Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Em Itaparica, morte do filho ilustre é tema único

Foi um dia de tristeza no Bar do Espanha, no centro da bucólica Itaparica, na ilha homônima em frente a Salvador. Ali costuma bater ponto a maioria dos amigos locais de João Ubaldo Ribeiro.

O dono do bar, Bernardino Fernandes, 82, o Espanha, acabara de abrir o estabelecimento quando recebeu a notícia. Durante todo o dia, velhos amigos do escritor passaram pelo bar e o assunto era apenas a perda do amigo, cliente fiel do estabelecimento, situado a não mais de 100 metros da casa que pertencera ao seu avô e onde costumava passar o mês de janeiro.

“É uma falta grande para Itaparica, para o Brasil e para o mundo”, diz Antônio Joaquim da Silva, o Toinho Sabacu, 72, um dos mais chegados amigos itaparicanos de Ubaldo e personagem constantemente citado nas crônicas do escritor.

Toinho Sabacu mantinha contato constante com o autor, por telefone ou por e-mail. Era ele quem o atualizava sobre os acontecimentos de Itaparica -e, com isso, fornecia matéria-prima para as crônicas de João Ubaldo, sempre cheias de referência à cidade onde nasceu e viveu parte da infância e da adolescência.

Quando o escritor vinha a Itaparica, quase sempre usava apenas bermuda e chinelos, sem camisa. Os dois seguiam para o Mercado Municipal, onde passavam a manhã conversando com os barraqueiros e os pescadores. Mais tarde, passavam no Bar do Espanha para encontrar os amigos.

O prefeito de Itaparica, Raimundo da Hora Filho, decretou luto oficial de três dias pela perda do filho mais ilustre da terra, mas as manifestações de pesar pela morte do escritor se limitaram ao âmbito do Bar do Espanha e do mercado municipal, onde o escritor costumava encontrar seus amigos mais fiéis, homens simples, a maioria feirantes e pescadores.