Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A repercussão dos fatos em ‘memes’

Memeé um termo grego que significa imitação. Na internet, o significado de meme refere-se a um fenômeno em que uma pessoa, um vídeo, uma imagem, uma frase, uma ideia, uma música, uma hashtag, um blog etc. alcança muita popularidade entre os usuários. A ideia de meme pode ser resumida por tudo aquilo que é copiado ou imitado e que se espalha com rapidez entre as pessoas. Como a internet tem a capacidade de abranger milhares de pessoas em alguns instantes, os memes de internet são virais. Que invadem as redes sociais geralmente são provenientes dos assuntos que repercutiram na mídia tradicional e ganharam a web com as mais diversas interpretações.

Twitter e Facebook, por exemplo, são mídias sociais em ambientes de convivência colaborativa e imposta pelo uso dos participantes. Trata-se da cultura participativa, permeada pela confiança daqueles que possuem valores de afetividade em comum. Essa cultura participativa é destrinchada nos estudos de Shirky (2010) em A Cultura da Participação – Criatividade e Generosidade No Mundo Conectado, ao colocar milhões de pessoas conectadas, produzindo, compartilhando e consumindo informações, as novas tecnologias e as redes sociais na internet. Criou-se assim um revolucionário recurso, o “excedente cognitivo” a soma de todas as horas que o ser humano gasta quando não está trabalhando, Shirky aponta que antes da internet e do uso em massa de computadores, o ser humano preenchia seu lazer assistindo televisão, sem poder interagir ou modificar o que era transmitido, assim consumindo passivamente tudo que era lhe imposto pelos veículos de comunicação.

É dessa forma que se denomina a soma do tempo, energia e talento livres que, usados colaborativamente, permite que indivíduos antes isolados se unam para grandes realizações. O livro A cultura da participação (SHIRKY, 2010) mostra os meios que temos hoje para fazer a diferença e melhorar o mundo.

Dramaticidade e humor

Esse novo cenário de convivência humana é dado pela polissemia, pois não é preciso muito aparatos tecnológicos para se gerar conteúdos, os smartphones mais modernos são importantes plataformas geradoras para a web e redes sociais. As habilidades cognitivas humanas são implementadas pelas redes sociais na atualidade.

Uma mídia não subjuga a outra; elas convergem e somente se sobrepõem. Nossa própria concepção de inteligência colaborativa onde todos contribuem para construção desse cenário da interatividade humana num ambiente virtual, está sendo definida pelo uso das tecnologias.

A aptidão para o jogo e a capacidade de experimentar novas situações como forma de solucionar problemas, a habilidade de avaliar a fiabilidade e a credibilidade de distintos canais de informação são proposições impostas pelo uso de diversas redes sociais no cotidiano hodierno.

Sobre a cultura de construção participativa que é a web atualmente o autor diz que:

“A antiga visão da rede como um espaço separado, um ciberespaço desvinculado do mundo real, foi um acaso na história. Na época em que a população on-line era pequena, a maioria das pessoas que você conhecia na vida diária não fazia parte dela. Agora com os computadores e telefones cada vez mais computadorizados foram amplamente adotados, toda a noção de ciberespaço está começando a desaparecer. Nossas ferramentas de mídia social não são uma alternativa para a vida real, são parte dela” (SHIRKY, 2011, p.37).

Em sua disseminação pela web, osmemes também seguem aspectos dos critérios de noticiabilidade, pois o internauta os compartilha de acordo com seu interesse pessoal, que permeia a escolha individual diante daquilo com que tem afinidade. A novidade, ou seja, tudo que é mais inédito estimula o ser humano, o curioso desperta interesse imediato. A dramaticidade que está relacionada às emoções geradas pelos memes também constitui o motivo de compartilhamento. Outra caraterística, de um meme é o humor, a maneira irônica que descontrói a ação que o gerou criando diversas possibilidades de (re)construção de outras histórias a partir da original.

“Valor requer gerenciamento”

Para Shirky (2010), o fenômeno do compartilhamento nas redes sociais está diretamente ligado ao valor pessoal que é o tipo de valor que o indivíduo recebe por estar ativo em vez de passivo. Nos tornamos ativos a partir da construção de novas histórias principalmente para satirizar a original – tal processo é a própria criação do meme. Somos passivos quando apenas vemos, lemos e ouvimos as notícias, sem interferimos para compartilhar de modo criativo e inovador. Shirky aponta quatro possibilidades que seriam essenciais no compartilhamento:

“Pessoal: feitos por indivíduos que aparentemente não estão coordenados. Ex [exemplos mencionados por Clay Shirky no livro A Cultura da Participação – Criatividade e Generosidade no Mundo Conectado. Editora Zahar]: ICanHasCheezburgurer.com, site que reúne imagens de animais com frases divertidas e reflexivas do cotidiano. Comum: feito por um grupo de colaboradores. Ex: Meetup.com, uma rede social que reúne grupos de networking em diversas partes do mundo. Público: onde um grupo de colaboradores deseja criar um recurso público. Ex: projeto Apache, desenvolvedores de projetos para a criação de softwares livres em sistema operacional Linux. Cívico: um grupo está tentando transformar a sociedade. Ex: Chadi Rosa, entidade que luta contra a violência nas mulheres na Ásia.”

As possibilidades levantadas por Shirky respondem à questão do porquê do compartilhamento de um meme, pois cada usuário é motivado por razões especificas e peculiares que determinam seu modo de interação em sua rede social.

“Agora que se podem compartilhar vídeos no YouTube, muito mais pessoas os produzem do que jamais produziram quando compartilha-los era mais difícil e a audiência potencial era menor. Como seres humanos tem motivações sociais quanto pessoais […] as motivações sociais podem induzir a muito mais participação do que as motivações pessoais sozinhas. A difusão da mídia social que permite o discurso público levou uma mudança sutil na palavra compartilhamento […] Mas, agora que a mídia social estendeu incrivelmente o alcance e a vida útil do compartilhamento, sua organização passou a ter muitas formas” (SHIRKY, 2011, p.154).

O compartilhamento comum descrito por Shirky (2010) é uma das possibilidades, pois com os hiperlinks são usados para compartilhar uma página, blog, imagem, vídeo e memes em diversas redes sociais como TwittereFacebook.

“Compartilhar pensamentos, expressões e mesmo ações com outros, possivelmente com muitos outros, está se tornando uma oportunidade normal, mas não só para profissionais e especialistas, mas para quem quiser. Essa oportunidade pode funcionar em escalas e durações antes inimagináveis. Ao contrário dos valores pessoal e comum, o valor público requer não só novas oportunidades para antigas motivações; ele requer gerenciamento, o que significa maneiras de desencorajar ou impedir pessoas de lesar o processo ou o produto do grupo” (SHIRKY, 2010, p.157).

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Hélio Ferreira Mendes Júnior é jornalista