Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Doc sobre Snowden é teste para apoiadores de Obama

O documentário Citizenfour, sobre Edward Snowden, mostra por que um funcionário terceirizado da Agência de Segurança Nacional dos EUA decidiu deixar para trás sua carreira e sua vida no Havaí para revelar ao mundo a existência de um enorme programa de vigilância eletrônica do governo americano. Logo no início, Snowden explica suas razões: ao ver que a administração de Barack Obama expandia a vigilância iniciada no governo Bush e discordar do crescente uso de ataques com drones e do monitoramento invasivo de cidadãos em nome da guerra contra o terror, o ex-técnico de TI sentiu-se na obrigação de agir.

O filme foi feito pela documentarista Laura Poitras, que teve participação importantíssima no vazamento de informações de Snowden – foi ela que fez a ponte com o jornalista Glenn Greenwald, então no jornal britânico The Guardian, o que deu início à publicação das revelações sobre os controversos procedimentos de vigilância do governo americano. É de se esperar, portanto, que Citizenfour – o título refere-se ao codinome usado por Snowden quando ele começou a se comunicar com Laura – seja pró-Snowden e crítico a Obama.

Doadores de campanha

O curioso é que algumas das empresas por trás do documentário são dirigidas por alguns dos mais fortes apoiadores políticos do presidente em Hollywood. Entre eles estão Harvey Weinstein, copresidente da Weinstein Company; Jeff Skoll, fundador da Participant Media; e Richard Plepler, executivo-chefe da HBO, todos doadores das campanhas políticas de Obama.

Um porta-voz da HBO afirmou que Plepler ainda não assistiu ao filme – Sheila Nevins, principal executiva de documentários da empresa, é produtora-executiva de Citizenfour. Procurado pelo New York Times, Skoll não se manifestou. Uma porta-voz da Participant Media afirmou que ele não comentaria se existe alguma preocupação com relação ao ponto de vista sobre Obama apresentado no documentário.

Jason Janego e Tom Quinn, presidentes da Radius-TWC, uma das divisões da Weinstein Company, afirmaram que Harvey Weinstein e seu irmão, Bob, não tiveram papel decisivo na decisão de distribuir o longa. Quinn, que foi até Berlim, onde mora Laura, quando o documentário ainda não estava pronto, para conversar com ela sobre a distribuição, diz que só viu o filme no fim do processo de produção e que teve autonomia para adquirir os direitos. Em um email ao New York Times, Harvey Weinstein afirmou: “Este é o show do Tom [Quinn] e do Jason [Janego]. Eles têm autonomia, e a decisão foi toda deles”.

Para Janego, a aproximação de Laura Poitras com o cinéma vérité cria uma zona de conforto para os dois lados: aqueles que apoiam as ações de Snowden e aqueles que o consideram um criminoso. “Você é deixado a formar sua própria opinião”, resume ele. “O filme é certamente sobre o perigo da vigilância da NSA, mas também é sobre coragem”, completa Laura.

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