Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

ANJ exalta memória de jornalistas em São Paulo

Pela contribuição que deram, ao longo de suas vidas, ao jornalismo e à defesa da liberdade de expressão no Brasil, os editores Ruy Mesquita, do Grupo Estado, e Roberto Civita, do Grupo Abril, foram nesta terça-feira homenageados em sessão solene do 10.º Congresso Brasileiro de Jornais, realizado em um hotel da zona sul, em São Paulo. Depois de comandar, durante longo tempo, as duas empresas de comunicação, os dois morreram, num intervalo de poucos dias, em maio do ano passado.

Promotora do evento, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ) ofereceu às duas famílias placas comemorativas que foram recebidas, respectivamente, pelos filhos Fernão Lara Mesquita e Roberta Civita. Em nome da ANJ, o vice-presidente de O Globo, João Roberto Marinho, resumiu, no ato de entrega, o sentido da homenagem: “No período da censura, quando suas publicações foram duramente atingidas pelo arbítrio”, enfatizou, “Ruy e Roberto foram líderes por todos nós, se posicionando com firmeza e inteligência contra as proibições”. À frente dos jornais e revistas que comandavam, ambos foram desafiados seguidamente pelos militares, especialmente nos anos de chumbo do regime militar, entre 1964 e 1972.

Marinho destacou que, uma vez foi varrido da história do País o período autoritário, os dois editores mantiveram a cruzada de pé, passando aos leitores e à sociedade a ideia de que a liberdade de imprensa não é apenas um direito de jornais e jornalistas, mas um bem fundamental de todos os cidadãos. “Só as pessoas livremente informadas podem ter uma visão crítica do mundo, fazer suas escolhas e tomar suas decisões”, afirmou.

Protagonismo

Ao agradecer pela homenagem ao seu pai, Fernão Mesquita fez um breve histórico da luta em busca de verdade. Lembrou então que “democracia, liberdade e jornalismo são coisas que nascem e morrem juntas. Estão intrinsecamente ligadas”. O jornalismo, acrescentou, e “a ferramenta que empurra as reformas” e “não deve ser só uma caixa de repercussão e amplificação do que o poder público está fazendo”.

O jornalismo investigativo foi por ele mencionado, em seguida, como uma missão que ganhou corpo na sociedade americana, e que precisa ser retomado com vigor em nossos dias, “Os jornalistas precisam voltar a essa função essencial que é investigar todas as pontas”, afirmou, referindo-se à urgência de se entender e denunciar a corrupção e outros males da sociedade brasileira. Ruy Mesquita e Roberto Civita, prosseguiu, “eram homens que tinham essa noção de seu papel. a obrigação de ter um protagonismo, não ser só a caixa de ampliação de ideias alheias”.

Depois dele, foi a vez de Roberta Civita fazer o seu agradecimento – e ela começou com uma comparação. Retomando o tema central do congresso – ‘Inovação, Ruptura e Avanço’ –, Roberta destacou que seu pai foi “um homem que viveu intensamente os termos deste encontro” e que de forma permanente “defendeu sempre que o principal compromisso da imprensa é com o leitor e com a verdade”.

Ícones

Um dos condutores da mesa, o presidente da ANJ, Luiz Lindenberg Neto – que pouco antes da homenagem foi reempossado para mais dois anos no comando da entidade –, também fez elogios aos dois premiados. “A ANJ sempre procura homenagear ícones do jornalismo. Os dois são belos exemplos, pessoas que batalharam com muita crença no jornalismo”, disse Lindenberg Neto.

Ao lado dele, o presidente do Grupo RBS, Jaime Sirotsky, acrescentou que “a perda do Ruy e do Roberto, em espaço de tempo tão curto, foi um corte na vida de dois jornalistas que tiveram uma presença muito forte, com lições definidas e claras no jornalismo brasileiro”.