Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Italiano e russo são os primeiros profissionais de imprensa mortos

O fotojornalista italiano Andrea Rocchelli e o intérprete russo Andrey Mironov foram mortos no leste da Ucrânia quando cobriam um conflito entre forças do governo e insurgentes pró-Rússia. Eles estavam em um vilarejo próximo a Sloviansk, na conturbada província de Donetsk, que no sábado [24/5] foi palco de um dos mais intensos confrontos das últimas semanas no país. O clima estava particularmente mais tenso por conta das eleições presidenciais que seriam realizadas no domingo [25/5].

O fotógrafo francês William Roguelon, que viajava com Rocchelli e Mironov, contou à TV russa que o trio, que era acompanhado de um motorista, foi atingido por um morteiro quando tentava se abrigar em uma vala na estrada. Roguelon, que teve ferimentos nas pernas, afirmou que foram disparados entre 40 e 60 morteiros. O fotógrafo conseguiu fugir e foi levado para um hospital no vilarejo.

Direito à informação ameaçado

Mais de 200 jornalistas foram agredidos ou feridos na Ucrânia desde o início do ano, mas este é o primeiro caso de morte de profissionais de imprensa no conflito. “Estamos chocados com a morte destes dois experientes profissionais de mídia. A crise no leste da Ucrânia está se tornando cada vez mais violenta e perigosa para os jornalistas que a cobrem”, declarou a diretora de pesquisa da organização Repórteres Sem Fronteiras, Lucie Morillon. “Pedimos que todos os lados do conflito respeitem o trabalho dos jornalistas, independentemente das políticas editoriais de suas organizações de notícias. É o direito do público à informação que é ameaçado quando um jornalista se torna alvo”.

Rocchelli, que tinha 30 anos, era um dos fundadores do coletivo de fotografia Cesura. Baseado em Milão e em Moscou, ele trabalhava para veículos como o diário francês Le Monde, a revista italiana L’Espresso, a americana Foreign Policy e o jornal russo Novaya Gazeta. Desde 2008, quando fundou o coletivo, Rocchelli fotografou conflitos no Afeganistão, esteve no Quirguistão e no Cáucaso e cobriu a Primavera Árabe na Tunísia e na Líbia.

O italiano estava há algumas semanas na Ucrânia acompanhado por Mironov, que tinha 60 anos e era ativista de direitos humanos – ele chegou a ser preso como dissidente quando a Rússia era parte da União Soviética. Mironov era conhecido por muitos correspondentes ocidentais em Moscou e costumava trabalhar como intérprete e fixer para jornalistas italianos, pois havia aprendido a língua em um campo de trabalho para onde foi enviado por conta de seus pontos de vista políticos.