Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Daniela Nogueira

Checar se a foto se refere exatamente a quem é mencionado no texto é tarefa básica do jornalista. Faz parte do rol de ações que inclui apurar e verificar para, só então, tornar o fato público. Isso contempla texto e imagem. Fazer confusão com fotos no jornalismo é sempre constrangedor. E O POVO, mais uma vez, escorregou nas fotos.

Na semana que passou, foi publicada, no perfil do O POVO no Facebook, uma matéria sobre o deputado estadual Feliciano Filho (PEN), de São Paulo. Segundo a notícia, o político (conhecido defensor da causa animal) era acusado de maus-tratos contra cachorros em um abrigo, além de ter usado área rural e área de preservação permanente para a atividade de um canil. De acordo com o texto, o Ministério Público de São Paulo ajuizara, havia uma semana, ação civil pública contra o deputado por danos ambientais e improbidade administrativa.

Essas eram, basicamente, as informações da notícia. No Facebook do O POVO, junto ao link para acesso à notícia, havia: “Saiba detalhes da ação civil pública contra o deputado estadual Feliciano Filho (PEN)”. Até aí, tudo bem.

Foto errada

O problema viria logo em seguida – a foto publicada junto com a chamada para a matéria não era do deputado estadual Feliciano Filho. Era do deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC). Em pouco tempo, o equívoco foi parar na página do perfil de Marco Feliciano no Facebook – que tem mais de 1,5 milhão de curtidas. Com direito a puxão de orelha irônico: “Pessoal olha o nível dos jornalistas de hoje. Um jornal no Ceará expõe uma matéria de acusação contra um Deputado Estadual de São Paulo que se chama Feliciano e colocam a foto do Pastor Marco Feliciano.” (sic)

Percebido o erro, o post foi apagado do O POVO e, logo em seguida, foi publicada uma Nota de Esclarecimento no Facebook. “Esclarecemos que na noite da última quarta-feira, 8/10, o perfil do O POVO Online no Facebook publicou reportagem sobre acusações contra o deputado estadual Feliciano Filho (PEN). Na postagem, equivocadamente foi utilizada a imagem do deputado federal Marco Feliciano (PSC). Após 28 minutos, logo que foi percebido o erro, retiramos a publicação da rede social. Pedimos desculpas ao deputado federal Marco Feliciano e aos nossos leitores pelo erro. Redação O POVO Online.”

O que diz a Redação

Ao comentar o caso, a jornalista Paula Lima, editora-adjunta do O POVO online, explicou: “A equipe de mídias digitais do O POVO Online errou ao usar, no Facebook, a foto do Pastor Marco Feliciano para ilustrar o post da matéria que citava o deputado estadual de São Paulo, Feliciano Filho. Ao perceber o erro, o post foi retirado e foi publicado, na página do O POVO Online, um pedido de desculpas ao Pastor Marco Feliciano e aos leitores.”

Desatenção

Constatado o erro, O POVO fez o que tinha de fazer. Assumiu o equívoco e pediu desculpas. (O post sobre a notícia também foi excluído da página do Pastor Marco Feliciano.) No começo do ano, em fevereiro, um erro similar esteve na edição impressa. Ao anunciar a morte do sociólogo jamaicano Stuart Hall, O POVO publicou a foto de um homônimo – um apresentador de TV britânico. O fato também surpreendeu os leitores. Como explicar a desatenção em ações que são tão corriqueiras no cotidiano jornalístico?

Seja no ambiente virtual, seja no meio impresso, as imagens (fotos, infográficos, ilustrações etc) costumam prender mais a atenção do leitor. Atraem pela leitura visual que estimulam. Por isso, muito comumente nos sites de redes sociais, os leitores internautas se prendem à chamada da matéria e à foto. Há muitos casos em que os leitores não clicam para ler a notícia. Consomem a informação apenas pelo que leem no casamento entre chamada e foto. Percebe-se isso pelos comentários nas matérias, que, muitas vezes, não são lidas.

É aí quando percebemos, mais claramente, a importância de reforçarmos a atenção e o zelo no cuidado com o manuseio das imagens. Reparar um erro depois nem sempre se resume à publicação de uma retificação. Pode ter consequências mais graves, colocando, inclusive, “o nível dos jornalistas” em xeque.

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Daniela Nogueiraé ombudsman do jornalO Povo