Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A Amazon é aliada ou algoz dos editores?

Na última quinta-feira [21/8], a Amazon lançou sua loja virtual de livros físicos no Brasil. A partir de então, os profissionais do livro não têm outro assunto: a chegada da gigante e suas consequências para o mercado. Mas por que editores se preocupam tanto com isso? Afinal, a abertura de um novo canal de vendas deveria ser comemorada. E se esse canal é eficiente para oferecer bons descontos e atrair leitores, um tanto melhor, não?

A realidade é mais complicada. Muitos editores temem que descontos acirrados quebrem livrarias independentes e até tirem concorrentes de peso do mercado, dando à Amazon uma condição próxima do monopólio. Seria então questão de tempo para a empresa começar a exigir condições draconianas. Esse temor não é infundado, uma vez que a gigante norte-americana trava hoje batalhas de negociação com a Hachette nos EUA e com a Bonnier na Alemanha, fazendo uso de seu arsenal monopolista.

É importante, portanto, olhar a questão objetivamente. No último sábado, comparei os preços oferecidos por oito lojas virtuais para os 20 livros mais vendidos do país segundo a lista do boletim de notícias do mercado editorial PublishNews. E não era a Amazon quem oferecia os maiores descontos. Na realidade era o Extra quem praticava os melhores preços para 13 livros da lista, entre eles “A culpa é das estrelas” e “Getúlio — 1945-1954”. O desconto médio oferecido pelo Extra era de 46,19%, enquanto o Ponto Frio, do mesmo grupo, operava com 42,24%. A Amazon, com seu desconto médio de 41,55%, ocupava apenas a terceira posição. A Saraiva vinha logo a seguir, oferecendo 37,37% de desconto médio, seguida por Livraria da Folha, Fnac, Cultura e Submarino.

Pouco espaço

Como os descontos são maiores para best-sellers e menores para livros de catálogo, conclui-se que os descontos oferecidos pela Amazon não estão fora do padrão do que já era praticado pelo mercado brasileiro. É claro que sua chegada joga lenha na fogueira da guerra de preços, que ganhará ritmo acelerado e maior truculência, mas não se pode acusar a Amazon nem de ter começado a guerra, nem de oferecer os maiores descontos por enquanto.

Ainda assim, a defesa de uma lei do preço fixo para o livro ganha força entre editores e livreiros. O problema é que quem pagará a conta do preço fixo é o leitor, que não terá mais descontos. Vale lembrar que a Alemanha tem preço fixo, mas isso não impediu a Amazon de crescer e pressionar os editores.

O mercado de livros deve lembrar que hoje seu maior concorrente são as outras indústrias do entretenimento. Nos últimos dez anos, o PIB brasileiro cresceu 41,82%, e o faturamento das editoras apenas 7,34%, segundo números da Câmara Brasileira do Livro. A indústria do livro, portanto, está perdendo espaço, apesar do crescimento da classe C, do aumento de universidades e da queda do analfabetismo funcional. Nesse cenário, a Amazon está mais para uma aliada do editor do que para seu algoz. Mas tudo pode mudar no futuro, e não seria nem de longe a primeira traição da História por razões mercantilistas.

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Carlo Carrenho é economista, editor e criador do boletim PublishNews