Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Tecnologias ameaçam as novelas

Há mais de sessenta anos temos a TV como o meio de comunicação de massa adotado pelo grande público. Os programas de entretenimento e jornais, antes acompanhados pelo rádio, que até o início dos anos 1950 era o meio mais utilizado, se adequaram à realidade que a nova era lhes impunha.

De lá para cá vimos grandes sucessos decolarem ainda mais na TV. Grandes comunicadores, como Silvio Santos e Fausto Silva, por exemplo, trouxeram seus talentos para a TV obtendo o mesmo êxito de seus programas radiofônicos. Apesar de conquistarem a audiência, os programas de entretenimento, esporte e notícias não foram páreos para a paixão nacional: as novelas.

As novelas, assim como os outros programas, vieram da rádio e de um tímido público fiel que as acompanhava. Alguns autores de radionovelas se adequaram para a carreira na TV, em destaque a criativa Janete Clair. Janete escreveu várias estórias que comoveram e moveram multidões para a rádio e posteriormente para a televisão (Clair foi responsável pela autoria de dez das quinze primeiras novelas do horário nobre da Rede Globo).

Não há como falar das telenovelas brasileiras sem citar o poder que elas possuem na programação de qualquer emissora. Atualmente, as novelas principais são a maior audiência diária de dois dos principais canais do Brasil (Sistema Brasileiro de Televisão, SBT, com Chiquititas adaptada por Íris Abravanel; e Rede Globo com Império, escrita por Aguinaldo Silva) e foi por anos a maior da Rede Record. Mesmo com todas as novas mídias, as novelas continuam sendo o maior atrativo da TV, rendendo comentários e trazendo influências a elas. As novelas e a TV aberta em geral devem ter a visão de compilação com as mídias e não de ameaça.

Qualidade e sensibilidade

Nos últimos anos acompanhamos a integração das novas tecnologias (telefone celular, computadores, TV’s a cabo, videogame e outros meios de entretenimento) na vida de um número maior de pessoas e reduzindo assim, seu interesse nestas emissoras que fazem parte de um grupo chamado TV aberta. Com maiores possibilidades de lazer, as novelas estão perdendo seu espaço no tempo dessa maior população com nova realidade?

Assistir às novelas soa para muitos como algo ultrapassado, quando você possui a liberdade de ver o que você quiser em qualquer horário. Mas como algo pode estar tão fora de moda se as principais redes sociais têm como tema principal um dos personagens de uma novela durante sua exibição? Estranho, mas não é complicado de entender. Dez em cada dez internautas contêm um aparelho de televisão em seu domicílio e, como diz o pesquisador em teledramaturgia brasileira Nilson Xavier, “o telespectador parou de acompanhar as novelas para opinar e fazer-se parte integrante delas através das redes sociais”.

Com tudo isso, obviamente existe uma maior preocupação em audiência na TV aberta, em queda há dez anos, mas o caminho para essa resolução parece ser a qualidade, poder de persuasão e parar de ver as novas mídias como rivais. Acostumar o novo público a ver novelas não é um tarefa das mais fáceis, mas não é impossível quando se tem criatividade e a forma adequada de transmitir o produto. Vez ou outra, quando o produto é acertado, lidamos com grandes fenômenos novelísticos e midiáticos – vide Avenida Brasil (2012) de João Emanuel Carneiro, e Cheias de Charme (2012), de Isabel de Oliveira e Filipe Miguez. Quando existem qualidade e sensibilidade de saber quem é o público, o mesmo reconhece e lhe dá a recompensa: o sucesso na TV e a contribuição para a interação das mídias com ela.

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Patryck Deimon Rêgo Reis é estudante de Jornalismo