Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um fenômeno ‘cibermidiático’ chamado Lukas Podolski

Na sociedade do espetáculo, consolidada pelo comando das imagens proporcionado pela mídia, aparecer passa a ser uma meta para o homem. Sendo assim, o ciberespaço surge como um interesse legitimador para a propagação massiva do sistema ideológico, que por sua vez exerce o papel intrínseco de poder e de influência.

Neste processo de espetacularização, o futebol, um dos elementos mais concretos da moderna “indústria do entretenimento” vem provocando mudanças no contexto cultural e consequentemente da sociedade, seja ela online ou off-line. Tais mudanças se concretizaram na Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, colocando em prática o que Pierre Levy (1995) defendia acerca dosnovos meios de comunicação como canal de interação aos grupos humanos, que por sua vez colocavam em comum seu saber e seu imaginário.

Com as plataformas de redes sociais, jogadores e torcedores estiveram mais próximos e numa mesma ambiência digital: o ciberespaço, possibilitando assim o diálogo entre os atores sociais, revelando uma dimensão de convivência e convergência de qualidades humanas, apesar da ausência física dos interlocutores.

O jogador da seleção alemã Lukas Podolski, se torna um bom exemplo. Polaco de nascimento e naturalizado alemão, Podolski se tornou o “queridinho” dos brasileiros a partir do processo de espetacularização, força, sentido e função logo depois que passou a postar selfies e mensagens em português nas suas plataformas de redes sociais.

“Poldi”, que esbanjou simpatia, desde que chegou ao Brasil, derrubou o estereótipo de que os alemães são “frios” e se tornou uma febre na internet. O grande diferencial de Podolski estava no respeito que teve com o povo brasileiro. O atacante, que também joga pelo Arsenal, da Inglaterra, sempre mostrou a preocupação de postar mensagens em português e utilizar hashtags populares dentre os usuários brasileiros que, por sua vez, interagiram com o jogador por meio da ambiência digital.

A festa dos “canarinhos”

É possível observar que há uma mudança na relação entre o torcedor e o futebol a partir do ciberespaço, que possibilita o surgimento de inteligências coletivas e produção intelectual de maneira amplamente compartilhada.

O auge de Podolski nas redes sociais, entretanto, aconteceu, curiosamente, logo após o massacre alemão por 7 a 1 sobre o Brasil. Com as hashtags #ForçaBrasil #LevanteACabeça #BrasilÉTradição #RespeiteASeleção #JogaBonito #Futebol e #BrasilTeAmo, o atacante escreveu: “Respeitem a amarelinha, com sua história e tradição, o mundo do futebol deve muito ao futebol brasileiro, que é e sempre será o país do futebol. A vitória é consequência do trabalho, viemos determinados, todos nós crescemos vendo o Brasil jogar, nossos heróis que nos inspiram são todos daqui.”

Após a postagem ouve um grande envolvimento comunitário, mas o que conquistou de vez o coração dos brasileiros, foi a frase: “Já estou tão acostumado com o #Brasil que já estou até assistindo novela #Noveleiro #CoraçãoVerdeAmarelo #Brasil #poldi #aha.” Tal atitude, fizeram tanto sucesso que resultou numa brincadeira que se tornou um viral, onde internautas e passaram a postar frases de outras atividades que Podolski poderia fazer para ficar ainda mais brasileiro.

Com a grande final, que aconteceu no último dia 13, onde disputavam Alemanha e Argentina, grande parte dos brasileiros resolveu torcer pelo país germânico, que ganhou com gol no segundo tempo da prorrogação. O fato é que os “canarinhos” fizeram a festa como se a seleção alemã e o título do tetracampeonato pertencesse também ao Brasil.

O “torcedor globalizado”

Tal sentimento de pertença e congraçamento se confirma com a ida dos jogadores para casa, o imediatismo e a instantaneidade das redes sociais permitem aos internautas criarem as hastags #FicaPoldi e #VoltaPoldi, bem como, diversos memes, dentre eles acamisa 10 da seleção brasileira com o nome Podolski e uma foto montagem onde o jogador se torna presidente do Brasil pra ficar de vez no país.

Além destas, tantas outras circularam as plataformas de redes sociais e se tornaram virais influenciando o espetáculo abordado por Debord (1960) como a multiplicação de ícones e imagens através dos meios de comunicação de massa definidos por Levy (2010) como universo de informações.

É dentro deste universo, que as plataformas de redes sociais estão formando uma nova geração de admiradores do futebol das mais diversas idades, formando assim, o que Rocco Júnior (2006) define “torcedor globalizado”. O Caso Podolski serve pra mostrar e confirmar, que o ciberespaço pode ambientar a participação popular e massiva praticamente inexistente nas mídias tradicionais, entre as classes e setores da sociedade, que têm interesses distintos e, muitas vezes, antagônicos. Este caminho permite às pessoas atuarem como sujeitos sociais através do ciberespaço, a partir de sua cultura local e vivida, na dimensão do regional, do nacional e do global.

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Rodolpho Raphael de Oliveira Santos é professor, jornalista e especialista em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado