Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tributo à excelência

Os laureados com o Prêmio Maria Moors Cabot de 2013 são o repórter investigativo Mauri König (Gazeta do Povo, Curitiba), Jon Lee Anderson (The New Yorker, EUA), Donna De Cesare (fotógrafa, EUA) e Alejandro Santos Rubino (La Semana, Colômbia). O painel que precedeu a entrega dos prêmios foi moderado por Alberto Ibarguren (da Fundação Knight, premiado em 2004) e teve a participação de Gustavo Gorriti (IDL-Reporteros, Peru, premiado em 1992), Yoani Sanchez (blog “Generación Y”, premiada em 2012) e Alberto Dines (Observatório da Imprensa, premiado em 1970).

Infelizmente, esta noite não dispomos de tempo suficiente para fazer uma avaliação detalhada do impacto que teve o Prêmio Maria Moors Cabot nos últimos 75 anos. Mas a ideia é emocionante e merece ser aprofundada.

Portanto, decidi concentrar minhas breves observações nos brasileiros que receberam o prêmio até o final da década de 1970. Curiosamente, até então quase todos os vencedores eram donos de jornais ou publishers, muitos deles excelentes jornalistas, mas nem todos. Em 1941, por exemplo, a escolha de Paulo Bittencourt, um jornalista corajoso, dono e diretor do Correio da Manhã, foi justa e acertada. Mas a premiação de sua esposa, Sylvia Bittencourt, na mesma ocasião, não foi merecida. [De acordo com o jornalista Fuad Atala, que prepara um livro sobre o Correio da Manhã, Sylvia Bittencourt assinava uma coluna no jornal o pseudônimo de “Majoy”.]

A primeira e verdadeira exceção foi Alceu Amoroso Lima, em 1969. Era um cronista sério, crítico literário, a reserva moral da sociedade brasileira e se opunha com veemência à ditadura militar. Tive o privilégio de segui-lo, em 1970. E em 1974 foi a vez de Fernando Pedreira. Ele era o editor-chefe do jornal O Estado de S.Paulo e foi o terceiro profissional brasileiro a receber a medalha de ouro por sua postura de oposição à ditadura e à censura.

Desde então, só tivemos profissionais brilhantes, como Carlos Castello Branco, Otávio Frias Filho, Clovis Rossi, José Hamilton Ribeiro, Miriam Leitão (a primeira mulher), Carlos Eduardo Lins da Silva, Paulo Sotero e, agora, o primeiro repórter investigativo, Mauri König. Trata-se de um recorde notável que, com certeza, ainda irá melhorar [ver abaixo a lista dos brasileiros premiados].

A tendência inicial a premiar executivos dos jornais não era exclusivamente em relação ao Brasil. Também em outros países a escolha incidiu, em grande parte, numa elite de proprietários e publishers. Nada contra premiar os chefes: eles foram os pioneiros da indústria e alguns foram os fundadores de poderosos conglomerados ou importantes instituições jornalísticas. Mas os profissionais e os supervisores dão prosseguimento a esse legado: melhoram os padrões do ofício, são eles que são perseguidos e presos e, em muitas ocasiões, fuzilados. Fiquei satisfeito de observar uma tendência distinta entre os vencedores norte-americanos, a começar por 1938: a maioria dos prêmios foi concedida a profissionais de Redação, muitos deles especializados na cobertura da América Latina.

O fim da ditadura militar no Brasil realmente começou quando alguns jornais decidiram libertar-se da autocensura. Essa é uma lição que não podemos esquecer: a ditadura durou 21 anos porque as pessoas achavam que os regimes autoritários eram bons para os negócios.

A Constituição brasileira acabou de completar 25 anos e agora enfrentamos novos desafios, principalmente na mídia eletrônica – rádio e televisão –, onde organizações religiosas com ambições políticas despudoradas entram em confronto aberto com o secularismo de nossa legislação.

No Brasil, a grande mídia permanece altamente concentrada e não-competitiva, e a pequena imprensa independente não tem como sobreviver decentemente devido à ausência de incentivos. O resultado final é uma sucessão de lacunas geográficas e uma falta de diversidade – em outras palavras, uma meia democracia.

Terminarei dizendo que o próprio Prêmio Maria Moors Cabot merece um prêmio por tudo o que conseguiu durante seus primeiros 75 anos, tanto em termos de liberdade, como de paz, de cooperação e de excelência em jornalismo. Merecerá certamente muitas outras honrarias e tributos pelo que provavelmente irá conseguir nos próximos 75 anos. Com apenas um pouco de wishful thinking, espero ver vocês todos nessa data.

