Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Diário ignora relatório da Anistia Internacional sobre tortura

Em artigo assinado pelo editor-executivo Dean Baquet, o New York Times se comprometeu a utilizar o termo “tortura” em reportagens que descrevessem interrogatórios violentos, principalmente em crimes de guerra. Tal postura, no entanto, revelou-se um tanto contraditória quando o jornal se recusou a divulgar um relatório da organização Anistia Internacional que detalhava o fracasso dos EUA e de outras forças internacionais em investigar o assassinato de pelo menos 140 civis no Afeganistão.

O relatório em questão também descrevia abusos cometidos pelas Forças Armadas americanas e outros grupos no Afeganistão, incluindo a segurança afegã, além de graves acusações de tortura a civis afegãos por parte das Forças Especiais dos EUA.

Muitos leitores escreveram para protestar pela ausência de cobertura por parte do Times, afinal outros veículos, como Washington Post, Los Angeles Times e CBS News, divulgaram a notícia. Joseph Kahn, editor da seção internacional do Times, justificou que a pauta não acrescentava muito ao que já havia sido publicado sobre o assunto. “Temos a responsabilidade de cobrir alegações críveis de abusos envolvendo os EUA, mas não temos a obrigação de divulgar um relatório sobre o assunto só porque ele surgiu”, afirmou. “Muito do material parecia requentado de antigos relatórios das Nações Unidas e de outras coberturas, inclusive a nossa”.

De fato, em fevereiro de 2013 o Times cobriu alguns aspectos dos referidos acontecimentos, mencionando que os afegãos que trabalhavam para as Forças de Operações Especiais americanas haviam torturado e matado moradores da província de Wardak. Em março do mesmo ano, o jornalão divulgou queixas relacionadas a abusos por parte das forças norte-americanas e de cidadãos afegãos durante incursões noturnas na mesma região.

Em maio de 2013, sob a manchete “Afegãos dizem que um americano torturou civis“, o Times informou que autoridades afegãs diziam ter provas substanciais do envolvimento americano em torturas. No mesmo mês, saiu mais uma reportagem relatando o aparecimento de corpos de torturados perto de uma base americana no Afeganistão.

A ombudsman do Times, Margaret Sullivan, escreveu sobre o assunto em seu blog. Margaret justificou a postura do jornal, ressaltando que consultou tanto Kahn quanto Dean Baquet sobre a decisão de não publicar o relatório da Anistia Internacional – e reforçou as palavras de Kahn sobre a redundância do assunto. Por fim, foi política e reproduziu a mensagem de um leitor que criticava a postura contraditória do Times: “Dado o compromisso do jornal em intitular a tortura ligada aos EUA como ‘tortura’, esta seria a oportunidade perfeita para mostrar que a nova política do veículo tem um significado real”.