podemos ver, estão na Usina de Traição.” Na Record, Marcelo Rezende entrou com o protesto já “na frente da Globo”, dizendo, “espero que não façam nada, tenho amigos lá”.

******

Nelson de Sá é colunista da Folha de S.Paulo