Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O ‘JNU’ está no ar

Produzir telejornal na internet com atualização diária é muito difícil. Sobretudo um telejornal com estudantes de Jornalismo, muitos deles ainda nos primeiros períodos, numa universidade pública e contando somente com muita vontade e pouquíssimos recursos. Mas, se ainda por cima a proposta for fazer um telejornal universitário com “jornalismo de verdade”, ou seja, cobrindo os eventos importantes não só da instituição, mas da cidade, do estado e, quem sabe, do país, a tarefa então é quase impossível.
Quem já tentou, sabe.

Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), malgrado todas as dificuldades, os alunos estão tentando ultrapassar seus limites todos os dias com muita garra e criatividade. Eles têm todas as justificativas, como tantas outras instituições públicas e privadas brasileiras, para não fazer rigorosamente nada ou, pior, para fazer de conta que estão fazendo algo. No entanto, os estudantes da UFSC resolveram comemorar o final de mais ano letivo com Jornalismo com J maiúsculo. Eles decidiram produzir um telejornal diferente, o JNU, o Jornal Nacional Universitário.

Eles não só estão lutando pelo direito de participar do mundo das notícias de suas universidades. Eles estão exigindo poder interferir nas suas próprias vidas e no seu tempo.

Apesar da juventude e da inexperiência, eles não fizeram feio. Em mais um exercício de “guerrilha tecnológica” e competência jornalística, produziram informações e imagens com qualidade de profissionais.

O importante é que o JNU tornou-se uma realidade e já está disponível para quem queira assistir, em qualquer lugar do mundo (ver aqui).

Além da apuração da notícia in loco, os alunos tiveram a oportunidade de avaliar as emoções e dificuldade para se produzir notícias para um telejornal em rede. Com o apoio do LabTele, o Laboratório de Telejornalismo da UFSC, os estudantes transmitiram o telejornal ao vivo, via internet. Sem erros e com muita adrenalina, como verdadeiros jornalistas. Eles deram um exemplo de competência e profissionalismo para muitos que ainda insistem que lugar de estudante é o de mero figurante – ou que telejornalismo sério não tem lugar na televisão das universidades.

Determinação e parcerias

Esta é uma experiência pioneira que já vem ocorrendo há algum tempo nos laboratórios da UFSC, com resultados muito positivos. A responsabilidade de fazer um noticiário em tempo real é mais uma técnica fundamental para a formação dos futuros jornalistas de televisão ou mesmo de internet. Os alunos estão tendo a oportunidade de desenvolver algumas experiências muito interessantes com essa linguagem televisiva tão importante.

Apesar da precariedade dos recursos técnicos, é de se destacar o profissionalismo precoce assumido pelos estudantes. Eles procuram não errar nunca durante uma transmissão ao vivo. Mesmo que esta transmissão esteja sendo feita para um público tão pequeno, mas sempre tão exigente e interativo como o de um telejornal universitário via internet.

O TJ UFSC desenvolve parcerias com outros cursos de jornalismo para implantar uma rede de telejornais universitários pela internet. Já transmitimos reportagens produzidas pela Universidade Federal do Pampa, campus São Borja (RS), Universidade Positivo de Curitiba, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de Brasília, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade de Santa Cruz e a Associação Educacional Luterana Bom Jesus, de Joinville (SC).

Outra grande inovação desse projeto é a versão acessível para o público de deficientes auditigos, em Língua Brasileira de Sinais (Libras, ver aqui).

E a rede de telejornais universitários está crescendo. Em breve, poderemos sonhar com uma alternativa aos jornais nacionais das emissoras privadas e estatais brasileiras.

Estamos diante de uma luta diária para produzir um telejornal universitário nacional digno do jornalismo brasileiro. Trata-se de uma experiência fundamental e imprescindível, tanto para os alunos como para os professores de telejornalismo.

Estamos diante do desafio de produzir regularmente um Jornal Nacional Universitário com centenas de instituições de ensino superior de todos os recantos do país. Uma alternativa modesta, mas viável para o monopólio de notícias na TV que tantos males tem legado ao nosso país.

Imaginem o JNU daqui a 10 ou 20 ou 30 anos. Um dia, o Jornal Nacional da Rede Globo também não passava de um sonho, de uma promessa. Hoje, estamos diante de novos tempos, novos meios e novos jornalistas.

Foi com muita determinação e a valiosa participação dos nossos parceiros que hoje podemos dizer: “Já está no ar, o JNU, o Jornal Nacional Universitário”.

Mais informações na página do TJ UFSC no Facebook e outros vídeos no canal do Youtube.

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Antonio Brasil é jornalista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina