Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Jornalista da al-Jazeera perde paciência com promotoria

O jornalista australiano Peter Greste, que trabalha para a rede al-Jazeera e enfrenta julgamento no Egito sob acusação de disseminar notícias falsas para prejudicar o governo, perdeu a paciência. Em uma audiência na semana passada – a nona delas –, Greste acusou a promotoria de uma “ineficiência inacreditável”. Os promotores haviam apresentado gravações em aúdio e vídeo e fotografias que estariam armazenadas no celular de “um colega” de Greste. O jornalista se irritou porque as provas não faziam sentido e aparentavam ter sido forjadas.

Greste está detido desde dezembro – sem direito a fiança – juntamente a outros dois colegas jornalistas também da al-Jazeera: o egípcio-canadense Mohamed Fahmy e o egípcio Mohamed Baher. Os três são acusados de ventilar notícias falsas e conspirar com a Irmandade Muçulmana contra o governo egípcio.

Ovelhas e futebol

Na quinta-feira [22/5], o Ministério Público apresentou uma série de gravações e imagens descontextualizadas que alegadamente estavam em poder dos três jornalistas e de mais cinco corréus – estudantes cuja relação com o trio não foi esclarecida.

Os itens apresentados como prova incluem uma gravação da canção “Somebody that I used to know (Alguém que eu costumava conhecer)”, do cantor e compositor australiano Gotye, e uma reportagem da BBC realizada pela correspondente Lyse Doucet.

Greste revoltou-se durante a audiência. Da cela onde ficam os réus – e de onde é proibido manter contato com o público –, ele gritou: “A ineficiência é simplesmente inacreditável. Este celular não é meu. Tudo nele está em árabe. Eu não falo árabe. A integridade de minha prova está sendo corrompida e a rotulagem inadequada de que o telefone me pertence é o exemplo mais óbvio disso”.

Outras imagens mostradas no tribunal incluíam matérias da al-Jazeera com líderes de todos os lados do espectro político do Egito, reportagens sobre os protestos da Irmandade Muçulmana e matérias – de cunho não-político – sobre ovelhas e futebol.

Photoshop

Após a exibição da matéria sobre futebol, Greste chegou a dizer ao juiz: “Estamos sendo acusados de mostrar que o país está em guerra. Esta reportagem demonstra o contrário. Demonstra que não temos pauta definida”.

Foram exibidos também vídeos e gravações de áudio sem conexão com a al-Jazeera, incluindo material da BBC e do Voice of America, serviço oficial de radiodifusão internacional financiado pelos EUA, bem como material de áudio amador de péssima qualidade.

Patrick Kingsley, correspondente do jornal britânicoThe Guardian, chegou a publicar uma mensagem em seu Twitter dizendo que uma das fotos apresentadas no julgamento estava “claramente adulterada pelo Photoshop”.

Cuidados médicos

Aparentemente, o julgamento se aproxima de uma conclusão, embora Fahmy tenha dito a jornalistas durante um recesso que o trio já não tinha esperanças de um fim rápido. Ele também fora informado por um médico na prisão que seu ombro fraturado, que não foi devidamente tratado, exigiria uma operação corretiva [Fahmy alega ter se ferido devido a uma agressão durante sua detenção].

Um quarto jornalista da al-Jazeera preso no Egito, Abdallah Elshamy, encontra-se em estado crítico de saúde. Preso em agosto do ano passado sem qualquer acusação formal, Elshamy está em greve de fome há mais de 100 dias e recentemente foi transferido para a solitária.

Na semana passada, a polícia publicou fotografias de Elshamy segurando um pouco de comida, aparentemente mostrando que ele havia dado fim ao jejum. Em resposta, a família disse que ele estaria sendo coagido a comer, e repetiu o pedido para uma libertação imediata do repórter.