Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Agressão cede lugar ao tédio no debate da Record

Sob controle, medindo os adjetivos, Dilma Rousseff e Aécio Neves fizeram um programa bem menos agressivo, no terceiro debate do segundo turno, na Record.

Os erros correram mais por conta da própria rede de televisão, como na iluminação que tornou Dilma muito pálida ao longo do primeiro e longo bloco. No segundo, Aécio foi mais afetado.

Também foi incompreensível escalar dois apresentadores para ações burocráticas como cortar as falas dos candidatos ou pedir silêncio à plateia.

Sem perguntas de jornalistas, na verdade, o formato dos debates neste segundo turno se resume a uma conversa cada vez mais roteirizada -tanto na agressão de antes como no controle de agora- entre a petista e o tucano.

Em relação ao debate no SBT, desta vez evitaram-se obviamente as agressões verbais, mas repetiram-se as formulações continuamente, quase em eco do que se ouve também no horário eleitoral.

Programas ciclotímicos

Dilma se apresentou mais preparada em vários temas, como a Petrobras, mas travou o discurso em algumas passagens e gaguejou em quase todas as suas intervenções.

Aécio evitou ao máximo o sorriso sarcástico exibido nos debates anteriores, mas escorregou pontualmente na arrogância e até, como Dilma, nas palavras -como ao dizer que “propõe uma proposta”.

Propostas e números foram amontoados por ambos os candidatos até o fim, evidenciando o esforço para não falar mais da irmã ou do irmão, do “alcoolizado” ou da “leviana”, palavras agora evitadas, mas também afundando a conversa no tédio.

Aliás, propostas, números e tecnicalidades que não se traduziram em aprofundamento dos temas, mantidas na superficialidade das frases feitas publicitárias.

Ficou claro que duas ou três perguntas de jornalistas ajudariam a evitar não só programas tão ciclotímicos como os do SBT e da Record mas sobretudo a tirar o debate eleitoral do roteiro dos marqueteiros.

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Nelson de Sá, da Folha de S.Paulo