Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Daniela Nogueira

Desde a última sexta-feira, 12/9, o acesso ao O POVO Digital é exclusivo para assinantes. Antes, qualquer leitor internauta podia ler o jornal, em sua versão digital, na internet, ‘folheando’ as páginas virtualmente, de forma gratuita. A partir da semana passada, só os assinantes do jornal impresso têm direito a esse acesso. Com a mudança, O POVO criou novos pacotes de assinatura que incluem a leitura da modalidade digital. Assim, se o leitor não tiver interesse em assinar o jornal impresso, pode optar por ter apenas a leitura no portal.

É válido ressaltar que os textos do portal (em HTML) continuam liberados para leitura de qualquer internauta, assinante ou não.

A leitura passa a ser restrita na versão digital do jornal (aquela em que se ‘folheia’ virtualmente a edição).

De acordo com o diretor de Negócios Digitais e Mercado Leitor do O POVO, Victor Chidid, a iniciativa segue uma tendência mundial. “O nosso conceito é de que a gente vende conteúdo. O nosso produto é o conteúdo. O digital proporciona uma outra experiência de leitura, e isso custa dinheiro para a gente. É um custo embutido que não estava sendo repassado”, comenta ele.

Novas assinaturas

Em setembro do ano passado, O POVO passou a pedir um cadastro do leitor internauta como permissão para leitura da versão digital. Um ano depois, passa a cobrar. “O POVO não está fazendo nada diferente do que os outros jornais fazem. Para o assinante, não muda nada. Nesses dias, não recebemos nem um cancelamento de assinatura por conta disso nem mudança do impresso para o digital. Mas tivemos novas assinaturas para a versão digital”, acrescenta Victor Chidid. No Ceará, o jornal Diário do Nordeste já vem cobrando pela edição digital e também restringe a leitura a assinantes.

No O Estado, a leitura é liberada.

Poucos dias antes de a mudança entrar em vigor, leitores reclamaram, alegando que já tinham o acesso há algum tempo e não estavam dispostos a desembolsar para continuar tendo isso. Na verdade, os leitores se acostumaram à informação gratuita e alguns deles demonstram certa resistência em pagar por ela. Por outro lado, o jornal justifica que há um custo nessa produção digital, similar à impressa, e quer obter uma nova fonte de renda, oriunda do material disponibilizado na internet.

Paywall

Vale ressaltar que a leitura de matérias no portal continua liberada. Mas não é o que faz grande parte dos jornais Brasil adentro e mundo afora. O The New York Times, em 2011, anunciou que passaria a limitar a quantidade de matérias a que um leitor teria direito, por mês. Um ano depois, a brasileira Folha de S.Paulo seguiu a tendência, ao também estabelecer um número máximo de textos a serem lidos por internauta. A partir desse limite, cada texto seria cobrado. É a estratégia do “paywall”, o muro de cobrança. O conhecido Washington Post fez o mesmo. E assim têm feito outras publicações no País.

O POVO não está limitando o acesso por texto na versão HTML. Pelo menos por enquanto, nada sobre isso foi anunciado.

De um modo geral, os jornais enfrentam desafios constantes, ao deparar com anunciantes investindo suas ideias – e seu dinheiro – em outros tipos de mídia. É uma forma de captar anunciante também em outras plataformas e, assim, driblar a queda com faturamento em publicidade. É um novo modelo de negócio, já muito praticado nos Estados Unidos e na Europa, que deve gerar mais renda em mídias digitais.

Diante de tanta seleção na forma de divulgação do produto, cabe um questionamento: o que muda no jornalismo que é praticado? Com o investimento no digital e alegada valorização do material que é distribuído no online, haverá alguma transformação? Como os recursos audiovisuais (como fotogalerias, infográficos interativos e vídeos, por exemplo) serão publicizados de forma mais atraente para o leitor que se informa de maneira digital?

Não é apenas reproduzindo o impresso no digital que reinventamos o jornalismo. Uma nova mídia requer novos elementos, novos conhecimentos e, sobretudo, mais investimento.

******

Daniela Nogueira é ombudsman do jornalO Povo