Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Pesquisa mostra repressão sofrida por correspondentes estrangeiros

Jornalistas estrangeiros que atuam na China estão encontrando cada vez mais dificuldades para realizar seu trabalho por causa da repressão do governo local. Os artifícios são muitos: autoridades proíbem entrevistas, impedem que os profissionais viajem para determinadas áreas do país, negam a emissão de novos vistos de trabalho e bloqueiam o acesso a sites de jornais internacionais, de acordo com um relatório divulgado na quinta-feira [7/9] pelo Clube de Correspondentes Estrangeiros na China.

O relatório, produzido com base em uma pesquisa com os 243 membros da organização, mostra a postura agressiva adotada pelo Partido Comunista contra a imprensa internacional e os jornalistas que desafiam os avisos do governo para se manter longe de “assuntos sensíveis”, como o enriquecimento de familiares dos líderes chineses.

Entre os jornalistas entrevistados, 99% disseram que as condições de apuração no país falharam em atender os padrões internacionais e 80% afirmaram que as condições pioraram ou continuam iguais.

Segundo o relatório, o assédio a jornalistas estrangeiros por membros da segurança pública aumentou consideravelmente, com dois terços dos entrevistados dizendo que sofreram interferência ou violência física ao reportar histórias. No início do ano, diversos repórteres fotográficos e membros de equipes de televisão ficaram feridos ou tiveram os seus equipamentos quebrados quando tentavam cobrir o julgamento do ativista de direitos humanos Xu Zhiyong, em Pequim.

Estagiários pressionados para atuar como espiões

Em alguns casos, a polícia chegou a intimidar os jornalistas em suas casas e escritórios. Nas semanas anteriores ao 25º aniversário dos protestos da Praça da Paz Celestial, alguns profissionais foram intimados a comparecer ao Departamento de Segurança Pública de Pequim e avisados a não participar da cobertura do evento.

Jornalistas chineses que trabalham para órgãos de notícias estrangeiros também sofrem represálias. Metade dos entrevistados afirmou que seus colegas chineses já sofreram algum tipo de intimidação por parte do governo. Em certos casos, membros da agência de segurança nacional chegaram a pressionar estagiários para que atuassem como espiões – caso se recusassem, eram forçados a pedir demissão.

Veículos de notícias como o New York Times e a Bloomberg News, que reportaram, nos últimos anos, sobre o enriquecimento de parentes de membros do governo, passaram a ter seus pedidos para visto de trabalho negados. Alguns sites chegaram a ser bloqueados na China.

O governo chinês não fez comentários sobre os problemas levantados no relatório, mas no passado já havia alertado o Clube de Correspondentes Estrangeiros da China para não tornar público os casos de intimidação e repressão sofridos por seus membros.