***

Tuítes de Caio Túlio Costa (‏@caiotulio_costa) durante a primeira sessão do seminário “Press freedom, press standards and democracy in Latin America” (Escola de Jornalismo da Universidade Columbia, 21/10/2013)

>> Hoje tem prêmio Cabot. (@ Columbia University: Graduate School of Journalism) http://4sq.com/1azuWJA  

>> Começa agora na Universidade Columbia (NY) o painel sobre liberdade de imprensa e democracia na América Latina. #Cabot

>> O prof. Eugenio Bucci, da ESPM/USP faz parte do painel sobre liberdade de imprensa e democracia na AL. #Cabot

>> O painel sobre liberdade de imprensa e democracia na AL é parte da cerimonia de entrega do prêmio Maria Moors Cabot, no seu 75o ano. #Cabot

>> Eugenio Bucci na Universidade Columbia: "Comunicação pública não é propaganda". #Cabot

>> Eugenio Bucci: "Tornar meios públicos em meios de propaganda é usurpação. Governo foi feito para governar". #Cabot

>> "Governos não são eleitos para editar a opinião da sociedade." Eugênio Bucci #Cabot

>> Segundo painel do dia em Columbia: Modelo de imprensa livre no Brasil e influência do Estado. #Cabot

>> Paulo Sotero em Columbia: "A censura está de volta no Brasil". Cita Caetano, Gil, Chico: "Eles estão dando a mensagem errada". #Cabot

>> Ouço @lemos_ronaldo em Columbia: ele está preocupado com a inserção de exigência de servidores estrangeiros no Brasil no Marco Civil.

>> Ascanio Seleme (Globo), sobre influência do Estado na mídia: "Há nuvens carregadas sobre o Brasil hoje, mas não vai chover tão cedo". #Cabot

>> Ascanio Selene: No Globo, as receitas de publicidade com anúncios do governo e estatais é 3%. Não é pela publicidade que haverá controle.

>> Ascanio Seleme (Globo): "Eu acredito que as instituições brasileiras são fortes". #Cabot

>> Carlos Eduardo Lins da Silva: "Para brasileiros, a imprensa no Brasil é livre; mas para a Freedom House ela é parcialmente livre". #Cabot

>> Lins da Silva conta o caso da atriz Julaina Paes que conseguiu censurar previamente o José Simão. #Cabot

>> Lins da Silva considera "papel ridículo" a atuação de Caetano, Chico, Roberto Carlos e Gil no caso da censura às biografias. #Cabot.

>> Lins da Silva: "A justiça no Brasil anda numa velocidade inferior à da mais lenta das tartarugas". #Cabot

>> Lins da Silva: "Existe um vácuo jurídico em relação à atuação da imprensa no Brasil desde a revogação da lei de imprensa." #Cabot

>> Alberto Dines: "Eu sou um otimista e acredito que a convergência mínima é inevitável." #Cabot

>> Dines: foi o governo Lula quem resgatou a memória de Hipólito da Costa, primeiro a fazer um jornal no Brasil (mas desde Londres). #Cabot

>> Dines: "Os quatro cês permanecem até hoje no Brasil: controle, censura, concentração e corporativismo." #Cabot

>> Alberto Dines: "Além da lei, nós não temos as regulações". #Cabot

>> Dines: "O problema da censura, do controle, da concentração e do corporativismo não é discutido no Brasil."#Cabot

>> Alberto Dines: "O Brasil é o país do transitório, do efêmero". #Cabot

>> Dines: "a sociedade civil não participa do Conselho de Comunicação (da República) porque a imprensa brasileira não noticiou". #Cabot

***

Os brasileiros premiados

Merval Pereira (O Globo, 2009), José Hamilton Ribeiro (TV Globo, 2006), Miriam Leitão (O Globo, Rede Globo, Rádio CBN, 2005), João Antônio Barros (O Dia, 2003), Clóvis Rossi (Folha de S.Paulo, 2001), Ricardo Arnt (Folha de S.Paulo, 1991), Gilberto Dimenstein (Folha de S.Paulo, 1991), Otavio Frias Filho (Folha de S.Paulo, 1991), Carlos Eduardo Lins da Silva (Folha de S.Paulo, 1991), Roberto Civita (Veja, 1988), Luiz Fernando Levy (Gazeta Mercantil, 1987), Roberto Muller (Gazeta Mercantil, 1987), Paulo Sotero (Gazeta Mercantil, 1987), Carlos Castello Branco (Jornal do Brasil, 1978), Fernando Pedreira (O Estado de S.Paulo, 1974), Alberto Dines (Jornal do Brasil, 1970), Alceu Amoroso Lima (ensaísta e crítico literário, 1969), M.F. Nascimento Brito (Jornal do Brasil, 1967), Roberto Marinho (O Globo, 1957 e 1965), Hernane Tavares de Sá (Visão, 1959), Herbert Moses (ABI, O Globo, 1957), Breno Caldas (Correio do Povo, 1955), Danton Jobim (Diário Carioca, 1954), Carlos Lacerda (Tribuna da Imprensa, 1953), Belarmino Austregésilo de Athayde (Diário da Noite, 1952), Elmano Cardim (Jornal do Commercio, 1951), Orlando Ribeiro Dantas (Diário de Notícias, 1948), Francisco de Assis Chateaubriand (Diários Associados, 1945), Paulo Bittencourt (Correio da Manhã, 1941), Sylvia Bittencourt (Correio da Manhã, 1941).