Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Parcialidade midiática

Neste ano, dez candidatos disputam a presidência da República. Entretanto, com a morte de Eduardo Campos, o cidadão médio que assiste aos noticiários políticos nas principais emissoras do país ficou com a impressão de que apenas dois candidatos – Dilma Rousseff e Aécio Neves – ainda estão no pleito para o cargo máximo da nação. Também é importante ressaltar que as coberturas midiáticas sobre as eleições são demasiadamente tendenciosas. Grande parte de nossa imprensa não se intimida em tomar partido em favor deste ou daquele candidato. Já nas redes sociais, apenas Dilma e Aécio tem maior visibilidade. Soma-se a esse quadro o fato de haver uma desigual distribuição de tempo entre os partidos políticos no horário eleitoral gratuito (o que faz com que os candidatos das organizações partidárias menores tenham poucas oportunidades de apresentar suas propostas) e temos um processo eleitoral altamente dicotômico, nos moldes da “democracia” estadunidense.

É fato que a imprensa hegemônica brasileira, especialmente a revista Veja, não esconde sua preferência pela candidatura tucana. A mesma Veja que apresenta em suas capas inúmeros escândalos do Executivo Federal se cala diante de polêmicas que envolvem o nome de Aécio Neves. Já nas redes sociais são lançadas várias campanhas com o claro intuito de desestabilizar o atual governo e preparar uma possível volta dos partidos de direita ao poder. Nesse sentido, o canal TV Revolta (com cerca de três milhões de “curtidas” no Facebook) representa (sob um verniz bem-humorado) o que há de mais retrógrado no pensamento brasileiro.

Por outro lado, seria ingênuo e maniqueísta acreditar que o PT não possui apoio midiático. Publicações como CartaCapital, o jornal digital Brasil 247 e a revista Fórum são utilizados como propagandas explícitas do governo federal. É a “imprensa pelega”, que ao invés de manter uma postura crítica em relação ao Executivo, prefere atrelar-se incondicionalmente ao poder. Se para a mídia hegemônica o Brasil nunca esteve tão mal, para a imprensa pelega as alianças espúrias do atual governo com latifundiários, políticos corruptos e fanáticos religiosos se justificam em nome da “governabilidade”. Nas redes sociais, a militância petista conta com as comunidades “Pedala Direita” e “Dilma Bolada”. Para os “pelegos virtuais”, que tentam a todo custo monopolizar o direito de ser esquerda no Brasil, qualquer indivíduo que apresente uma postura crítica em relação ao Executivo Federal é logo taxado por adjetivos como reacionário, “coxinha” e elitista.

Sendo assim, o cenário político em nosso país caminha para uma perigosa dicotomia entre o conservadorismo tucano, representante das elites e contra políticas sociais, e o pseudoprogressismo petista, mais interessado em se perpetuar no poder do que em promover grandes mudanças estruturais no Estado brasileiro. Grosso modo, podemos inferir que a democracia brasileira pouco evoluiu em relação à época do voto de cabresto. Enquanto outrora o “cabresto” era imposto pelos poderosos coronéis, atualmente ele é tacitamente inculcado pela mídia, por meio dos noticiários políticos e das intenções de voto. Portanto, como bem asseverou Rui Costa Pimenta, o processo eleitoral brasileiro nada mais é do que um “jogo de cartas marcadas”.

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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG