Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

‘Sempre me considerei jornalista’

Gabriel García Márquez, o escritor colombiano e ganhador do prêmio Nobel de Literatura que por anos trabalhou como jornalista e promoveu a excelência na profissão, morreu nesta quinta-feira na Cidade do México, de acordo com a BBC.

No início desta semana, a família de García Márquez, de 87 anos, disse que sua saúde se encontrava “muito frágil“. O escritor tinha câncer linfático havia uma década, mas sua família decidiu não o submeter a tratamento oncológico por sua idade, segundo o El País. Contudo, ele recebia tratamentos paliativos para mitigar os sintomas.

[“Siempre me he considerado periodista“: Entrevista a Gabriel García Márquez en 1982.]

García Márquez, conhecido carinhosamente como “Gabo”, nasceu em Aracataca, Colômbia, em 6 de março de 1927, segundo seu obituário na BBC. Foi um pioneiro literário considerado um dos grandes mestres do século XX da narrativa em espanhol e um dos principais expoentes do realismo mágico. Afirmava que o surrealismo de sua prosa derivava da realidade latino-americana, observou a BBC.

Escreveu seu primeiro livro aos 23 anos, mas demorou 7 anos para encontrar uma editora para publicá-lo. Ganhou o Prêmio Nobel em 1982 por seu livro “Cem Anos de solidão”, que já vendeu mais de 20 milhões de cópias e foi traduzido para mais de 30 idiomas. O novelista William Kennedy descreveu o livro como o primeiro texto depois do Livro de Gênesis que deveria ser leitura obrigatória para toda a humanidade.

[Clique aqui para ler seu discurso ao receber o prêmio.]

Nos anos cinquenta começou a estudar direito, mas abandonou seus estudos para se dedicar ao jornalismo. Viveu humildemente em Cartagena e Barranquilla trabalhando como repórter em periódicos dessas cidades.

Primeira edição

Em um discurso de 1996 feito na 52° Assembleia Genal da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), García Márquez chamou o jornalismo “de melhor ofício do mundo“:

El periodismo es una pasión insaciable que sólo puede digerirse y humanizarse por su confrontación descarnada con la realidad. Nadie que no la haya padecido puede imaginarse esa servidumbre que se alimenta de las imprevisiones de la vida. Nadie que no lo haya vivido puede concebir siquiera lo que es el pálpito sobrenatural de la noticia, el orgasmo de la primicia, la demolición moral del fracaso. Nadie que no haya nacido para eso y esté dispuesto a vivir sólo para eso podría persistir en un oficio tan incomprensible y voraz, cuya obra se acaba después de cada noticia, como si fuera para siempre, pero que no concede un instante de paz mientras no vuelve a empezar con más ardor que nunca en el minuto siguiente.

En 1994, criou na Colômbia a Fundação Gabriel García Márquez para o Novo Jornalismo Iberoamericano (FNPI) com o propósito de fomentar a ética e as boas práticas na profissão.

Em um especial da FNPI dedicado a Márquez – que conta com lembranças sobre o autor, discursos, citações, fotografias e vídeos – o diretor geral da FNPI Jaime Abello Banfi disse que o “mestre dos mestres” será recordado como “um criador genial e um ser humano cheio de sabedoria, humor e ternura.” Agradeceu seu legado e compromisso com o jornalismo.

No ano passado a FNPI lançou a primeira edição do Prêmio Gabriel García Márquez de Jornalismo para promover a excelência jornalística e os ideais profissionais do reconhecido autor. A segunda edição foi lançada no mês passado.

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Alejandro Martínez, do blog Jornalismo nas Américas